Sede do Banco Central Europeu em Frankfurt, Alemanha (Daniel Roland/AFP/Exame)
O Banco Central Europeu (BCE) vai decidir nesta quinta-feira, 21, sobre o nível dos juros na Zona do Euro.
Esse seria a primeira alta dos juros por parte do Banco Central Europeu desde julho de 2011, abandonando o território negativo pela primeira vez desde 2014.
O mercado está precificando uma alta de 0,25 ponto percentual, elevando a taxa de referência do BCE, a Deposit Facility, que atualmente está negativa, em -0,50% ao ano.
Entretanto, alguns analistas já falam abertamente de uma alta ainda maior, de 0,50 ponto percentual. Uma elevação dos juros dessa magnitude não ocorre na Zona do Euro desde 2000.
A inflação recorde na Europa, que está beirando os 9% ao ano - 8,6% em junho - está pressionando a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, e os membros do Conselho dos Governadores a adotarem uma política monetária mais restritiva.
O BCE tem como objetivo manter a taxa de inflação por volta de 2% ao ano na média tendencial.
O Banco Central Europeu já deixou claro que o Conselho vai atuar sob o signo da “gradualidade” da normalização da política monetária, que em tempos de elevada incerteza nos mercado recomenda uma primeira alta dos juros de 0,25% seguida de outra da mesma magnitude em setembro.
Todavia, a própria Lagarde deixou claro em discursos recentes que a "gradualidade" poderia se tornar inadequada para o momento.
Por isso, a instituição monetária central europeia poderá também aplicar a "opcionalidade", ou seja, manter abertas todas as opções permitindo que a política monetária "reaja prontamente com base em novos dados sobre a economia e as expectativas de inflação e, se a incerteza diminuir, sua trajetória pode ser re-otimizada de acordo com a contingência".
De fato, o Banco Central Europeu voltará a trabalhar na modalidade de “gestão de crise”.
Ou seja, entre as questões que o BCE terá que considerar estão o conflito russo-ucraniano e a série de choques sobre os preços da energia, alimentos e produtos industriais. As novas variantes pandêmicas e o impacto na confiança dos consumidores e dos empresários. A fraqueza do euro em relação ao dólar americano com suas repercussões na inflação, O risco de uma recessão grave na área do euro em caso de interrupção total do fornecimento de gás russo. E, não menos importantes, as turbulência políticas nos vários países da UE, como por exemplo na Itália.
Todos esses fatores de risco deverão ser analisados e ponderados pelo Conselho dos governadores do Banco Central Europeu.
Aumentar os juros em 0,50% tem custos e benefícios.
Por um lado, pode surpreender negativamente os mercados e criar turbulências adicionais, dobrando a alta esperada elos operadores e indicada várias vezes no forward guidance, nas atas de reuniões anteriores, e em entrevistas de membros do Comitê Executivo.
Ao mesmo tempo, porém, antecipar em julho o segundo aumento de 0,25% esperado para setembro, na base do princípio de gradatividade, deixaria o BCE sem margem de manobra caso a situação se agrave.
Além disso, as incertezas devido às múltiplas crises é tal que o maior risco é que, em caso de alta de juros tão repentina, a zona do euro mergulhe na recessão econômica ao mesmo temo que a região não recebe mais gás russo, ou com a chegada de uma nova variante da Covid-19.
Mas o maior risco que o BCE deve considerar é o efeito negativo que uma alta dos juros teria sobre o superendividamento público de alguns países do bloco.
Grécia, Espanha, Portugal, Itália e França, entre outros, tem dívidas públicas superiores a 100% do PIB.
Até hoje, esses países se beneficiaram dos juros negativos decididos pela BCE, que lhe permitiu de rolar suas dívidas públicas com um custo muito baixo.
Mas hoje, tudo isso poderia mudar, e o risco de uma nova crise da dívida na Zona do Euro, nos mesmos moldes do que já ocorreu entre 2011 e 2012, é um risco concreto.
O BCE, portanto, deverá avaliar todas essas variantes antes de decidir se, e quanto, elevar os juros em uma das regiões mais endividadas do mundo.