A Apple afirmou que a maioria dos dispositivos enviados aos Estados Unidos no trimestre de junho será produzida na Índia e no Vietnã. A medida busca minimizar os riscos da dependência da China e responde às preocupações de investidores com o impacto das tarifas comerciais americanas sobre os produtos da marca.
A empresa teve um aumento de 5% nas vendas entre janeiro e março, atingindo US$ 95 bilhões, puxado pela maior demanda por iPhones e pelo lançamento do modelo 16e, de menor custo. O lucro líquido do período foi de US$ 24,8 bilhões, também com alta de quase 5% na comparação anual. As ações da companhia, no entanto, recuaram cerca de 4% após o fechamento do mercado.
Durante a teleconferência de resultados, o CEO Tim Cook destacou que “a maioria” dos iPhones vendidos nos EUA no trimestre virá da Índia, enquanto “quase todos” os demais dispositivos — como iPads, Macs, Apple Watch e AirPods — terão origem no Vietnã. Cook disse que as tarifas atuais podem adicionar US$ 900 milhões aos custos da Apple apenas no trimestre de junho, com possibilidade de agravamento nos períodos seguintes.
A Apple, que ajudou a transformar a China em um centro global de manufatura ao longo das últimas décadas, tem buscado acelerar a diversificação da sua cadeia de suprimentos. Segundo Cook, “ter tudo em um só lugar é muito arriscado”.
Mudança estratégica e pressão regulatória
A decisão de deslocar parte da produção ocorre em meio à escalada tarifária promovida pelo governo dos EUA. Atualmente, os produtos da Apple enfrentam tarifas de até 20% se importados da China e de 10% quando enviados da Índia. A expectativa dos investidores era que a empresa desse sinais claros sobre sua capacidade de migrar a produção chinesa para outras localidades.
Analistas calculam que a realocação da produção indiana de iPhones, hoje estimada em 25 milhões de unidades, pode cobrir cerca de 50% da demanda americana. Com as tarifas, um iPhone 16 Pro poderia ter seu custo elevado em até US$ 500, segundo estimativas da TechInsights.
Enquanto isso, a Apple enfrenta desafios no mercado chinês. As vendas na China caíram mais de 2% no trimestre, afetadas pela preferência crescente dos consumidores locais por marcas domésticas. O país, que já foi central para o crescimento da empresa, vem perdendo força como mercado estratégico.
Além das questões comerciais, a Apple sofre pressão nos tribunais americanos. Um quarto do seu lucro operacional vem de royalties pagos pelo Google para ser o buscador padrão do navegador Safari — montante que pode ultrapassar US$ 20 bilhões por ano. Mas uma decisão judicial recente considerou o acordo ilegal por questões antitruste.
Outra frente judicial afeta a App Store. Uma juíza federal criticou duramente as políticas da plataforma e ordenou mudanças que podem comprometer receitas com alta margem de lucro. O caso foi encaminhado para investigação criminal por suposto desacato da empresa às ordens judiciais.
A Apple também tenta correr atrás do atraso em recursos de inteligência artificial. A promessa de novas funcionalidades para a assistente Siri segue sem data concreta, com Cook afirmando que a empresa precisa de mais tempo para atingir os padrões internos de qualidade.