Forrest Gump (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2013 às 10h55.
São Paulo – Existem empresas que na bolsa vivem como em um filme de Hollywood. No início, marcado pela oferta inicial de ações, enchem os olhos dos espectadores-investidores com variações incríveis. Nada como os famosos 15 minutos iniciais para prender a atenção.
Mas isso é apenas o primeiro passo de uma história que pode ser construída com erros ou acertos de gestão, ganância de administradores ou crises internacionais.
Salvo algumas que pularam fora da Bovespa – adquiridas por rivais ou apenas para se esconder da concorrência (caso da Redecard) -, as empresas estão aí dando a cara a tapa trimestre a trimestre ou a cada decisão contestável.
O analista Rodolfo Amstalden, da casa de análise Empiricus, separou em um artigo publicado nesta semana algumas histórias da bolsa que renderiam longas como “Forrest Gump” ou o seu preferido “Peixe Grande”.
“É assim também com a análise de ações. Interessam boas histórias de investimento. Se você não consegue resumir de forma simples e rápida seu racional, se precisa recorrer às planilhas para explicar um ponto, desista daquilo”, argumenta.
“O viés do analista vai sempre importar, mesmo que ele venha montado de quantitativo, todo trabalhado na modelagem. E, na verdade, isso é bom: não há nada de errado em ser humano”, explica.
PDG
A primeira empresa destacada por ele é a PDG (PDRG3). A construtora estrelava um verdadeiro suspense desde agosto do ano passado quando a gestora Vinci Partners a assumiu após um aporte de quase 1 bilhão de reais.
A consultoria McKinsey&Company foi contratada para encontrar problemas e soluções. Desde então, os investidores clamavam por um plano estratégico. E ele veio no final de março e as ações decolaram. Isso tudo apesar de uma perda de 1,8 bilhão de reais só no último trimestre de 2012.
O mercado comprou a história de que a PDG irá entregar o que prometeu. O que não é pouco. Com o foco principal em retomar a rentabilidade, o plano tem o objetivo de alcançar lançamentos anuais entre 5 e 6 bilhões de reais a partir de 2015. Além disso, traçou também a projeção de ter retorno sobre patrimônio líquido (ROE) de 20 por cento ao ano.
“No momento em que você, na sua planilha, diz que PDG vai lançar R$ 6 bilhões em 2015 e fazer 20% de ROE, chega automaticamente num valuation convidativo. É, na verdade, uma opinião qualitativa (de que vai conseguir entregar o turnaround de forma rápida e rentável), travestida de quantitativa”, lembra Amstalden.
Ele lembra que, há dois anos, quando suas ações flertavam com os 10 reais (hoje são negociadas a 2,70 reais), as demonstrações financeiras, olhadas de forma estrita, de PDG sugeriam bons resultados.
“Se você não tinha uma história melhor para contar, um bom olhar qualitativo de que a colcha de retalhos era problemática, provavelmente acreditou que Zeca [Zeca Grabowsky, ex-presidente-executivo] e Michel [Michel Wurman, ex-RI] construíram a verdadeira empresa premium entre as incorporadoras”, continua.
Marfrig
Outra lembrada pela Empiricus é a empresa de alimentos Marfrig (MRFG3). Segundo Amstalden, a empresa pode parecer o nome mais barato entre os frigoríficos “se você preencher a planilha de modo otimista”. Apesar disso, o valuation seria “ultrajante”.
HRT
Por fim, a última lembrada é a HRT (HRTP3). A pré-operacional que opera na Bacia do Solimões no Brasil e na Namíbia começou nesta semana a perfuração de seu primeiro poço no país africano.
O resultado dessa campanha exploratória – que pode sair em aproximadamente 60 dias – pode mudar a percepção do mercado sobre a empresa. Atualmente, poucos optam por inserir em suas planilhas qualquer valor significativo para a possibilidade de produção na Namíbia.
“HRT pode ser barata a R$ 20,00 e cara a R$ 3,80 – depende do que você pensa sobre a qualidade de seus ativos”, lembra.