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Afya relança marca para reforçar negócios 'além da sala de aula'

Empresa de ensino de medicina quer consolidar posicionamento na jornada do médico com educação continuada e serviços para aumentar frequência, tíquete médio e melhorar margem do negócio

Um dos negócios da Afya é a Medical Harbour, que desenvolve imagens em 3D (Afya / Divulgação/Site Exame)

Um dos negócios da Afya é a Medical Harbour, que desenvolve imagens em 3D (Afya / Divulgação/Site Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 6 de julho de 2023 às 10h00.

Altamente digitalizada, próxima da indústria de saúde e da vida do médico até sua aposentadoria, a empresa de ensino de medicina Afya concluiu que era hora de mudanças para deixar claro essa atuação que vai muito além da sala de aula. Agora, a letra A da marca da empresa de ensino de medicina Afya perde o ponto e passa a ter um formato mais fluído, dando ideia de continuidade.

A diferença pode parecer sutil, mas vem justamente para atender ao objetivo da empresa de ser reconhecida cada vez mais em todas as jornadas da carreira médica e, assim, ganhar mais participação de mercado em seus negócios (hoje, todas as operações somas têm 10,5% de market share), aumentar a frequência para sua operação educacional e de serviços e aumentar o tíquete médio de todo o negócio. A partir do segundo semestre, todas as marcas do grupo passam a ter Afya no nome, algo que ainda não tinha acontecido depois da série de aquisições feitas depois do IPO na Nasdaq, em Nova York, em 2019.

Stella Brant, VP de marketing Afya (Afya/ Divulgação/Site Exame)

"Queremos ser reconhecidos como a marca referência para a sociedade geral e médica. Tantas marcas dificulta o entendimento do que fazemos. Somos o único lugar que tem todas as soluções para o médico. Independentemente do que ele precisa, vamos ter a solução ou vamos criar. O médico está no centro da estratégia", explica Stella Brant, vice-presidente de marketing e sustentabilidade da Afya. A nova marca é apresentada nesta quinta-feira, 6, pela empresa em seu Investor Day.

Quando a Afya chegou à Nasdaq os planos eram ambiciosos. Da abertura de pequenas universidades de medicina no fim dos anos 90 chegou ao grupo que era em 2016, mas ali queria dobrar do tamanho, passando de 1200 vagas para algo em torno de 2400, mas o ritmo surpreendeu: em um ano e meio já eram 1500 vagas novas de graduação de medicina. A corrida encontrou barreiras durante a pandemia da covida-19, mas logo voltou a ganhar tração e hoje são 33 faculdades e 15 unidades de pós-graducação com clínicas parceiras.

O grupo vive agora, no entanto, uma quarta fase em que passa a ter um grande hub de serviços, conta Virgilio Gibbon, CEO da Afya, em entrevista à EXAME Invest. São soluções como protocolo digital, gestão de prontuário e mesmo de recebíveis para a fase de gestão de negócios da vida do médico. Além do White Book, uma plataforma digital que funciona como um enorme depositório de informações médicas para auxiliar o profissional na hora do diagnóstico e do tratamento.

Hoje, em torno de 300 mil médicos e estudantes de medicina utilizam as plataformas digitais da Afya, segundo a empresa, mas muitos ainda nem identificam alguns produtos como serviços da empresa, o que motivou o investimento na mudança de marca e reestruturação de como todo ecossistema se apresenta. O grupo também tem ampliado suas apostas nos serviços B2B, ou seja, para outras empresas. Um exemplo é o lançamento recente de uma ferramenta para o setor farmacêutico que consegue prever a demando de medicamento. No total,  em 2022, o braço de serviços reportou receita de R$ 190 milhões. "Queremos consolidar 5% desse mercado até 2028", diz o CEO.

Toda essa somatória de graduação, educação continuada e serviços para médicos e empresas do setor de saúde devem levar a companhia a uma receita líquida de até R$ 2,8 bilhões neste ano, projeta Gibbon.

Inteligência artificial e estratégica de crescimento

Uma quinta fase da Afya ainda está mais no campo das ideias, conta Gibbon, mas já tem um caminho para começar e envolve a aplicação de ferramentas de inteligência artificial. Hoje, por exemplo, algumas das ferramentas de IA em desenvolvimento para ajudar a aumentar a base de dados do White Book. Um exemplo, conta o executivo, é uma ferramenta de escuta ativa que vai ajudando o médico na transcrição dos sintomas do paciente.

"Acredito que a adoção da Inteligência Artificial vais er muito parecida com o que aconteceu no pós-pandemia, como o que aconteceu, por exemplo, com a modalidade de telemedicina. Acho que o impacto vai ser parecido. É uma ferramenta de suporte à decisão clínica, que reduz erro médico e dá produtividade", diz Gibbon.

Virgilio Gibbon, CEO da Afya (Afya/ Divulgação/Site Exame)

O avanço nessa frente ainda vai levar algum tempo, mas a companhia tem buscado reforçar a importância da tecnologia dentro do seu escopo de atuação. De 2020 para cá, 12 healthtechs foram compradas, num investimento de cerca de US$ 100 milhões totais. Além disso, a Afya investiu de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões em 2022 para o desenvolvimento orgânico, uma cifra que deve girar entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões neste ano, segundo o CEO.

A estratégia do grupo é bem recebida pelo mercado. Das oito recomendações para as ações, seis são de compra e duas se mantém neutro: o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) e o Morgan Stanley. Em 2022, mais um voto de confiança: o grupo alemão Bertelsmann, que entrou no negócio há cerca de 8 anos por meio do fundo Bozano, aumentou sua fatia na empresa e se tornou controlador. Em julho de 2023 já somava 59,8% do capital votante da Afya.

O entendimento de analistas, porém, é de que o ano de 2023 ainda vai ser de margens mais pressionadas. "A MedCel [de cursos preparatórios para residência médica] continua enfrentando um cenário desafiador", escreveu a equipe do Bank of America em maio. No primeiro trimestre, a empresa reportou 25,4% a mais de receita líquida, a R$ 709,9 milhões, e um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amorttização) 22% maior, a R$ 330,2 milhões, mas com uma margem 1,2 ponto percentual menor do que no mesmo período de 2022, a 46,5%.

"A empresa continua entregando consistentemente em seu principal negócio: a graduação médica, que é mais estável e previsível do que outros cursos. A recuperação da unidade de negócios de especialização é bem-vinda, apesar de suas margens mais baixas. As pressões dos cursos preparatórios de crescimento podem persistir para 2023, mas acreditamos que o case continua atrativo dada a estabilidade e crescimento do negócio principal e a forte geração de caixa", escreveu a equipe do Credit Suisse após os primeiros números de 2023.

Grupo de educação tem cerca de 20 mil alunos de graduação em Medicina atualmente (Afya/ Divulgação/Site Exame)

Nos relatórios a expectativa com novas vagas de gradução para o programa Mais Médicos também é evidente. Uma das bandeiras do governo petista, o programa deve ganhar uma portaria com as novas regras em agosto. A empresa, conta Gibbon, espera essas informações do governo. Em 2018, a Afya foi selecionada para sete escolas. Em 2022, duas unidades foram inauguradas no Pará, atendendo a importância de interiotizar o ensino de medicina, argumenta Gibbon. "No Norte e Nordeste tem menos de 1 médico para 1000 habitantes. Muitos [grupos de ensino] estão querendo só o 'hype', querem abrir vaga no Sudeste." Hoje, a Afya em cerca de 20 mil alunos de graduação em Medicina e 62 mil alunos totais.

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