Operadores na Bolsa de Nova York: incertezas podem impedir recuperação dos ativos (Brendan McDermid/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 4 de novembro de 2020 às 09h09.
Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 10h09.
No período que antecedeu as eleições no Estados Unidos, dois possíveis resultados preocupavam investidores: uma eleição contestada ou uma presidência de Joe Biden com um Senado republicano.
Agora, ambos parecem mais prováveis do que 24 horas atrás.
O presidente Donald Trump falsamente se autoproclamou vencedor e disse que pedirá uma intervenção da Suprema Corte, já que os resultados parecem apertados em muitos estados considerados campos de batalha.
“O ponto-chave de inflexão para os mercados será se o governo - liderado por Biden ou Trump - estará dividido”, disse Peter McCallum, estrategista do Mizuho International, em Londres. “Do jeito que as coisas estão, este é o resultado mais provável, portanto, temos as ações um pouco mais baixas e o achatamento altista da curva do Tesouro (que sinaliza aumento da incerteza com o futuro).”
O Senado, cuja liderança muitos apostavam que seria transferida para os democratas, se inclinou para os republicanos durante a noite, enquanto a Câmara dos Deputados permanecerá nas mãos dos democratas.
A principal preocupação em torno de um governo dividido é: os mercados têm esperado por um grande pacote de estímulo fiscal que será menos provável se as duas partes precisarem trabalhar juntas.
“Com os republicanos ainda no comando do Senado, ficaríamos surpresos em ver um projeto de lei de estímulo no início do próximo ano muito superior a 500 bilhões de dólares, muito menos do que os 2 trilhões de dólares que esperávamos se os democratas tivessem vencido”, disse Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, em Nova York.
“Um presidente democrata com um Senado republicano provavelmente seria forçado a uma retração fiscal que não é espetacularmente útil para o crescimento”, disse Sebastien Galy, estrategista macro da Nordea Investment Funds, que administra o equivalente a 255 bilhões de dólares em ativos. “Uma eleição contestada significará probabilidades de ajuste por semanas a fio.”
A preocupação ainda maior para os gestores de ativos -- a falta de uma resolução por semanas -- também não parece distante no cenário atual. Recentemente, investidores faziam apostas de que a volatilidade cairia em breve após a eleição.
“Os resultados são apertados o suficiente para serem desafiados ou contestados”, disse Elsa Lignos, responsável global de estratégia de câmbio da RBC Capital Markets. “O medo de um resultado contestado ainda não se materializou na eliminação do risco, mas infelizmente parece mais provável no dia seguinte.”
Sem uma “onda azul” para os democratas na noite de terça-feira, a volatilidade provavelmente permanecerá elevada.
“As chances de que a eleição se reduza a um estado agora aumentaram (principalmente depois que o Arizona foi atribuído a Biden pela FOX), o que significa uma chance ainda maior de resultado litigioso”, disse o estrategista Charlie McElligott, da Nomura Securities International.
McCallum aconselha apertar o cinto para um drama contínuo.
Ainda assim, os que apostam em ganhos das ações podem encontrar munição de sobra neste cenário, de acordo com Kelvin Tay, diretor de investimentos para a região Ásia-Pacífico da unidade de gestão de patrimônio do UBS. Ele argumentou que o impasse legislativo em Washington impediria mudanças significativas no código tributário e apoiaria o crescimento dos lucros das empresas.
“Eu permaneceria positivo em relação às ações por causa das taxas de juros nesses níveis, rendimentos reais negativos e porque a economia está se recuperando”, disse. “As ações são a classe de ativos certa para se estar.”