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Alta da Selic pode não ter efeito sobre trajetória do dólar

Moeda americana se valorizou nos últimos dias, com o real tendo o pior desempenho entre as moedas emergentes

O dólar se valorizou nos últimos dias, com o real tendo o pior desempenho entre as moedas emergentes (halduns/Getty Images)

O dólar se valorizou nos últimos dias, com o real tendo o pior desempenho entre as moedas emergentes (halduns/Getty Images)

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Beatriz Quesada

Publicado em 4 de março de 2021 às 16h43.

(Bloomberg) O dólar pode ter pouco alívio com uma esperada elevação da Selic no dia 17, se os investidores não dissiparem suas incertezas fiscais e se não houver melhora também na pandemia, dois fatores que têm piorado o cenário do Brasil.

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Embora uma alta de 0,50 ponto percentual – como está majoritariamente precificado na curva de juros, possa teoricamente melhorar a atratividade da moeda – analistas dizem que isso pode não ser suficiente. Mesmo um aperto mais agressivo faria pouco para resgatar o real, dizem alguns.

Uma amostra de quanto o fiscal está por trás da alta do dólar foi vista nesta quarta-feira, quando a cotação cedeu rapidamente de 5,75 reais para 5,63 reais após o presidente da Câmara, Arthur Lira, descartar riscos ao teto de gastos na votação da PEC Emergencial – depois aprovada em dois turnos no Senado. Um resultado que o BC não conseguiu alcançar mesmo com dois leilões de swap cambial no mesmo dia.

“Podemos ver um alívio no câmbio se for aprovada a PEC com os gatilhos e se o BC elevar os juros para lidar com o problema da inflação”, diz Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil. Uma coisa sem a outra também não vai adiantar.

“Se resolver o problema fiscal, a gente ainda tem um problema de inflação e de juro muito baixo, que atrapalha o câmbio, e também se elevar o juro e não resolver o problema fiscal, o mercado vai começar a colocar em questão a dominância fiscal e a sustentabilidade da dívida”, completa.

O dólar se valorizou nos últimos dias, com o real tendo o pior desempenho entre as moedas emergentes, enquanto a precificação de alta da Selic saltou da faixa de 40 pontos-base para a casa dos 65 pontos, indicando chances marginalmente maiores de o Banco Central elevar o juro em 0,75 ponto percentual – no que seria o maior aumento de taxas em mais de uma década.

“Em tempos normais, o esperado aumento de taxa de 50 a 75 pontos-base daria ao real alguma tração, mas estes não são tempos normais”, disse Win Thin, estrategista da Brown Brothers Harriman. “O sentimento sobre o Brasil mudou drasticamente e será difícil reverter isso tão cedo, especialmente porque a pandemia continua a grassar.”

A precificação marginal de alta de 0,75 ponto percentual reflete risco maior pela deterioração da discussão sobre o fiscal, segundo Solange Srour. Já uma alta de apenas 0,25 ponto percentual seria muito mal-acolhida pelo mercado, mesmo em um cenário em que a PEC Emergencial esteja encaminhada.

As altas do dólar e dos juros futuros têm uma fonte comum, que é a incerteza fiscal, mas isso não significa que o BC vai elevar a Selic em 0,75 ponto para segurar o câmbio, diz Rachel de Sá, analista de macroeconomia da XP Investimentos. “O objetivo do BC não é controlar o dólar, e sim a inflação. O câmbio não tem teto.”

 

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