Bomba de abastecimento da Petrobras: o caso Petrobras mostra como os investidores minoritários no Brasil estão buscando cada vez mais ter voz no gerenciamento e na estratégia (Divulgação/Petrobras)
Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2013 às 13h24.
São Paulo - Os acionistas minoritários da Petróleo Brasileiro SA estão prestes a assegurar sua primeira vitória após ganhar um assento no conselho em abril.
Meses de lobby dos investidores, liderados pela Aberdeen Asset Management Plc, levaram o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a assegurar em 14 de outubro que o governo deixaria que a estatal Petrobras subisse os preços da gasolina, depois que os subsídios ao combustível causaram R$ 6,77 bilhões (US$ 3,15 bilhões) em perdas líquidas no primeiro semestre na refinaria.
O caso Petrobras mostra como os investidores minoritários no Brasil, a segunda maior economia em desenvolvimento do mundo, estão buscando cada vez mais ter voz no gerenciamento e na estratégia após um longo ostracismo desse tipo de ativismo.
Eles estão se fazendo ouvir em algumas das maiores empresas do Brasil, disse José Carlos Reis de Magalhães, fundador e presidente da Tarpon Investimentos SA, que pressionou por um novo presidente no conselho da fabricante de alimentos BRF SA neste ano.
“Nos últimos anos, temos visto o fortalecimento do envolvimento do investidor tanto local quanto estrangeiro”, disse Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, com sede no Rio de Janeiro, que ganhou assentos no conselho da Saraiva SA e da Springs Global Participações SA e formulou estratégias nas duas empresas. “Neste ano, grandes investidores começaram a participar das reuniões”.
Estudo sobre ativismo
A associação brasileira de investidores está estudando o comportamento nos conselhos e nas reuniões de acionistas para determinar o nível de ativismo entre acionistas minoritários, disse o presidente Mauro Cunha. A Amec, como o grupo é conhecido, disse que seu número de associados saltou quase 80 por cento, para 62 membros desde 2006.
A luta na sala do conselho da Petrobras surgiu em meio à relutância da administração da presidente Dilma Rousseff em subir os preços do combustível devido à preocupação de que esse passo desaceleraria o gasto do consumidor. A economia do Brasil poderá crescer a uma taxa de 2,48 por cento em 2013, segundo uma consulta de 11 de outubro do Banco Central a economistas, abaixo dos 3,26 por cento da primeira consulta do ano.
Para acionistas minoritários, cobrar mais pela gasolina se tornou urgente uma vez que os lucros da empresa com sede no Rio de Janeiro caíram 36 por cento em 2012, para R$ 21,2 bilhões. Aberdeen defendeu a nomeação de Cunha como diretor, tornando-o o primeiro representante dos acionistas minoritários na Petrobras. Nesta semana, Lobão, ministro de Minas e Energia, sinalizou que os preços subirão.
“Nós estamos confiantes de que um novo aumento nos preços do combustível finalmente ocorrerá”, disse ele, em Brasília.
Aumento no lucro
Uma alta de 5 por cento na gasolina e no diesel produziria um aumento de 1 por cento na receita líquida estimada da Petrobras em 2014, enquanto elevaria os lucros em 10 por cento, escreveu Caio Carvalhal, analista da JPMorgan Chase Co. em São Paulo, em um relatório de 9 de outubro.
“O ativismo na Petrobras funcionou muito bem”, disse Nick Robinson, chefe de ações brasileiras na Aberdeen, com sede no Reino Unido, que gerencia cerca de US$ 15 bilhões em ações latino-americanas. A Petrobras não respondeu aos pedidos de comentário.
“Algumas empresas compreendem completamente os benefícios da boa governança”, disse Robinson em entrevista por telefone de São Paulo. “Algumas empresas não têm essa visão porque elas podem ter um acionista controlador que não tenha o mesmo interesse dos acionistas minoritários”.
O novo despertar do ativismo dos acionistas marca os últimos passos em uma evolução na governança corporativa brasileira, que inclui a criação do Novo Mercado em 2000. Este é o segmento do mercado de ações com os mais altos padrões de governança, incluindo a regra de uma ação, um voto.
A Tarpon Investimentos não está relutante em se envolver.
O fundo, que é focado em investimentos de longo prazo, se uniu ao fundo de pensão Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil neste ano para eleger o ex-presidente do Pão de Açúcar Abílio Diniz para liderar o conselho da BRF, a maior empresa de alimentos do Brasil.
Os ganhos nas vendas anuais da BRF, com sede em São Paulo, desaceleraram para 13 por cento ou menos desde 2011 após um crescimento de pelo menos 40 por cento em cada um dos três anos anteriores, segundo dados compilados pela Bloomberg, e os dois investidores externos procuraram estimular o crescimento e aumentar a eficiência.
A BRF anunciou mudanças de gerenciamento e o novo CEO, Claudio Galeazzi, disse em 14 de agosto que estava analisando vender ativos florestais e explorações avícolas.
“O ativismo não apenas muda o status quo e traz novas propostas”, disse Magalhães, da Tarpon Investimentos. “Ele também assume responsabilidade pelo que faz e é consciente do impacto que cria”.