Bitcoin: a mais famosa das criptomoedas (foto/Getty Images)
Rita Azevedo
Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 16h13.
A fusão entre a análise quantitativa e as moedas criptografadas parece um coquetel elaborado no inferno. Mas, a portas fechadas, algumas almas intrépidas do mundo dos investimentos estão começando a bebê-lo.
Em parte um exercício acadêmico e em parte um casamento arranjado entre modas de Wall Street, um punhado de teóricos e traders está analisando o que os fatores de investimento como o impulso e o valor podem dizer sobre – olhem só – o preço do bitcoin.
Os fatores, a base dos fundos beta inteligentes negociados em bolsa (ETF, na sigla em inglês), já revolucionaram as ações quando demonstraram que grupos de ações com características como preços baixos e volatilidade baixa dão maiores retornos do que o mercado como um todo.
Essa descoberta foi uma mina de ouro e lançou US$ 700 bilhões em ETFs beta inteligentes, por isso não é nenhuma surpresa que as pessoas queiram encontrar outra em outro lugar. Um motivo mais abstrato vem da base dos investimentos quantitativos. É a ideia de que olhe para onde olhar – ações, títulos, ativos para ofertas iniciais de moedas (ICO, na sigla em inglês) – os erros mentais dos investidores fazem com que as mesmas oportunidades de trading surjam em todos os mercados.
No campo teórico está Stefan Hubrich, diretor de pesquisa sobre alocação de ativos da T. Rowe Price Group, que se propôs a publicar o primeiro artigo acadêmico que vincula as anomalias dos fatores com os ativos do blockchain. Após construir modelos e analisar dados, Hubrich afirma que é capaz de demonstrar que, no caso das criptomoedas, o investimento segundo fatores é melhor do que uma estratégia simples de comprar e manter ativos.
“Nossos resultados não deveriam ser interpretados como um aval às criptomoedas como classe de ativos”, escreveu Hubrich em sua pesquisa publicada em 28 de outubro. “Em vez disso, consideramos nossas descobertas como uma confirmação intrigante da eficácia dos próprios fatores subjacentes.”
Um dos motivos pelos quais o bitcoin e outras moedas digitais são um laboratório tentador para os acadêmicos da análise quantitativa é o fato de serem diferentes dos ativos tradicionais. As ações podem até rebotar, mas elas não se comparam com as criptomoedas, onde ocorrem regularmente fortes oscilações de preço, “flash crashes” e cataclismos nas bolsas. Se conceitos como valor e impulso forem válidos nessa selva, argumentam os pesquisadores, isso ajudaria a confirmar que os vieses de comportamento operam em todos os lugares.
Segundo Hubrich, nas principais moedas digitais operam três fatores: o valor, o carry e o impulso. O desafio filosófico é achar uma forma de reproduzir essas características. Isto é razoavelmente simples com as ações, por exemplo, medindo o valor segundo a razão entre preço e lucro de uma empresa.
Para achar um criptocorolário, Hubrich é criativo. Ele redefine valor como o valor de mercado da moeda frente ao volume em dólares das transações no blockchain. Para o impulso, ele usa um período de quatro semanas em vez dos 12 meses normalmente usados para as ações, devido à quantidade limitada de dados históricos.
“Esta é uma classe de ativos muito volátil e nova, e vamos aprender muito mais com o tempo”, disse Hubrich. “O impulso tem mais de 100 anos, mas as criptomoedas só estão começando.”