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Analistas recomendam mais seletividade na bolsa

A recomendação dos especialistas é abrir mão de análises setoriais e avaliar os papéis caso a caso


	Operador da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Operador da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2014 às 11h19.

São Paulo - É consenso entre os analistas que está mais difícil apontar boas escolhas de investimento na bolsa de valores, principalmente com a deterioração das perspectivas para a economia observada nas últimas semanas.

A recomendação dos especialistas é abrir mão de análises setoriais e avaliar os papéis caso a caso.

"A única solução é escolher as ações, analisando caso a caso, o famoso 'stock pick'. Neste momento, não faria uma escolha setorial, por exemplo. É preciso avaliar o quanto determinado papel está descontado em relação a outros do setor", afirma Sergio Goldman, sócio da Maximizar Gestão de Patrimônio.

Depois da safra de balanços do segundo trimestre, Daniel Gewehr, analista do Santander, espera uma revisão para baixo nas estimativas dos analistas para as empresas.

A estratégia atual da instituição é aposta em papéis com menor correlação com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no curto prazo e de companhias com histórico comprovado de vantagem competitiva.

"Selecionamos empresas que apresentam retorno do capital acima do custo de capital nos últimos cinco anos e market share acima de 10%, com tendência estável ou crescente", afirma Gewehr.

Entre as escolhas do Santander, está a administradora de planos de saúde Qualicorp.

"Acreditamos que é uma companhia que não vai sofrer com a inflação, como empresas de outros setores, e que consegue expansão de margem, mesmo em um cenário desafiador", diz Gewehr, em referência aos reajustes de preços previstos em contrato.

James Gulbrandsen, sócio da NCH Capital, gestora especializada em mercados emergentes e com sede em Nova York, também vive à procura de bons cases de investimento e considera um deles a Linx, fornecedora de soluções em software de gestão para o varejo.

"Estamos com o papel em nosso portfólio desde a oferta inicial de ações e não diminuímos a posição. Acreditamos que o crescimento da Linx independe da economia", afirma Gulbrandsen.

Outra aposta da NCH Capital é Odontoprev, que possui uma estratégia de vendas segura, "independentemente da direção da economia". "Enxergamos como um papel bem defensivo", diz.

Blue chips

Para Gulbrandsen, as blue chips hoje contam com upside limitado. Há cerca de dois a três anos, os investidores estrangeiros estavam vendidos em Brasil, explica.

E pela primeira vez desde então, eles voltaram a investir no País. Os recursos, naturalmente, foram destinados aos papéis mais líquidos. Ao longo dos próximos três trimestres, em sua avaliação, será a vez de as small caps se recuperarem.

Já a principal aposta de Sergio Goldman, da Maximizar, é a Mills, prestadora de serviços especializados de engenharia. "É a história que acompanhamos mais de perto.

Independentemente do cenário macroeconômico e do resultado das eleições, o investimento em infraestrutura vai aumentar significativamente nos próximos anos", justifica.

"A Mills participa de muitas obras de infraestrutura e é a única empresa com essa característica listada em bolsa hoje", argumenta Goldman.

O momento difícil vivido pelas companhias é facilmente traduzido em números. Gewehr, do Santander, relata que entre as 116 empresas cobertas pela instituição, 50% divulgaram resultados do segundo trimestre deste ano abaixo da estimativa.

Em média, as companhias registraram lucro líquido 6% abaixo do projetado, ao passo que o Ebitda foi 5% menor.

"Ano conta ano, no segundo trimestre, o Ebitda das empresas cresceu 5% e o lucro, 8%. Isso mostra uma desaceleração em relação aos primeiros seis meses do ano, quando o Ebitda cresceu 13% e o lucro, 12%", relata Gewehr.

"O que isso implica? Existe risco de revisão para baixo na estimativa dos analistas para o ano inteiro", afirma o analista.

Para Goldman, sócio da Maximizar Gestão de Patrimônio, a propensão de um investidor aplicar na bolsa de valores hoje é baixa. "Houve deterioração das perspectivas nas últimas semanas. E o cenário já era ruim", diz.

O Caged de junho foi visto como um divisor de águas por analistas. A baixa geração de empregos impressionou economistas.

Um mês depois, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontou que o desempenho econômico doméstico nos primeiros seis meses de 2014 foi o mais baixo desde a crise financeira internacional de 2008.

Já nesta semana foi divulgado o Caged de julho, que apresentou o pior saldo para o mês em 15 anos.

As famílias estão endividadas e o cenário a frente ainda embute uma elevação dos preços administrados.

Construção e siderurgia

Os setores de construção civil e siderurgia são os que correm mais risco de revisões para baixo, diz Gewehr. Ele relata que os resultados do segundo trimestre de muitas construtoras foram surpresas negativas e lembra que o segmento passa por dificuldades.

"O setor perdeu muita relevância em bolsa. Hoje representa cerca de 1%, mas já chegou a representar 7%, no auge", afirma.

"Estamos neutros no setor. Mas vemos com bons olhos a Eztec, que possui retorno sobre patrimônio de 25%, com alavancagem de praticamente zero", acrescenta Gewehr.

Quanto a siderurgia, Gewehr relata que possui Usiminas no portfólio. Mas ele vê risco de revisão para baixo não só desta empresa como também do setor.

"O setor automotivo não que vai ter recuperação forte, mas está chegando próximo do fundo do poço, o que significa que pode melhorar levemente", opina.

Ele explica que apesar da fraca demanda interna de aço, Usiminas segue no portfólio porque acredita que o papel já "sofreu demais".

"A ação acumula queda de cerca de 40% no ano. É um recuo muito forte", diz.

O conceito de defensivo

O momento é de aposta em papéis defensivos. Mas Gewehr tem hoje um conceito diferente de ação defensiva. "Prefiro empresas que apresentam crescimento de lucro, ainda que não paguem dividendos extraordinariamente altos", diz.

Uma das empresas que mais agrada ao analista é Kroton. Apesar de acumular valorização de quase 70% neste ano, Gewehr diz que, ao avaliar o valuation, ainda se trata de uma aplicação interessante.

Outra é o Pão de Açúcar, que por meio do negócio de supermercados apresenta uma característica defensiva.

Por outro lado, o setor de energia, que antigamente era visto como defensivo por investidores, um bom pagador de dividendos, passou por um revés, após a Medida Provisória 579, que aborda a prorrogação das concessões do segmento, e deixou de ser o queridinho daqueles que priorizam o dividend yield.

"Estamos underweight no setor", diz.

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