Redator na Exame
Publicado em 21 de outubro de 2024 às 07h01.
As ações de empresas de energia nuclear atingiram recordes históricos esta semana, após Amazon e Google fecharem acordos marcantes para fornecimento de energia, fortalecendo os esforços para implantar os primeiros pequenos reatores modulares (SMRs) nos Estados Unidos. As negociações reforçam a implantação de até uma dúzia de reatores de nova geração, com o objetivo de fornecer eletricidade de baixa emissão de carbono para alimentar os centros de dados de inteligência artificial das gigantes tecnológicas.
De acordo com o Financial Times, as ações das desenvolvedoras de SMRs, Oklo e NuScale Power, subiram 99% e 37%, respectivamente, após concorrentes como X-energy e Kairos Power, duas empresas privadas de SMRs, anunciarem acordos de financiamento. Além disso, as ações de empresas como Cameco, Constellation Energy e BWX Technologies também registraram máximas históricas durante a semana.
Esse cenário é visto pelos investidores como um sinal de que o renascimento da energia nuclear está se acelerando, após um período de queda provocado pelo acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. A demanda crescente por centros de dados, alimentados pela inteligência artificial, está impulsionando o aumento histórico no consumo de eletricidade nos Estados Unidos, comprometendo os esforços para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e descarbonizar a economia.
Constellation Energy, que opera a maior frota de reatores convencionais nos EUA, viu suas ações mais do que dobrar desde o início do ano. Recentemente, a empresa assinou um contrato de fornecimento de energia de 20 anos com a Microsoft, o que levará à reabertura da usina nuclear de Three Mile Island, na Pensilvânia, local do mais grave acidente nuclear da história dos EUA, ocorrido em 1979, quando um dos reatores sofreu uma fusão parcial.
O produtor de urânio Cameco viu suas ações subirem 38% este ano, enquanto as ações da fornecedora de componentes nucleares BWX Technologies aumentaram 65%.
O recente movimento no setor nuclear se dá em meio a preocupações de que energias renováveis, como solar e eólica, não sejam suficientes para garantir a estabilidade e custo efetividade necessários para alimentar o boom de demanda gerado pela IA. Investidores, no entanto, mostraram-se céticos quanto ao financiamento de novos projetos de reatores modulares. As preocupações incluem o histórico do setor em entregar projetos dentro do prazo e orçamento, além de altas taxas de juros e a falta de clientes dispostos a financiar projetos que apresentem riscos maiores, como é o caso dos primeiros reatores.
Ainda no ano passado, a X-energy foi forçada a cancelar um acordo de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,24 bilhões) para abrir capital por meio de uma empresa de aquisição de propósito específico, devido às “condições desafiadoras do mercado”. Posteriormente, a NuScale cancelou planos de construir o primeiro pequeno reator modular nos EUA, pois não conseguiu gerar interesse suficiente das concessionárias de energia, após aumentar os preços em mais de 50% nos últimos dois anos.
A indústria nuclear também está sendo impulsionada por bilhões de dólares em financiamento do governo dos EUA, que está preocupado com a liderança de países como China e Rússia no setor nuclear, após esses países terem implementado reatores modulares em seus territórios.