Warren Buffett (à esquerda) e Charlie Munger durante encontro anual da Berkshire Hathaway em Omaha, Nebraska (Daniel Acker/Bloomberg)
Marcelo Sakate
Publicado em 11 de abril de 2021 às 11h20.
Última atualização em 11 de abril de 2021 às 11h32.
Warren Buffett e seu parceiro de mais de quatro décadas, Charlie Munger, são conhecidos entusiastas e defensores da força da economia americana.
"Apesar de algumas interrupções severas, o progresso econômico de nosso país é de tirar o fôlego. Nossa inabalável conclusão é: nunca aposte contra a América", escreveu Buffett no início do ano na tradicional carta aos acionistas de sua holding de investimentos, a Berkshire Hathaway.
Em linha com essa visão, companhias americanas predominam no portfólio de ações da Berkshire. São gigantes da velha e da nova economia, companhias como Coca-Cola, Kraft-Heinz, Bank of America, American Express e Apple.
Mas isso não significa que o Oráculo de Omaha e seu braço-direito na Berkshire estejam desatentos ao que há de oportunidades de investimento no resto do mundo. É a tese da diversificação geográfica demonstrada por grandes investidores.
Nesta semana que passou, Munger revelou uma nova posição que evidencia a visão de longo prazo que costuma guiar as escolhas da dupla: ações do Alibaba, a gigante de tecnologia do bilionário chinês Jack Ma.
As ações estão cerca de 30% abaixo do pico no fim de outubro, quando despencaram em razão do adiamento do IPO do Ant Financial Group -- o braço de pagamentos digitais do grupo -- e do cerco regulatório do governo chinês.
Para analistas de mercado, no entanto, dadas a liderança e a força financeira do Alibaba, a perspectiva para as suas ações é de recuperação no médio prazo.
O investimento de Mumger se deu por meio do Daily Journal, uma empresa da qual é o presidente do conselho e que publica jornais, conteúdo especializado (jurídico), desenvolve softwares e que tem participações acionárias em alguns bancos, como Bank of America e Wells Fargo.
O Daily Journal comprou 165.000 ações do Alibaba, avaliadas no fim de março em 37 milhões de dólares. Para quem avalia o gasto como "pequeno", convém lembrar de outra aposta liderada por Munger, desta vez por meio da Berkshire.
Foi justamente Munger quem liderou a compra da fatia acionária na BYD, mais de 12 anos atrás, em 2008: na época, o valor despendido foi de "apenas" 230 milhões de dólares. Atualmente, essa fatia vale 5,07 bilhões de dólares.
A BYD é hoje uma das maiores montadoras chinesas e que tem se destacado na corrida dos carros elétricos no país e no mundo. Trata-se da única "intrusa" estrangeira na lista das dez principais posições na carteira da Berkshire -- as demais são empresas americanas.
Ainda assim, não é bem uma posição isolada. Em agosto passado, Buffett revelou um investimento somado avaliado à época em 6 bilhões de dólares em cinco dos maiores conglomerados empresariais do Japão, com participação aproximada de 5% em cada uma.
As escolhidas foram as trading houses, ou sogo shosha, Itochu, Mitsubishi Corp., Mitsui & Co., Sumitomo Corp. and Marubeni.
E mais pode está por vir: a Berkshire pretende levar o equivalente a 1,1 bilhão de dólares com a emissão de dívida em ienes japoneses, o que analistas enxergam como um prenúncio de novas compras no país asiático.
A tese ventilada é que Buffett pode ampliar as fatias nos conglomerados com os novos recursos, uma vez que a própria Berskshire já expressou planos de deter até 9,9% do capital de cada uma das cinco.