O presidente da ATS, Alan Gandelman, afirmou à Reuters que os parceiros terão fatia de 24 % na nova bolsa, sendo que a participação de cada um não deve exceder 4 % (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2013 às 17h24.
São Paulo - A Americas Trading System Brasil (ATS Brasil) pretende criar uma bolsa de valores no Brasil em 2014 para concorrer diretamente com a BM&FBovespa , e está a procura de seis a oito sócios entre bancos e gestoras brasileiros e globais para operar a nova bolsa.
Os parceiros na ATS terão fatia de 24 % na empresa, com participação máxima individual de 4 %, disse à Reuters nesta quarta-feira o presidente da ATS, Alan Gandelman, após a empresa ter pedido aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para operar uma bolsa.
"Estamos na rua com este programa e na semana que vem eu vou ao exterior para discutir isso", disse o executivo, destacando que bancos brasileiros estão entre os potenciais parceiros e que as negociações estão em estágio avançado.
A ATS Brasil pretende começar a atuar no país a partir do primeiro semestre do ano que vem, mas o executivo acredita que o segundo semestre pode ser um prazo mais realista para estreia.
Até lá, a empresa precisa estruturar serviços de clearing, já que a BM&FBovespa não se mostrou aberta a compartilhar os serviços da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), sobre a qual a bolsa paulista tem exclusividade.
Por isso, a ATS Brasil poderá estruturar sua própria clearing. "Continuamos esperando para ver se a CBLC mudará de posição, mas de qualquer forma vamos operar em 2014 e ter uma clearing, nem que tenhamos que criar nossa própria operação", destacou.
A ATS tem como sócia a Nyse Euronext, que está comprando a IntercontinentalExchange (ICE). A ICE é a maior acionista individual da Cetip, que planeja fazer uma clearing para aluguel de debêntures e para alguns derivativos de balcão.
"Tão logo a conclusão da compra da ICE ocorra, a gente espera saber um pouco mais sobre isso", disse.
Segundo Gandelman, o desenvolvimento tecnológico da nova bolsa está em "em estágio muito avançado". Num primeiro momento, a ATS vai negociar ações e fundos de índice (ETFs). Depois outras classes de ativos podem ser incluídas, como derivativos.
A operação da nova bolsa deve ter margens estreitas e estrutura enxuta para oferecer preços mais atrativos, afirmou. A expectativa do executivo é de que a ATS eleve o volume negociado no mercado em 15 % nos primeiros dois anos de operação.
Para o executivo, a ATS pode ajudar a reduzir custos das transações no país, que estão entre os mais caros do mundo, disse.
Além da ATS, que surgiu da associação entre a bolsa de Nova York Nyse Euronext e o Americas Trading Group (ATG), a Direct Edge e Bats Global Markets também já manifestaram interesse em atuar no mercado brasileiro.
Os movimentos acontecem no momento em que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está recebendo sugestões sobre regulamentação da concorrência no mercado de bolsas de ações no Brasil. A audiência pública vai até 12 de agosto.
Ações da BM&FBovespa caem
Com a perspectiva de peder o monopólio do mercado brasileiro, as ações da BM&FBovespa caiam com força nesta quarta-feira. Às 16h40, a ação recuava 6,72 %, a 12,22 reais --menor nível em seis meses. No mesmo instante, o Ibovespa cedia 2,95 %.
Segundo o estrategista da Futura Corretora, Luis Gustavo Pereira, não é possível estimar a queda de volume de negócios na BM&FBovespa com a entrada de concorrentes, mas deve haver um impacto negativo nas margens de lucro da companhia. Procurada pela Reuters, a BM&FBovespa disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Para o estrategista, o interesse da ATS em criar sua própria clearing é um sinal claro de que seus projetos para o país sairão do papel. "A questão da clearing é a grande dúvida do mercado, mas a intenção de criar uma estrutura própria é um sinal mais claro", afirmou.
Atualizada às 17h24