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Ambev e Vale perdem melhor recuperação de ações do mundo

As duas empresas perderam pelo menos 1,6% desde 14 de março, quando o Ibovespa atingiu a mínima deste ano


	Cerveja: a Ambev não atinge as estimativas de lucros há seis trimestres seguidos
 (Agência Odin / Veja BH)

Cerveja: a Ambev não atinge as estimativas de lucros há seis trimestres seguidos (Agência Odin / Veja BH)

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Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2014 às 14h42.

Duas das maiores empresas do Brasil não estão se beneficiando do maior rali de ações do mundo porque o crescimento lento está esfriando a demanda por produtos como cerveja e commodities.

A Ambev SA, unidade local da Anheuser-Busch InBev NV, e a Vale SA, a maior produtora de minério de ferro do mundo, perderam pelo menos 1,6 por cento desde 14 de março, quando o Ibovespa atingiu a mínima deste ano.

Liderado pela Petrobras, o índice subiu 29 por cento no período, impulsionado pela especulação de que uma possível mudança de governo reduziria a intervenção em empresas estatais.

A cervejeira Ambev não atinge as estimativas de lucros há seis trimestres seguidos em meio a um crescimento mais lento no Brasil, país que responde por mais de metade de sua receita. A Vale caiu devido aos sinais de enfraquecimento da demanda por minério de ferro na China, maior consumidor do material no mundo.

Embora uma menor interferência do governo possa beneficiar o mercado brasileiro em geral, ambas as empresas precisariam de uma melhora na economia para se recuperarem, segundo Álvaro Marangoni, sócio da Quadrante Investimentos Ltda.

“A Vale depende da atividade global, principalmente da China, enquanto a Ambev depende da atividade doméstica”, disse Marangoni, cuja empresa oferece serviços de assessoria a investimentos, por telefone, de São Paulo. “Uma política pró-empresas vai beneficiar mais empresas estatais como a Petrobras e o setor elétrico”.

O Ibovespa lidera os ganhos entre os maiores índices acionários do mundo desde março, quando atingiu a mínima em cinco anos, com as apostas de que a presidente Dilma Rousseff não será re-eleita em meio a uma desaceleração da economia.

As ações da Petrobras e da também estatal Centrais Elétricas Brasileiras SA saltaram pelo menos 49 por cento durante o período. O índice teve uma retração de 5,4 por cento neste mês até o momento.

Pesquisa eleitoral

Desde que assumiu, em janeiro de 2011, Dilma ampliou o papel do governo nas empresas, mudando as regras de renovação de concessões para baixar as tarifas de eletricidade e limitando os preços da gasolina para conter a inflação.

A candidata à reeleição está empatada com a candidata de oposição Marina Silva em um possível segundo turno da eleição, no mês que vem, mostrou uma pesquisa do Ibope publicada em 12 de setembro.

“Com um cenário de possível não vitória da Dilma, pode ser que alguns investidores tenham começado a se reposicionar indo buscar mais risco”, disse Saulo Sabba, sócio da Faros Consultoria, por telefone, do Rio de Janeiro.

A Ambev, que foi superada pela Petrobras em julho como a maior empresa do Brasil em valor de mercado, é vista como uma ação “defensiva” pelos investidores, disse ele.

Sem sinais

A economia brasileira entrou em recessão no segundo trimester, com a inflação acima da meta corroendo a confiança do consumidor e dos empresários. A Moody’s Investors Service reduziu a perspectiva do rating de crédito do país em 9 de setembro, citando “a falta de sinais de uma recuperação”.

Porta-vozes da Ambev e da Vale preferiram não comentar o desempenho das ações e as perspectivas para a economia e para a política quando as empresas foram contactadas pela Bloomberg News. AmbAs pediram para não serem identificados, citando políticas das empresas.

A assessoria de imprensa presidencial preferiu não comentar o impacto da perspectiva política sobre as ações em uma resposta a perguntas enviadaS por e-mail. Assessores de imprensa das campanhas de Dilma e Marina não responderam aos e-mails em busca de comentário.

Tanto a Vale quanto a Ambev oferecem boas oportunidades de investimento a longo prazo à medida que a economia global se acelera, segundo João Pedro Brugger, gerente de carteira da Leme Investimentos. O produto interno bruto crescerá 2,5 por cento neste ano em uma base mundial, contra 2,2 por cento em 2013, segundo a média das estimativas dos economistas em uma pesquisa da Bloomberg.

‘Empresas sólidas’

“São empresas sólidas, gostamos de ambas”, disse Brugger, que ajuda a gerenciar R$ 520 milhões (US$ 221,9 milhões), incluindo ações da Vale e da Ambev, por telefone, de Florianópolis. “Parece que a queda da Vale foi um pouco exagerada e precifica um cenário de economia global crescendo muito pouco. E a Ambev foi mais uma parada técnica por ter subido muito nos últimos anos”.

O Bloomberg Commodity Index tocou sua mínima em cinco anos ontem depois que um relatório mostrou que a produção industrial da China cresceu no ritmo mais fraco desde a crise financeira global.

A estimativa para a expansão do PIB do Brasil em 2014 e em 2015 caiu para 0,33 por cento e 1,04 por cento respectivamente, segundo uma pesquisa do Banco Central publicada ontem. Isso contrasta com a previsão da semana anterior, de 0,48 por cento e 1,1 por cento.

“Um governo que vai focar mais em inflação e metas fiscais levaria a uma melhora da economia e aí teríamos a Ambev com performance melhor, mas isso é de 2016 em diante”, disse Marangoni. “E enquanto não tivermos uma retomada mais abrangente dos mercados globais, não vejo espaço para melhora de preço das commodities e da Vale”.

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