Marcelo Alemi, criador do perfil Monkey Stocks: o acaso pode dar tão certo quanto estratégias bem boladas. (Marcelo Alemi/Divulgação)
Tais Laporta
Publicado em 29 de julho de 2019 às 10h08.
Última atualização em 29 de julho de 2019 às 16h03.
Tudo não passa de uma brincadeira nas redes sociais. Mas o fato é que uma carteira fictícia de ações está dando o que falar entre investidores e entusiastas do mercado por sua atrativa rentabilidade. O perfil Monkey Stocks (@monkeystocks), no qual o personagem “Macaco Zé” sorteia toda semana cinco ações da bolsa, já reúne 19 mil seguidores no Instagram.
A razão do sucesso? Em 26 semanas, a carteira aleatória acumulava um retorno de 26,62%, contra 8,51% da XP Top Picks, com cinco papéis escolhidos a dedo pelo time da XP Investimentos. Também ganhava dos 7,66% do principal índice da bolsa, o Ibovespa, e dos 3,47% da Nova Futura Investimentos no período entre 21 de janeiro e a semana de 19 de julho.
O criador do perfil, Marcelo Alemi, é enfático ao pedir que ninguém leve a sério a brincadeira. “Não sigam as minhas dicas”, diz a descrição do perfil. Auto-intitulado "mestre da anti-análise", o publicitário e investidor de 39 anos conta que a intenção é mostrar que, quando se trata de lucrar no mercado de ações, o acaso pode funcionar tão bem quanto estratégias bem pensadas.
A teoria não surgiu do nada. Em 1973, um estudo feito nos EUA pelo professor da Universidade de Princeton Burton Malkiel mostrou que se você colocar uma venda nos olhos de um macaco e fizer ele jogar dardos sobre páginas de um jornal de finanças, ele é capaz de escolher um portfólio mais rentável que uma carteira de ações selecionada cuidadosamente por especialistas.
A consultoria de gestão de recursos Research Affiliates fez um experimento parecido. A empresa selecionou 100 carteiras com 30 ações dentro de um universo de 1000 ativos, e repetiu o processo todos os anos entre 1964 e 2010. A cada ano, 100 macacos jogaram dardos na direção das páginas de ações de um jornal. O resultado? Na média, 98 de 100 portifólios selecionados pelos macacos tiveram um desempenho superior às carteiras de ações.
Alemi se inspirou neste tipo de estudo para criar o Monkey Stocks. “Ninguém havia tentado fazer isso nas redes sociais”. Investidor experiente, ele chegou a praticar o day trade (modalidade de investimento no curtíssimo prazo). Durou cerca de um ano e desistiu. “Parece que foram 10 anos”, diz.
Para o publicitário, o desgaste de investir no curto prazo não compensa o esforço, ainda mais quando se tem um emprego fixo para conciliar com a atividade. Ele continua investindo, mas prefere a estratégia “buy and hold (compre e segure), que consiste em vislumbrar os ganhos apenas no longo prazo.
Apesar do sucesso da carteira do Macaco Zé nas redes sociais, Alemi acredita que cedo ou tarde o desempenho será superado pelos demais. “Pode ser que no mês que vem eu tome um pau da XP. Isso mostra que todo mundo está suscetível no mercado”, diz Alemi. Seja qual for o desempenho no futuro, os seguidores do MonkeyStocks devem continuar se divertindo.