Ex-presidente Lula: o “status jurídico” de Lula é o principal fator por trás do relativo sangue-frio do mercado (Ricardo Stuckert/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2017 às 20h06.
São Paulo - A um ano das eleições, o mercado ainda acha muito cedo para incorporar nos seus preços o risco de ser escolhido em 2018 um novo presidente que coloque sob ameaça as reformas econômicas. A última pesquisa Datafolha, mostrando Lula firme na liderança das intenções de voto, não mudou as perspectivas. Vários fatores são citados pelos analistas para justificar o sangue-frio dos investidores, que vão desde o risco de a candidatura do petista ser impedida pela Justiça até a ampla liquidez internacional promovida pela estratégia do Federal Reserve. Veja cinco fatores que ajudam o mercado a não antecipar estresse:
O principal fator de tranquilidade do mercado com o risco de um candidato contrário às reformas vencer em 2018 é o esperado julgamento, ainda sem data para ocorrer, do recurso de Lula contra sua condenação pelo juiz Sérgio Moro. O “status jurídico” de Lula é o principal fator por trás do relativo sangue-frio do mercado com as eleições, diz Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria. Para Cortez, o mais provável é que uma decisão da Justiça, condenando ou absolvendo Lula, seja conhecida antes do lançamento oficial das candidaturas.
Se Lula for condenado em 2ª instância, o mercado reagirá de forma positiva, diz Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset. Se não, os ativos pioram apenas na margem porque prevalece a avaliação de que, mesmo candidato, Lula poderá liderar no 1º turno, mas não será competitivo no segundo devido ao desgaste de sua imagem e do PT com as investigações da Lava Jato, avalia Weeks.
Para alguns analistas, o principal fator por trás dos recordes recentes do Ibovespa e da estabilidade do dólar vem do exterior. Os juros dos principais bancos centrais internacionais, dos EUA, Europa e Japão, continuam perto de zero. No caso do Fed americano, as taxas vêm subindo, mas em um ritmo gradual, sem assustar os investidores, o que mantém a atratividade dos investimentos em ativos de maior risco, como é o caso das moedas emergentes. Este cenário externo benigno ajudaria a manter o investidor mais leniente em relação aos riscos políticos - que ainda incluem as dúvidas sobre a reforma da Previdência, a tramitação da denúncia contra Michel Temer na Câmara e as investigações sobre corrupção.
Analistas consideram que o ainda fraco desempenho da economia é um dos motivos da alta desaprovação atual do governo, mas acreditam que a situação poderá mudar em 2018, criando um cenário mais favorável a nomes que defendam a política econômica em curso. Segundo a pesquisa Focus, o mercado prevê um crescimento ainda discreto de 0,7% este ano, marcando o fim de uma recessão de dois anos, com o PIB acelerando para expansão de 2,4% no ano que vem. “Existe esse sinal de melhora da atividade, então é possível que candidatos que se auto-intitulam mais liberais ganhem força”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Investidores também se fiam no fato de as eleições recentes, no Brasil e no exterior, mostrarem um eleitor em busca de candidatos de fora do status quo político. O presidente da França, Emmanuel Macron, é um exemplo muito lembrado. Caso Lula realmente não concorra, esta tendência poderia ser reforçada, com o estímulo para que novas candidaturas surjam e que nomes já colocados se tornem mais competitivos. No mercado, há uma torcida para que João Doria esteja entre estes nomes. Por ora, contudo, as pesquisas mostram que, sem Lula, ganham força Marina Silva e Jair Bolsonaro, que são de fora do núcleo do establishment, mas não propriamente os reformistas preferidos pelos investidores.
Analistas também minimizam a liderança de Lula agora por ele ser, de longe, o pré-candidato mais conhecido, situação que pode mudar à medida que a campanha comece de fato. “À medida em que a campanha começar, fatores eleitorais estruturais, como o tempo de TV e os recursos à disposição dos partidos, devem fazer diferença”, diz Cortez, da Tendências.
“Não dá para traçar um cenário muito forte em função de uma pesquisa feita com tanta antecedência”, diz Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu. “É muito cedo para determinar a posição do mercado”, diz Gonçalves, do Banco Fator. Para ele, serão determinantes as pesquisas a partir de maio do ano que vem, com o quadro eleitoral mais definido. “Após o Carnaval, serão três ou quatro meses bastante agitados.”
Analistas ainda citam entre os fatores que tornam difícil precificar qualquer resultado desde já o fato de pesquisas não terem antecipado corretamente resultados em votações importantes nos anos recentes, como na eleição de Donald Trump, no Brexit e na eleição de Doria em São Paulo em primeiro turno.