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Aposta errada sobre covid transforma comércio global de petróleo

Grandes tradings globais, como Trafigura e Vitol, ganham com a crise, enquanto as centenas de pequenas tradings provavelmente devem sair como perdedoras

Equipamentos de extração de petróleo em campos terrestres: impacto da pandemia no mercado global (Nick Oxford/File Photo/Reuters)

Equipamentos de extração de petróleo em campos terrestres: impacto da pandemia no mercado global (Nick Oxford/File Photo/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 20h14.

Última atualização em 29 de dezembro de 2020 às 22h46.

Em janeiro, quando uma doença misteriosa atingiu a cidade chinesa de Wuhan, os preços globais do petróleo despencaram. A 3.000 quilômetros de distância, em Cingapura, um dos homens mais poderosos do mundo em negociação de commodities, Lim Oon Kuin, aumentou discretamente seus amplos estoques de combustíveis com a aposta de que a China conseguiria controlar com sucesso a propagação da covid-19.

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Essa aposta azedou rapidamente. Embora a China tenha controlado o coronavírus em casa, a pandemia que se seguiu fez com que os preços do petróleo despencassem até 70%. Os bancos tentaram recuperar empréstimos da Hin Leong Trading, empresa de Lim, desencadeando um dos maiores escândalos do setor de petróleo neste século. O império de Lim entrou em colapso, com dívidas de 3,5 bilhões de dólares com 23 bancos, e o impacto do choque ainda repercutirá em 2021, abalando grandes extensões da ampla e muitas vezes opaca indústria global de trading de petróleo, que movimenta 4 trilhões de dólares.

Os perdedores provavelmente serão as centenas de pequenas tradings, muitas delas com poucos funcionários, que acharão caro, senão impossível, atender às crescentes demandas por informações de bancos, temerosos em conceder empréstimos. Quem ganha com a crise são as grandes tradings globais, como Trafigura e Vitol, que mantêm a confiança das empresas financeiras e são mais capazes de absorver os custos de uma supervisão crescente.

Um sinal dessas mudanças veio no início deste mês, quando os bancos no grande polo de comércio de petróleo de Cingapura emitiram novas diretrizes para financiamentos que poderiam restringir algumas das práticas que levaram ao colapso da Hin Leong, cujos credores, como o HSBC e o DBS de Cingapura, ainda tentam recuperar fundos.

O ABN Amro, com sede nos Países Baixos, disse que deixará de financiar o comércio de commodities, e outros bancos, como o francês BNP Paribas, disseram que estão reduzindo ou revendo seus negócios. Mais de 20 traders veteranos e banqueiros do setor disseram à Bloomberg News em entrevistas que o financiamento para o setor está cada vez mais restrito, e a retração provavelmente continuará no próximo ano, já que os bancos aplicam padrões mais rígidos ou reduzem sua exposição a tradings de menor porte.

Preços do petróleo colapsam com queda na demanda por conta da crise da covid (Bloomberg/Bloomberg)

“Os bancos se tornaram mais avessos ao risco neste ambiente”, o que os levou a se concentrar nas grandes tradings, disse Steven Beck, responsável por comércio e financiamento da cadeia de suprimentos do Banco Asiático de Desenvolvimento. Ele disse que a crise da Hin Leong agravou o déficit no financiamento do comércio.

Um pedido de comentários por e-mail para a família Lim não foi respondido. O DBS não quis comentar. “Continuamos comprometidos com o crescimento de nossos negócios em Cingapura”, disse o HSBC por e-mail.

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