Traders na Bolsa de Nova York: ações podem subir apesar do início do ciclo de aperto monetário | Foto: Michael Nagle/Bloomberg (Michael Nagle/Bloomberg)
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Publicado em 19 de dezembro de 2021 às 14h15.
Investidores responderam à nova postura do Federal Reserve no combate a inflação -- expressada na reunião da última quarta-feira, dia 15 -- com um giro para ativos de risco, refletido na alta dos mercados acionários e na estabilização dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Estrategistas de renda variável destacaram o cenário normalmente positivo para as ações nos estágios iniciais de um ciclo de aperto monetário, mesmo com o alerta de analistas de títulos e câmbio, que esperam mais volatilidade nesses mercados em 2022. Embora o dólar tenha caído na quarta-feira, dia 15 (dia da reunião em que o Fed divulgou sua nova estratégia), especialistas acreditam que a desvalorização seja temporária e que o rali será retomado.
“Os preços das ações passaram do vermelho ao verde, provavelmente porque a incerteza foi dissipada e o presidente do Fed não parecia tão hawkish quanto muitos temiam”, disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research, sobre a política de aperto monetário de Jerome Powell.
“A história diz, mas não garante, que os apertos anteriores do Fed resultaram em pequenos aumentos de preços para o mercado acionário no ano seguinte.”
Stovall observou que o índice S&P 500 subiu inicialmente durante a maioria dos 17 ciclos de aperto monetário do Fed pós-Segunda Guerra Mundial, com ganho médio de cerca de 3,5% para os períodos entre a primeira alta e a terceira.
Traders agora precificam o primeiro aumento dos juros nos EUA em junho do ano que vem, enquanto o Fed indicou que pode haver três altas em 2022.
Em uma guinada da política monetária, o Fed acelerou a redução de seu programa de compras de ativos e traçou um roteiro para oito aumentos das taxas de juros até 2024. Powell também levantou a possibilidade de o banco central começar a enxugar a liquidez em breve, reduzindo seu enorme balanço.
Embora investidores de renda variável tenham aprovado a combinação da certeza em relação aos passos do Fed com uma perspectiva confiante, também há sinais de cautela, pois estrategistas destacaram os riscos das políticas de aperto ou o impacto da variante Ômicron sobre a expansão.
“O Fed provavelmente continuará agindo com cautela, enquanto caminha pela linha tênue de tentar esfriar a inflação sem desacelerar a economia de maneira muito drástica”, disse Charlie Ripley, estrategista sênior de investimentos da Allianz Investment Management.
“A realidade é que a incerteza em torno da política do Fed é alta, e provavelmente permanecerá assim enquanto o presidente Powell tenta desfazer o maior pacote de estímulo monetário da história sem disrupção.”
Estrategistas de câmbio esperam que a força do dólar seja consolidada, apesar dos ganhos das moedas atreladas a commodities no overnight, como os dólares australiano e neozelandês. O National Australia Bank prevê quatro aumentos dos juros pelo Fed em 2022, desde que a pandemia não afete significativamente a economia.
“Claramente, não houve drama suficiente para justificar uma extensão material do rali do dólar”, disseram estrategistas do HSBC, como Daragh Maher, em nota. “Ainda esperamos uma força gradual do dólar ao longo de 2022, apoiada pelo movimento em curso do Fed para a saída da política monetária acomodatícia.”
Quanto ao impacto sobre ativos de mercados emergentes -- que muitas vezes ficam sob pressão quando os rendimentos dos Treasuries aumentam --, a Ásia é vista como a mais bem preparada para enfrentar o giro de aperto monetário.
“Fortes superávits comerciais na região, a demanda doméstica se recuperando após a recente flexibilização das restrições e grandes colchões de reserva cambial devem ajudar a minimizar a volatilidade”, disse Khoon Goh, chefe de pesquisa para Ásia no Australia & New Zealand Banking. “Vários bancos centrais asiáticos também devem estar em posição de começar a normalizar a política juntamente com o Fed, o que vai ajudar.”
Outros estrategistas apontaram para a crescente influência do yuan da China no espaço cambial de mercados emergentes como contrapeso ao dólar.