André Esteves, chairman do BTG Pactual: desempenho da economia brasileira em 2022 é um dos "mais espetaculares da história" (BTG Pactual/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 29 de setembro de 2022 às 11h52.
A próxima reforma estrutural que o Brasil vai viver, e em breve, é a tributária. Essa é a visão de André Esteves, chairman do BTG Pactual, e ela independe de qual dos candidatos líderes das pesquisas vença a eleição presidencial. “Ambos vão querer a reforma tributária e curiosamente o que está em debate não é tão diferente entre eles”, afirmou ele, durante abertura do Agro Forum, evento realizado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame). No próximo domingo, a população vai votar em primeiro turno para escolher o presidente da república que tomará posse em 2023.
Esteves apontou que essa é de todas, provavelmente uma das mais complexas, porque os interesses são diversos e legítimos, como as diferenças entre estados da federação que são importadores e exportadores, as necessidades do setor de serviços ante as do setor industrial, entre outras. Ainda assim, a percepção é de que o debate está maduro e muitas das medidas já prontas para serem implementadas. “Lembrando que esse Congresso de centro que temos já quase a aprovou”, enfatizou.
Ele destacou que o Brasil precisa reduzir a carga tributária para ter um nível adequado a um país emergente. E que, para economias nessa fase de desenvolvimento, uma carga mais leve significa maior arrecadação, e não o contrário. Apesar do contexto difícil pós-pandemia e com uma guerra em andamento, o chairman do BTG Pactual tem aproveitado suas participações em eventos para apontar os avanços que o país teve, tanto em um prazo mais curto como também em um histórico mais longo.
“A evolução de um país tem preço e é a taxa de juros”, comentou ele e fez uma linha do tempo a partir do início dos anos 90, quando o mercado de debêntures era absolutamente incipiente, pouco antes da aprovação do Plano Real. “Os títulos eram emitidos a inflação mais 25% a 30% ano, com vencimento em dois anos.” Há cerca de dez ou 15 anos, lembrou ele, as primeiras emissões de NTN-B do Tesouro Nacional tinham prazo de cinco a dez anos, e os papéis saíam a inflação mais 12% a 15% ao ano. “Agora, o Brasil está emitindo papéis com prazo de 40 anos, por inflação mais 5,5% ao ano.”
Na opinião de Esteves, essas são conquistas da sociedade, e não de governos A ou B. Ele destacou que o crescimento de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, apesar de “não encher os olhos”, é um dos resultados mais espetaculares da história, dado o contexto global no qual está inserido.
Em sua opinião, o Brasil, passada essa alta conjuntural da Selic, deveria caminhar para uma taxa nominal entre 7% e 8% ao ano. A moeda brasileira também, segundo ele, tem espaço para melhorias e chamou atenção para o bom desempenho já neste ano, em comparação com as demais moedas no mundo. Tudo isso, contudo, depende de um ambiente externo sem eventos catastróficos.
Sobre o atual cenário mundial, o chairman do BTG Pactual entende que as maiores incertezas hoje estão na Europa e chamou atenção para o agravamento do cenário nas últimas semanas, em especial com os acontecimentos no Reino Unido. “Assistimos a taxa de juros subir 100 pontos base e a libra cair 10% em um só dia.”
Mas, se tem algo que Esteves prefere manter a humildade e evitar comentários mais assertivos é a China. Ele destacou que é muito mais difícil fazer projeções a respeito do gigante que, nas últimas década, moveu boa parte da economia do planeta. Ainda assim, deu como único palpite, a expectativa de que passadas as definições do Partido Comunista a respeito da formação das próximas lideranças, medidas práticas para lidar como cenário econômico local deverão começar a ser tomadas de forma mais célere.