Loja da Oi: a empresa de telefonia reduzirá seu dispêndio de capital para R$ 5 bilhões neste ano dos R$ 6,3 bilhões em 2013 (Pedro Zambarda/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2014 às 14h57.
Nova York e São Paulo - O pessimismo em relação ao Brasil que eliminou US$ 260 bilhões em valor do mercado acionário nos últimos doze meses está se espalhando, e companhias como a operadora de telefonia celular Oi SA e a fabricante de aviões Embraer SA estão reduzindo gastos.
Cerca de 25 por cento das empresas brasileiras esperam que a demanda doméstica tenha um efeito negativo sobre os planos de investimento para 2014, frente a 13 por cento no começo do ano passado, conforme estimativas da Fundação Getúlio Vargas, uma universidade e instituição de pesquisa com sede no Rio de Janeiro.
Aqueles que veem uma influência positiva da demanda sobre o gasto caíram de 67 por cento para 47 por cento.
A Oi e a varejista Cia. Hering dizem que estão se preparando para um ano desafiador pela frente nos seus últimos relatórios de lucros, pois se prognostica que o Brasil cresça no menor ritmo entre os maiores mercados emergentes do mundo.
A Standard Poor’s reduziu a nota de crédito da dívida soberana do País para BBB-, a menor nota com grau de investimento. A queda de 25 por cento no índice de referência Ibovespa nos últimos 12 meses é a maior entre os principais mercados acionários em termos de dólares, e a Schroder Investment Management diz que a queda piorará.
“Quero encontrar razões para acreditar no Brasil, mas estou tendo dificuldades”, disse Allan Conway, que ajuda a supervisionar US$ 435 bilhões como diretor de ações de mercados emergentes na Schroder, em entrevista de Nova York. “Ninguém está esperando bons resultados. A questão é: estão sendo suficientemente baixistas? Eu acho que não”.
Cenário desafiador
A Hering, a varejista de pior desempenho no índice MSCI Brazil/Consumer Discretionary neste ano, disse na sua última reunião de lucros que os novos investimentos estarão “menos ligados a aumentos na capacidade”, pois espera um cenário desafiador no primeiro semestre do ano.
A empresa planeja abrir 100 lojas com as marcas Hering e Hering Kids em 2014, frente a 120 no ano passado, conforme um documento regulatório.
"Estamos trabalhando para manter nosso crescimento", disse o diretor financeiro Frederico Oldani em resposta por e-mail a questões. "Mas há aspectos que independem de nós, como a volatilidade do câmbio”. A Hering espera uma melhoria no segundo semestre do ano, disse ele.
A Oi reduzirá seu dispêndio de capital para R$ 5 bilhões (US$ 2,2 bilhões) neste ano dos R$ 6,3 bilhões em 2013, disse a operadora de telefonia celular com sede no Rio de Janeiro em seu relatório de lucros para 2013.
A situação fiscal do Brasil e as eleições presidenciais devem fazer com que 2014 apresente “desafios adicionais”, segundo o documento. Em agosto, o CEO Zeinal Bava disse que reduziria investimentos e que faria “mais com menos”.
Recuperação recente
Após dois anos de reduções nos investimentos, uma recuperação recente nas vendas de varejo e na criação de empregos poderia levar algumas empresas a repensar seus planos de gastos, disse Nataniel Cezimbra, analista do Banco do Brasil SA.
"É claro que é desafiador esse ano, mas eu acho que as empresas mostraram resiliência ao longo desses dois últimos anos" disse Cezimbra, que tem uma meta de 65.000 pontos para o Ibovespa até o final do ano, em entrevista por telefone de São Paulo.
"Elas tiveram capacidade e flexibilidade de adaptar a gestão delas a esse novo cenário macroeconômico e estão apresentando resultados bons. E principalmente se você vir o lado de renda, de criação de emprego, do varejo, está abrindo uma possibilidade muito boa de papéis se valorizarem e das empresas voltarem a investir".
Os analistas esperam que o Ibovespa alcance cerca de 63.000 nos próximos doze meses, frente a 48.000 atualmente, mostram dados compilados pela Bloomberg. Há um ano, os analistas esperavam um rali de até 70.000 para o índice, que na época operava a cerca de 55.000.
“Há um pessimismo crescente”, disse Kunal Ghosh, gerente de portfólios de mercados emergentes na Allianz Global Investors. “As expectativas serão zeradas. Elas ainda estão altas demais”.