A quase obsessão de Dilma por juros em patamares internacionais leva os agentes a avaliar que o BC lançará mão de um mix de política monetária com medidas macroprudenciais (Elza Fiúza/ABr)
Da Redação
Publicado em 7 de maio de 2012 às 17h15.
São Paulo - A determinação da presidente Dilma Rousseff na busca por juros menores, que teve como auge a mudança na remuneração da caderneta de poupança, na semana passada, faz o mercado avaliar que a Selic pode não reaver o patamar de dois dígitos e que, quando for preciso esfriar a economia, o Banco Central poderá adotar medidas macroprudenciais para evitar uma escalada da taxa básica. Este cenário, somado a informações de que os técnicos do Ministério da Fazenda já trabalham com uma projeção de crescimento em 2012 de até 3,5% e ao fato de a economia global seguir titubeante, levou os agentes a extinguir taxas futuras de dois dígitos em quase toda a curva a termo, incluindo vencimentos mais longos, como o DI janeiro de 2021.
Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de 2013, com giro de 127.400 contratos, estava em 7,92%, de 7,97% no ajuste de sexta-feira. Com isso, boa parte dos investidores aposta em uma Selic de 8% no fim deste ano. O DI janeiro de 2014 (307.460 contratos) indicava 8,24%, de 8,28%. Entre os vencimentos mais longos, o DI janeiro de 2017 (78.465 contratos) despencava para 9,41%, de 9,55% no ajuste, enquanto o DI janeiro de 2021 (13.595 contratos) cedia para 9,91%, de 10,12% na sexta-feira.
"Os vencimentos longos refletem também os sinais de fraqueza da economia mundial. A zona do euro deve seguir em recessão, enquanto a economia dos EUA patina e a da China perde força. Isso tudo afeta o desempenho da economia brasileira", disse o estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Luciano Rostagno.
Mas não é apenas o quadro externo que mina as apostas na retomada de um aperto monetário mais consistente no futuro. A quase obsessão da presidente Dilma por juros em patamares internacionais leva os agentes a avaliar que, mesmo quando for necessário esfriar a economia, o Banco Central lançará mão de um mix de política monetária com medidas macroprudenciais, o que poderia impedir que a Selic voltasse para níveis acima de 10% ao ano. "As medidas macro se mostraram relativamente eficientes e podem voltar quando necessário", disse Rostagno.
E alguns dados domésticos realmente levam a crer que o crescimento da economia seguirá lento, pelo menos no curto prazo, e permitirá uma Selic menor. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas totais de veículos no mercado interno caíram 14,2% em abril, ante março, enquanto a produção de veículos recuou 15,5%. No acumulado de janeiro a abril em relação a igual período de 2011, houve queda de 3,4% nas vendas.
Entre as instituições ouvidas pelo Banco Central para a confecção da pesquisa Focus desta segunda-feira prevalece o entendimento de que a Selic cairá apenas mais 0,5 ponto porcentual neste ano, mas voltará a subir em 2013 ao nível de dois dígitos.
O mercado financeiro até reduziu a previsão para a taxa Selic no fim de maio, de 9,00% para 8,50%, patamar que seria mantido até o fim de 2012. Para o próximo ano, porém, o mercado espera a volta do ciclo de alta dos juros, com a Selic em 10,00% no fim do próximo ano.
Enquanto isso, as projeções para o IPCA no fim deste ano foram mantidas em 5,12%. Para 2013, no entanto, as estimativas para a inflação oficial subiram pela segunda vez seguida e passaram de 5,53% para 5,56%.