Mesmo com esforço do BCE, a Alemanha fez questão de manter viva a tensão, ao declarar que a Linha de Estabilidade Financeira Europeia não será ampliada (Ralph Orlowski/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2011 às 10h01.
São Paulo - O Banco Central Europeu (BCE) tentou esfriar a temperatura na abertura dos negócios hoje, comprando papéis da Itália e da Espanha, mas a Alemanha fez questão de manter viva a tensão, ao declarar que a Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) não será ampliada - apesar dos sinais de que a terceira e a quarta maiores economias da zona do euro possam precisar de suporte financeiro. A declaração conturbou os mercados e diminuiu o efeito positivo da compra de títulos dos governos da Espanha e da Itália pelo BCE, embora seja também verdade que tais compras apenas evitaram o pior.
O debate de elevação da capacidade de empréstimo da EFSF existe e está endossado inclusive pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, que disse na semana passada ser favorável a um aumento. Ao mesmo tempo, pairam dúvidas sobre a capacidade de contribuição de alguns países europeus com dificuldades domésticas. Portanto, a sinalização da chancelaria alemã, depois de tantos acertos no final de semana para evitar uma segunda-feira de pânico, com reuniões de todos os "Gs", acentuou o nervosismo. O euro, por exemplo, ampliou suas perdas, e os títulos do Tesouro da Alemanha, um dos portos seguros dos investidores, saíram das mínimas.
O fato é que o ambiente é ruim. As bolsas das maiores economias europeias caem, assim como os futuros de Nova York, indicando uma abertura da sessão regular das bolsas norte-americanas em franca queda - especialmente porque quando a Standard & Poor's tirou os Estados Unidos de seu posto máximo de credibilidade na sexta-feira, quando os mercados acionários já estavam fechados. Dow Jones terminou a sexta-feira em alta de 0,54% aos 11.444,61 pontos, com investidores tentando arrancar o índice das perdas de 5,67% acumuladas na semana com as preocupações sobre a fragilidade da recuperação econômica mundial. Nasdaq fechou em baixa de 0,94% e o S&P 500 em queda de 0,06%. Às 9h21 (de Brasília), os futuros Nasdaq-100 e S&P 500 caíam mais de 2%, enquanto o Dow Jones futuro recuava 1,8%.
As bolsas europeias tiveram perdas na semana passada ainda mais expressivas, já que o olho do furacão centrou-se basicamente na Europa, depois de o Congresso dos EUA aprovar a elevação do teto da dívida dos EUA no prazo final, terça-feira. Além da desconfiança de que a crise de inadimplência vivida pela Grécia, Portugal e Irlanda poderia afetar economias maiores, sobretudo a italiana, os investidores depararam-se com a triste constatação de que, como desconfiavam, o mundo dá sinais de uma nova recessão. À série de indicadores econômicos da China, Europa e EUA negativos que vinham sendo divulgados nas últimas semanas, somaram-se as decisões dos bancos centrais do Japão e europeu de injetar mais estímulo as suas respectivas economias. As bolsas de Londres, Frankfurt e Paris embutem perdas de mais de 10% em uma semana; Itália de 15% e Espanha de 12%.
Às 9h24 (de Brasília), Londres caía 1,52% e Frankfurt cedia 2,11%, enquanto Paris recuava 1,69%. Madri subia 0,22% e Milão avançava 0,16%, sustentadas pela atuação do BCE. Fala-se que o BCE possa já ter adquirido entre 1,1 bilhão de euros e 1,5 bilhão de euros em papéis dos governos da Itália e da Espanha. A intervenção influenciou também o custo da proteção contra calote de ambos países, que caiu, enquanto o das grandes economias europeias continuou subindo. O custo de proteção contra o calote da França atingiu um recorde, embora expressivamente inferior ao custo atual de proteção contra os países da periferia da Europa.
Nesse cenário, a procura por ativos seguros, como o ouro, os títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries), os bunds - títulos do governo da Alemanha -, cresceu significativamente. Hoje, o ouro bateu recorde acima de US$ 1.700,00, representando uma alta de quase 5% no mês de agosto e de mais de 10% em um mês. Os Treasuries, papéis do governo dos EUA, seguem demandados, apesar do corte no rating dos EUA. Na semana passada, especialistas diziam que o mercado de Treasuries é grande demais para que haja uma fuga desses papéis, acrescentando que vendas sempre encontrarão compras a um determinado preço.