iFood Pago quer chegar a R$ 1 bilhão em carteira de crédito até 2029 (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Repórter de Invest
Publicado em 20 de junho de 2024 às 10h00.
Última atualização em 21 de junho de 2024 às 12h18.
Depois de dois anos de estruturação, o iFood está lançando seu banco digital para restaurantes, batizado de “iFood Pago”. O novo banco da plataforma de delivery é prioridade dentro da empresa e já começa com 140 mil contas ativas – 41% do total de estabelecimentos cadastrados na base do aplicativo – e uma carteira de crédito sob gestão de R$ 600 milhões.
A meta é ambiciosa: dobrar o tamanho do iFood com a chegada da fintech e alcançar, dentro do iFood Pago, uma carteira de crédito de R$ 1 bilhão. Tudo em um prazo de cinco anos.
“Nossa visão é que esta frente [bancária] pode ser tão grande quanto o IFood: podemos dobrar o tamanho da empresa. O foco é acelerar e crescer rápido”, afirma Bruno Henriques, CEO do iFood Pago, em entrevista à EXAME.
A jornada financeira do iFood começou há dois anos com a concessão de crédito, e evoluiu para pagamentos e conta digital. “Hoje o restaurante parceiro recebe os pagamentos na conta digital e lá já recebe a oferta de crédito”, diz. Parte da estratégia conta ainda com a aquisição da Zoop, empresa de pagamentos investida desde 2017 pela plataforma, e que agora será integrada à sob a nova marca do iFood Pago.
E por que o restaurante optaria pelo iFood Pago ao invés de um banco tradicional ou outra fintech? Para Henriques, a resposta passa pela base de dados da companhia, que permite um conhecimento mais profundo do cliente do que a pontuação no Serasa.
“Quem dá crédito para restaurante? É muito difícil. Ou você é um McDonald’s, algo estruturado, ou é aquele mais perto da sua casa, algo pequeno”, defende o CEO. “O banco ou oferece uma taxa muito alta ou não quer emprestar porque não sabe se o negócio vai durar até o dia seguinte. Para o iFood é diferente: nós conhecemos o restaurante.”
A plataforma processa 96 milhões de pedidos por mês, e tem 340 mil restaurantes parceiros, que atendem 50 milhões de clientes. A empresa tem em sua base as métricas de vendas e consegue estimar também a fidelidade dos clientes o que, segundo Henriques, é uma métrica mais relevante que o endividamento do negócio. “O dono do restaurante pode estar negativado, mas vai continuar recebendo nosso crédito porque sabemos que ele vai performar.”
Henriques é adepto da teoria de que todas as companhias irão se tornar, em maior ou menor grau, uma fintech. “O iFood é o exemplo perfeito disso porque os grandes bancos têm dificuldade de entrar em ecossistemas. O nosso envolve clientes e pequenos estabelecimentos: conseguimos oferecer produtos mais competitivos que os bancos por conhecer essa cadeia.”O novo CEO do iFood Pago está na empresa há cinco anos, foi vice-presidente da área de crescimento e também responsável por projetos de inteligência artificial (IA). Henriques conta que uma das grandes inspirações para a área bancária do iFood foi o Mercado Pago, banco digital do Mercado Livre, que tem sido um dos principais impulsionadores de receita da marca-mãe.
“Eles fazem isso muito bem, mas acho que o iFood Pago tem uma vantagem. Ao comprar no Mercado Livre, você pode não saber de quem está comprando. O restaurante não: você senta para comer lá, tem uma relação online e offline.”.
A atuação fora das plataformas é, inclusive, um dos alvos do iFood Pago para a estratégia de crescimento. A empresa investiu na própria maquininha de cartões integrada ao delivery da plataforma que traz opções de gestão, como a consolidação de recebíveis. “É como dar aos donos de restaurante um ‘diretor financeiro’. Nosso papel é trazer controle financeiro e produtividade.”
O objetivo é que a maquininha – apelidada internamente de ‘maquinona’ – seja também uma ferramenta de gerenciamento de relacionamento com o cliente (CRM, na sigla em inglês), potencializando as iniciativas de marketing.
Com inteligência artificial (IA), o iFood consegue mapear as preferências e rotinas dos clientes e entregar dados estruturados para os restaurantes. A ideia é, inclusive, sugerir ações promocionais para que eles conquistem os clientes – especialmente os que têm um ‘match’ maior com o negócio. Um exemplo são aqueles que já pedem com frequência no delivery da plataforma, mas ainda não visitaram o estabelecimento.
A expectativa é ter de 20 a 30 mil maquininhas operando ainda este ano. Na fase de testes, os restaurantes aumentaram suas vendas em 7%, segundo o iFood. “Não damos só um relatório. É uma demanda de longa data poder se comunicar com os clientes, ter uma ferramenta de gestão mesmo.”
Para os clientes, a empresa vai continuar a oferecer o vale refeição próprio, o iFood Benefícios. A tese é que a frente bancária seja um catalisador para o próprio iFood, mantendo um ciclo virtuoso de crescimento que, na visão do CEO, tem um alto potencial de crescimento. “O Brasil tem 1 milhão de restaurantes, nós temos 340 mil [na base]. É um mercado gigantesco, e estamos criando um ecossistema dentro dele que se retroalimenta.”