Presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento durante evento em hotel em Brasília, logo após o resultado da eleição (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2014 às 15h22.
Brasília - Os traders de swaps não esqueceram qual é a visão da presidente Dilma Rousseff para as taxas de juros no Brasil.
Durante a campanha para a reeleição, Dilma disse que as políticas de seu oponente levaram o país a uma taxa de desemprego mais elevada ao lembrar aos seus eleitores que o escolhido da oposição para ministro da Fazenda, Armínio Fraga, aumentou os custos dos empréstimos para 45 por cento quando era presidente do Banco Central, mais de uma década atrás.
Os traders do mercado de swaps veem essa crítica como um sinal de que Dilma, que ganhou a eleição no dia 26 de outubro, provavelmente não fará pressão pelo uso de taxas mais altas para conter uma inflação acima da meta em um momento em que ela se concentra em restaurar uma economia marcada pela falta de crescimento.
Embora as probabilidades de que o BC aumente as taxas no ano que vem tenham caído desde a vitória de Dilma, os traders também estão precificando custos de empréstimos mais altos de 2018 em diante.
Isso sugere o aumento da preocupação de que as “grandes mudanças” que Dilma prometeu implementar irão algemar a política monetária e levar a uma inflação ainda mais rápida durante seu segundo mandato.
"É um governo que sempre achou melhor ter juros baixos", disse Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, por telefone.
“Os contratos de curto prazo foram construídos com base nos aumentos de taxa que se dariam se viesse a oposição, mais favorável a subir os juros para trazer a inflação com mais rapidez para o centro meta".
O BC deverá anunciar sua decisão sobre as taxas de juros hoje, a partir das 18 horas, horário de Brasília.
Todos os 54 economistas consultados pela Bloomberg, exceto um, esperam que o banco manterá a taxa de referência em 11 por cento pela quarta reunião seguida.
A assessoria de imprensa do banco disse por e-mail que não comentaria o assunto, quando questionada sobre sua política para a taxa de juros.
Inflação acelerada
A inflação acelerou desde que os estrategistas do BC pararam de subir os custos dos empréstimos na reunião realizada no dia 28 de maio, excedendo o teto de 6,5 por cento estabelecido pelo banco por três vezes e, ao mesmo tempo, tornando-se um tópico central na eleição presidencial.
Dilma disse em um debate televisionado, no dia 16 de outubro, que a estratégia do candidato de oposição Aécio Neves para reduzir a inflação para 3 por cento triplicaria a taxa de desemprego para 15 por cento e exigiria custos de empréstimos da ordem de 25 por cento.
No início da campanha, a presidente criticou a opção de Aécio por Fraga para o cargo de ministro da Fazenda devido à sua decisão, em 1999, de aumentar as taxas de juros para 45 por cento em seu primeiro dia como chefe do BC.
“A receita é a mesma: recessão, recessão e recessão”, disse ela, no dia 16 de outubro. “E o resultado é o mesmo: desemprego, arrocho salarial e altas taxas de juros”.
Resultado surpreendente
Dilma recebeu 52 por cento dos votos no dia 26 de outubro, superando Aécio por 3 pontos porcentuais.
O resultado não foi totalmente precificado, porque duas pesquisas de opinião publicadas na véspera da eleição mostravam Dilma em empate técnico com Aécio, enquanto outras três davam uma vantagem à candidata à reeleição ou ao opositor.
As taxas de swap com vencimento em janeiro de 2015 caíram cinco pontos-base, ou 0,05 ponto porcentual, nos dois dias após a eleição, para 10,93 por cento, o nível mais baixo em mais de um mês.
A diferença entre os swaps de janeiro de 2015 e 2024 se expandiu para 1,3 ponto porcentual no dia 27 de outubro, a mais ampla em mais de três semanas, porque os traders estimam que a inflação acima da meta acabará forçando os estrategistas do BC a elevarem os custos dos empréstimos.
As taxas de equilíbrio de dez anos, baseadas na diferença dos rendimentos dos bonds ligados à inflação e dos swaps de taxas de juros, aumentaram 35 pontos-base no dia 27 de outubro, para 6,62 por cento, o maior incremento desde fevereiro.
‘Mais autonomia’
Um aumento das taxas de juros na reunião de hoje, embora inesperado, mostraria aos investidores que o BC está comprometido com seu mandato de controlar a inflação, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil SA para o Brasil, por telefone.
“Isto contribuiria de maneira significativa a demonstrar que eles terão mais autonomia no segundo mandato de Dilma e isso seria bom para sua credibilidade”, disse ele.
É improvável que o BC ignore as pressões para estimular o crescimento depois que o Brasil, nos dois primeiros trimestres, entrou em sua primeira recessão em cinco anos, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Os economistas consultados pelo BC previram que o produto interno bruto subirá 0,27 por cento neste ano, incremento que seria o desempenho mais fraco do mandato de Dilma.
“A economia não parece estar bem e as taxas mais altas apenas a segurariam mais”, disse ele, por telefone. “Esse BC não gosta de subir as taxas”.