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Apple e cia atingem US$ 10 tri. É hora de voltar a apostar nas big techs?

Ações das FAAMG (Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Google) continuam a atrair investidores e a se valorizar mesmo diante de desafios como o cerco da regulação

Ações de crescimento como as das big techs continuam a atrair o investidor. Entenda as razões | Foto: Getty Images (Chesnot / Colaborador/Getty Images)

Ações de crescimento como as das big techs continuam a atrair o investidor. Entenda as razões | Foto: Getty Images (Chesnot / Colaborador/Getty Images)

As cinco maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos, as famosas big techs, chegaram a um valor de mercado aproximado de 10 trilhões de dólares (cerca de 55 trilhões de reais) nos últimos dias. Um valor superior ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, da Alemanha e do Japão juntos.

Atualmente Wall Street vale 21 vezes o lucro esperado no próximo ano, o P/L 2022. Como efeito de comparação, o Ibovespa tem um Preço/Lucro de 8,5 vezes.

Por que os investidores são mais atraídos pelo mercado americano?

A resposta é simples: porque no “menu” à disposição dos investidores há “cachorros grandes” que atualmente não existem nas bolsas de valores da Europa e nem mesmo no Japão. Muito menos no Brasil.

As cinco grandes techs são as famosas FAAMG, ou seja, as empresas mais capitalizadas da Bolsa de Nova York (o valor somado recuou para baixo de 10 trilhões de dólares com as quedas nos últimos dias):

  • Apple: 2,46 trilhões de dólares
  • Microsoft: 2,23 trilhões de dólares
  • Google (holding Alphabet): 1,93 trilhão de dólares
  • Amazon: 1,76 trilhão de dólares
  • Facebook: 1,05 trilhão de dólares

Em março de 2020, quando a pandemia do coronavírus puxou os mercados de capitais do mundo inteiro para suas mínimas e a volatilidade disparava com o índice Vix em 85 pontos, as cinco grandes techs valiam 4 trilhões de dólares.

No início de 2021, esse valor disparou para 7,5 trilhões de dólares. Agora superaram o nível psicológico de 10 trilhões de dólares.

São números impressionantes, mas que ganham força, trimestre após trimestre, graças a lucros e faturamento. E isso acontece mesmo que exista um consenso entre analistas de que os preços são caros comparados às médias históricas e que foram inevitavelmente inflados pela abundante liquidez que os bancos centrais (Federal Reserve em primeiro lugar) estão despejando nos mercados desde o começo da crise do novo coronavírus.

A FAAMG faz parte da categoria de ações classificadas como “growth”, ou seja, de elevado crescimento, que se beneficiam de um contexto macro de taxas de juros baixas, como o atual. São ações que estão menos expostas ao ciclo econômico, diferentemente das ações “value”, ou seja, que mantêm um certo valor estável ao longo do tempo, mas que pagam dividendos de forma consistente.

Segundo especialistas, essa segunda característica pode ser decisiva nesta fase em que os Estados Unidos parecem próximos da chamada "teoria dos três picos".

Os Estados Unidos parecem ter atingido os níveis máximos de:

1) Expansão monetária (não é surpresa que muitos integrantes no Fed estejam falando de redução gradual);
2) Expansão fiscal
3) Crescimento econômico (o Goldman Sachs reduziu as estimativas do PIB de 2021 de 6 % para 5,7%).

Ligando os pontos e acrescentando a eles as incertezas relacionadas à variante Delta (na última semana os casos de Covid aumentaram 300% em relação à semana do Dia do Trabalho nos Estados Unidos), o cenário em Wall Street parece pelo menos incerto.

Isso também porque o S&P 500 já registrou 54 cotações máximas históricas desde o começo deste ano.

E é aqui que ações como as "big five", que respondem por cerca de 50% do desempenho do Nasdaq 100 e cerca de um quarto do S&P 500, se tornaram o foco dos gestores.

Essas empresas são vistas por investidores como uma espécie de porto seguro quando aumenta a incerteza sobre a capacidade de outras companhias mais expostas ao ciclo macroeconômico de expressarem taxas de crescimento interessantes.

Quando o mercado começa a descontar o cenário dos três picos, as ações das big techs tornam-se a melhor boia para se agarrar. E isso aumenta a liquidez desses papéis.

No fim do ano, o investidor se depara, portanto, com uma dúvida cruel: é melhor optar por ações que apresentam preços mais baixos cujo potencial depende da tendência do ciclo macroeconômico (nesse caso, normalmente são ações de valor) ou comprar ações com preços muito elevados, com valuations esticados, mas capazes de manter altas taxas de crescimento mesmo em momentos de perda de ímpeto do ciclo, como poderia ser o quadro atual considerando a dinâmica dos três picos?

A escolha está recaindo cada vez mais sobre a segunda opção. Isso porque, em caso de desaceleração macro, os múltiplos com os quais as ações “value” estão negociando estão destinados a se contrair, pois tenderiam a descontar os perfis de crescimento mais baixos.

Por outro lado, as ações “growth” (ações de crescimento) manteriam os múltiplos inalterados, beneficiando-se dessa transferência impulsionada pela necessidade de se posicionar em ações com visibilidade de lucros futuros.

Os investidores mais experientes sabem bem disso. Tudo pode mudar repentinamente. As ações das FAAMG não são isentos de riscos.

Seus múltiplos altos podem ser questionados a qualquer momento. Ou melhor, assim que Jerome Powell, presidente do Fed, começar a dar sinais mais precisos sobre o tempo de redução dos estímulos e de aumento das taxas de juros.

Por isso, é cada vez mais importante olhar para o mercado na perspectiva de “bond investor”, ou seja, o investidor em títulos do tesouro que analisa continuamente a evolução das taxas na curva e a evolução do ciclo macro.

*Carlo Cauti é editor multimídia da EXAME.

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