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Até Deus seria demitido se fosse um investidor ativo

Estudo afirma que nem seres onipotentes conseguiriam administrar o dinheiro de outras pessoas pensando no longo prazo


	Operador: segundo estudo, mesmo os melhores fundos do mercado apresentam quedas no meio do caminho
 (Reuters)

Operador: segundo estudo, mesmo os melhores fundos do mercado apresentam quedas no meio do caminho (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2016 às 07h00.

São Paulo – Nem seres onipotentes, ou videntes, se dariam bem caso resolvessem montar um fundo de hegde. Pelo menos é isso o que afirma um estudo da Alpha Arquitect, uma startup norte-americana de serviços financeiros.

“Em outras palavras, um gestor de ativos que é vidente, e sabe de antemão exatamente quais ações serão vencedoras a longo prazo seria provavelmente demitido várias vezes ao administrar o dinheiro de outras pessoas”, explica Wesley R. Gray autor do estudo e fundador da Alpha Architect.

O estudo

Para provar sua teoria, Gray montou carteiras de investimento apenas com as ações que registraram os melhores retornos em um prazo de cinco anos entre as 500 maiores empresas dos Estados Unidos. “Nós olhamos para todos os retornos, incluindo dividendos”, explica Gray.

A primeira carteira foi formada com as ações que tiveram os melhores retornos entre o dia 1º de julho de 1926 até o dia 30 de junho de 1931, fechando o ciclo de cinco anos. Uma nova carteira foi montada com ações que tiveram os melhores resultados entre 1º de julho de 1931 e 30 de junho de 1936 e assim sucessivamente até 2009, sempre montando uma nova carteiraa cada cinco anos e com início no dia 1º de julho.

A questão que Gray queria solucionar era: se Deus, ou qualquer ser onipotente, quisesse criar um fundo de hedge, ele nunca seria dispensado pelos clientes?

Em fundos de hegde os investimentos costumam ser mais agressivos e as estratégias são consideradas arriscadas. Os investidores ativos, que trabalham nesses fundos, não se limitam a reproduzir carteiras de índices de ações renomados, por exemplo.

Neste caso, quem mais teria as estratégias necessárias para comandar um desses fundos do que um ser que sabe o que acontecerá no futuro? Foi o que pensou Gray.

O resultado

Mesmo assim, a resposta que Gray encontrou é que provavelmente nem colocando suas fortunas nas mãos de Deus as pessoas ficariam tranquilas. 

Isso porque o autor do estudo mostra que mesmo que alguém tivesse o poder de prever quais seriam as ações mais rentáveis nos próximos cinco anos e montasse um fundo apenas com esses papéis, essa carteira apresentaria uma queda no meio do caminho e provavelmente os cotistas desses fundos se sentiriam pressionados a resgatar seus recursos. 

Por isso, mesmo que Deus formasse essas carteiras, que certamente seriam vitoriosas ao final do prazo de cinco anos, ele seria demitido pelos seus cotistas, que perderiam sua fé no meio do caminho. 

O primeiro portfólio montado por Gray, por exemplo, sofreu uma queda de 75,9% entre agosto de 1929 e maio de 1932. É claro que a grande depressão de 1929 acabou com muitas carteiras, mas a tabela abaixo mostra outros períodos em que as perdas teriam feito qualquer investidor blasfemar contra algum todo-poderoso.

Os maiores "sustos" da carteira:

Data inicial Data final Retorno da "carteira de Deus" no período Desempenho do S&P 500 no período
30/08/1929 31/05/1932 -75,96% -84,59%
31/03/1937 31/03/1938 -44,04% -51,11%
31/05/2008 28/02/2009 -42,18% -45,72%
31/03/2000 31/03/2001 -34,03% -21,48%
31/10/1973 30/09/1974 -30,74% -38,91%
31/08/1987 30/11/1987 -27,94% -29,58%
31/03/1962 30/06/1962 -23,35% -20,64%
30/11/1980 30/091981 -22,89% -13,69%
30/04/1940 31/05/1940 -19,16% -23,13%
31/05/1946 31/10/1946 -19,09% -21,97%

Fonte: Alpha Arquitect

Posições vendidas

Não satisfeito, Gray testou sua “teoria de Deus” criando uma carteira ainda mais típica de fundos de hegde: além de comprar as melhores ações para um retorno em cinco anos, Gray adotou uma posição vendida, ou seja, apostou na queda das ações que sabia que teriam o pior retorno em cinco anos.

"Certamente, esse seria um fundo de hedge ao estilo de Deus", ponderou.

Dessa vez Gray obteve resultados ainda piores em curtos prazos. Como mostra a tabela a seguir. Entre junho de 1932 e junho de 1933, por exemplo, sua carteira com as posições compradas e vendidas caiu 69,8%, enquanto, no mesmo período, o índice S&P 500, um dos principais índices norte-americano, teve um retorno de 168,5%.

Data Inicial Data Final Retorno da "carteira de Deus" no período Desempenho do S&P 500 no período
30/06/1932 30/06/1933 -69,80% 168,60%
28/02/2009 30/09/2009 -54,59% 45,01%
30/09/2002 31/01/2004 -49,36% 42,33%
29/06/1935 29/02/1936 -43,59% 46,96%
31/12/1974 29/02/1976 -38,02% 52,51%
31/12/1933 28/02/1934 -37,08% 7,79%
31/12/1930 28/02/1931 -36,01% 17,73%
31/12/1990 31/03/1991 -28,56% 14,71%
30/06/1939 30/09/1939 -28,20% 22,56%
31/03/2000 28/02/2001 -25,49% -16,16%

Fonte: Alpha Arquitect

“O que esses números revelam é que mesmo o próprio Deus seria demitido várias vezes. O desempenho do fundo de hedge perfeito seria esmagado muitas vezes em comparação com um índice passivo, antes de obter seus retornos”, comenta Gray.

Já dizia o economista John Maynard Keynes: “os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo do que nós podemos permanecer solventes.”

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