Notas de real e dólar em casa de câmbio: analistas cambiais veem o real sendo negociado a uma média de R$ 4,10 por dólar no fim do ano (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2015 às 19h21.
O real registra o pior desempenho do mundo neste ano. Pergunte aos analistas no topo do ranking das previsões e eles dirão que a moeda brasileira deverá enfrentar mais perdas.
Os três analistas cambiais mais precisos veem o real sendo negociado a uma média de R$ 4,10 por dólar no fim do ano, mostram dados compilados pela Bloomberg.
Para chegar lá, o real teria que cair outros 6 por cento, ampliando o declínio de 31 por cento deste ano.
O colapso do real em meio ao temor de piora das finanças do país ameaça minar os esforços do governo de combater uma inflação que se aproxima dos 10 por cento ao ano, enquanto o produto interno bruto caminha para o declínio mais longo desde 1930.
Para as empresas, que acumularam US$ 270 bilhões em dívida externa nos anos de expansão da última década, o enfraquecimento da moeda local torna o cumprimento dessas obrigações mais difícil e as coloca em risco de calote e de rebaixamentos na classificação de crédito.
“O que se tem no Brasil é um problema fiscal muito sério -- do ano passado para cá, houve um declínio brutal no orçamento e no PIB e ninguém no governo está propondo uma solução”, disse Gustavo Rangel, estrategista cambial da ING Financial Markets LLC em Nova York e estrategista mais bem classificado no terceiro trimestre.
“Primeiro é necessário garantir credibilidade para os investidores. O Brasil está fazendo tudo errado”.
O colapso -- como o da maioria das moedas dos mercados emergentes neste ano -- tem uma série de motivos, desde o fim do superciclo de commodities até a desaceleração econômica da China e o apetite anêmico por ativos de risco, de uma forma geral.
Mas o Brasil também está lidando com um abrangente escândalo de corrupção que deixou a presidente Dilma Rousseff lutando por sua sobrevivência política e provocou disputas internas no Congresso que dificultam a aprovação de medidas de austeridade, além de um rebaixamento da nota de crédito soberana para o grau especulativo.
Rangel estima que o real cairá para R$ 4,10 por dólar até o fim do ano e para R$ 4,25 em 2016, antes de se recuperar para R$ 4,15 em 2017. O Citigroup Inc. e o ABN Amro Bank NV -- o segundo e o terceiro melhores analistas -- veem a moeda brasileira sendo negociada a R$ 4,20 e a R$ 4,00 por dólar, respectivamente, até o fim de 2015.
O real subiu 1,5 por cento, para R$ 3,8526 por dólar, na terça-feira.
Uma repentina piora do cenário político ou econômico poderia até mesmo fazer com que o real temporariamente disparasse para perto de R$ 5,00 por dólar antes de se estabilizar novamente em um nível mais forte, disse Rangel.
Pelo menos um analista acredita que o pior já passou para o real: o sétimo analista mais bem classificado, Clyde Wardle, do HSBC Holdings Plc.
“Fundamentalmente, essa piora das contas públicas e a continuidade do aumento das proporções de dívida em relação ao PIB estão, em grande parte, precificadas”, disse ele.
Outro corte para o grau especulativo por uma segunda agência de classificação poderia contribuir para alguma desvalorização de curto prazo da moeda, disse Wardle, de Nova York. Ele prevê que o real cairá para R$ 4,00 até o fim deste ano e para R$ 4,20 no ano que vem.
A S&P rebaixou a classificação do Brasil para o grau especulativo no mês passado, levando o governo a anunciar uma nova rodada de medidas tributárias e de gastos destinadas a fechar o déficit no orçamento e evitar um novo rebaixamento.
Dilma também eliminou alguns ministérios e entregou o controle de outros ao maior partido do Congresso para tentar reforçar o apoio legislativo.
As medidas ainda não são suficientes, o que impedirá que o real se recupere em breve, disse Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citigroup no Brasil.
“O problema fiscal continuará sendo o foco dos investidores”, disse ele, de São Paulo. “A reforma ministerial foi um movimento pensado mais para evitar o impeachment do que para resolver o problema fiscal”.