Ibovespa nas máximas: apesar dos recordes, a pontuação ainda não bateu máxima histórica corrigida pela inflação ou convertida pelo dólar (Germano Lüders/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 13h02.
Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 15h00.
Da última semana para cá, tem sido recorrente o Ibovespa registrar pontuações históricas. Na quinta-feira passada, 14, o principal índice da bolsa brasileira fechou aos 130.842 pontos, superando o recorde alcançado em junho de 2021. As máximas foram renovadas nos pregões de segunda e terça-feira, quando o índice fechou aos 131.084 pontos e 131.851 pontos, respectivamente. Apesar dos recordes, a pontuação ainda não bateu máxima histórica corrigida pela inflação e convertida pelo dólar.
A pedido da EXAME Invest, Einar Rivero, consultor independente, levantou qual foi a pontuação máxima do índice ajustado tanto pela inflação, quanto pelo dólar. Com isso, a máxima remonta a 20 de maio de 2008, quando a bolsa brasileira atingiu 73.516 pontos.
Considerando o ajuste dessas duas variáveis, a pontuação de 15 anos atrás pula para 177.594 pontos. Junto a isso, na ocasião, o Ibovespa em dólar foi de 44.616 pontos — superior aos 27.095 pontos do fechamento recorde da terça-feira. “Podemos concluir que a bolsa ainda tem um considerável espaço de crescimento”, diz o consultor.
É bem mais recorrente (e comum) analisar o Ibovespa pela sua pontuação nominal. No entanto, outro ângulo que pode ser adotado é sob a óptica dolarizada. Isso significa ajustar o preço do índice de acordo com a moeda americana, que é a referência global. Pode até parecer que essa visão não seja importante, mas ela é essencial para analistas entenderem como os investidores estrangeiros observam a bolsa brasileira.
Sob essa perspectiva, o Ibovespa fica mais barato visto do exterior. E ainda há outros fatores que contribuem para uma perspectiva positiva para o índice. Se em maio de 2008 o Brasil teve sua nota de crédito elevada de “BB+” para “BBB-” pelo S&P, neste fim de 2023 a situação não é muito diferente. No início desta semana, a mesma agência de risco elevou o país de “BB-” para “BB”. Em julho, o mesmo foi feito pela Fitch.
Vale lembrar que a nota do país foi rebaixada para “BB-” em 2018, em meio à crise política e fiscal, junto à não aprovação de reformas previstas — como a da Previdência e Tributária. Neste ano, dois fatores influenciaram positivamente a revisão da perspectiva da nota de crédito do Brasil de estável para positiva: o desempenho macroeconômico acima do esperado e a aprovação da reforma tributária.
Para Daniel Wainstein, sócio sênior da Seneca Evercore, o mercado já vinha precificando uma redução significativa do risco Brasil. “O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos caiu 45% nos últimos 12 meses, e atingimos agora o patamar mais baixo desde março de 2020. O S&P, portanto, segue a Moody's, Fitch e a própria visão do mercado.”
Um dos caminhos mais adotados por analistas para verificar se a bolsa de valores está barata é por meio do múltiplo preço/lucro (P/L) do índice. Atualmente, o Ibovespa tem negociado por volta de 7,8 vezes o P/L, sendo que a média histórica é de 11 vezes. Isso faz com que o mercado diga que a bolsa está “descontada”.
E as oportunidades de investimentos têm ampliado com a melhora na perspectiva dos juros — tanto aqui, quanto nos Estados Unidos. Por aqui, desde agosto, o Banco Central iniciou o seu ciclo de corte na taxa de juro, que fez a Selic sair dos 13,75% e terminar este ano aos 11,75%. Já no nosso vizinho ianque, a taxa tem sido mantida no intervalo de 5,25% e 5,5%, com as apostas de investidores para as quedas terem início entre março e maio de 2024.
Um ponto de atenção do corte de juro entre os dois países é que isso poderia levar a uma depreciação do real frente ao dólar. No entanto, não é esse o cenário projetado por especialistas do mercado. O BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), a exemplo disso, prevê um menor crescimento dos EUA, junto a uma inflação controlada, que abre espaço para novos cortes e impactos na cotação da moeda americana. “Resultando, gradualmente, em uma depreciação do dólar", dizem os analistas em relatório.
Como lembra Renato Nobile, gestor e analista da da Buena Vista Capital, desde a crise de 2008 o Ibovespa não se recuperou de maneira dolarizada. “Ele está muito muito abaixo [da performance] há praticamente 15 anos. A bolsa agora realmente bateu seu recorde histórico em reais, mas o que realmente interessa é o olhar internacional.” Novaes explica que as negociações internacionais, sejam comerciais ou mesmo de commodities, por exemplo, usam como base o dólar. “Isso mostra que o Brasil está realmente muito desvalorizado quando falamos no quesito de poder de compra”, diz.
Enquanto isso, na avaliação de Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, o fato de o Ibovespa atingir um recorde nominal que não é acompanhado pelo dólar não é algo visto necessariamente como negativo. Sobretudo porque, segundo ele, as ações listadas estão se recuperando após anos de adversidades para os ativos de risco — como pandemia, guerra, tensões comerciais e, consequentemente, inflação mundial.
Segundo o especialista, a economia brasileira não teve um desempenho que justificasse uma preferência por ativos nacionais. Junto a isso, fatores locais, como alta nas importações, contribuíram para a alta do dólar em relação ao real, tornando o retorno dolarizado ainda menor. “De todo modo, acreditamos que ainda há bastante espaço de valorização para os ativos listados e que a bolsa deve seguir em alta com um cenário potencial de estabilidade para o dólar, contribuindo para maior retorno.”