Guerras pelo mundo podem causar um sério problema (Eyad Baba/AFP)
Redator na Exame
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 11h43.
Gerenciar riscos é uma das tarefas mais importantes para os profissionais de investimentos e, atualmente, a lista de possíveis armadilhas é extensa. De eleições contenciosas ao redor do mundo a guerras mortais no Oriente Médio e na Ucrânia, além de economias em um momento crítico após o mais agressivo ciclo de aperto monetário das últimas décadas, os investidores enfrentam um caminho incerto em busca de retornos. As informações são da Bloomberg.
Além dos riscos visíveis, existem outros que ainda não estão no radar de muitos investidores. Para avaliar os perigos que podem surgir, foram ouvidos três executivos com vasta experiência em gestão de recursos: Angel Ubide, chefe de pesquisa econômica para renda fixa e macroeconomia no fundo de hedge Citadel; Armen Panossian, co-CEO da Oaktree Capital Management; e Anne Walsh, diretora de investimentos da Guggenheim Partners Investment Management.
Armen Panossian, da Oaktree Capital Management, vê a inteligência artificial (IA) como um dos maiores riscos para o futuro. Embora a IA tenha o potencial de gerar grandes ganhos econômicos, aumento de receita e eficiência de custos, os impactos sociais dessa tecnologia são frequentemente subestimados. O risco de que milhões de pessoas percam seus empregos devido à automação é real, e a falta de preparação para esse cenário pode resultar em agitação social.
No mercado financeiro, a IA está recebendo muito apoio, semelhante ao que ocorreu com a internet nos anos 1990. No entanto, caso o desenvolvimento dessas tecnologias leve mais tempo do que o esperado para gerar retornos, pode haver uma reavaliação violenta dos ativos, resultando em perdas para os investidores. Panossian destaca a importância de ser seletivo ao alocar capital em IA, evitando exposições excessivas e lembrando dos desafios enfrentados durante o boom das fibras óticas.
Caso ocorra uma desvalorização dos ativos relacionados à IA, Panossian acredita que surgirão oportunidades para investimentos mais oportunistas e em ativos estressados. No entanto, ele alerta que, se não forem tomadas medidas para requalificar os trabalhadores para o novo cenário econômico pós-IA, a sociedade enfrentará problemas graves, incluindo a ampliação da desigualdade e a necessidade de um estado de bem-estar social mais robusto.
Angel Ubide, da Citadel, aponta para a força e sustentabilidade da economia europeia como um dos principais riscos para os próximos anos. Segundo ele, estamos vivendo em um mundo diferente do que conhecemos nas últimas duas décadas, e não está claro se a Europa está preparada para essa nova realidade.
Com os Estados Unidos, China e Europa competindo em diversas frentes – desde economia até segurança nacional e independência energética –, a Europa parece estar em uma posição vulnerável. Enquanto EUA e China adotam políticas que os colocam à frente, a Europa ainda luta para se alinhar. A fragmentação da economia europeia em nível nacional é um dos principais obstáculos para o continente competir em áreas como tecnologia, clima e defesa.
Ubide destaca a necessidade de uma maior cooperação europeia, com a criação de "campeões europeus" que possam competir globalmente. A falta de progresso nesse sentido pode levar a um mundo mais bipolar, dividido entre EUA e China, com uma Europa enfraquecida, o que traria consequências para a estabilidade da economia global.
Anne Walsh, da Guggenheim Partners, vê o período pós-pandemia como um dos principais fatores que moldam os riscos atuais. Ela chama esse fenômeno de "eco da Covid", referindo-se às consequências das políticas e programas implementados durante a pandemia que ainda reverberam na economia global
Um dos efeitos mais significativos é a aplicação desigual de capital. Grandes empresas têm fácil acesso a capital, enquanto pequenas e médias empresas enfrentam custos elevados e dificuldade de acesso a financiamento. Essa bifurcação na economia é exacerbada pelas políticas do Federal Reserve, que incluem taxas de juros mais altas e o aperto quantitativo.
Walsh observa que, antes da pandemia, o Fed se preocupava mais com a disparidade entre diferentes classes de renda e com a subutilização da força de trabalho. Nos últimos dois anos, no entanto, esse tema não tem sido uma prioridade. A economista acredita que, para reequilibrar a economia global, ainda é necessário retirar cerca de US$ 3 trilhões (R$ 16,5 trilhões) em liquidez do sistema.
Apesar de defender a importância das taxas de juros, Walsh acredita que o Fed deveria ter reduzido as taxas mais rapidamente após a falência do Silicon Valley Bank. Ela alerta que os níveis atuais de endividamento são insustentáveis, e o aumento dos custos da dívida está começando a prejudicar até mesmo os gastos com defesa. Para Walsh, o excesso de políticas fiscais em curso pode levar a um colapso econômico se não houver uma correção significativa.