Loja da Oi: as ações da Oi fecharam em queda de 6,40% ontem (MARCELO CORREA / EXAME)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2014 às 09h07.
Londres - A operadora Portugal Telecom, que está em processo de fusão com a brasileira Oi, já perdeu cerca de 2 bilhões em valor de mercado nos últimos anos. O montante é mais que o dobro do calote de 900 milhões que a companhia tomou em julho de uma das empresas do Grupo Espírito Santo, que entrou em colapso neste ano.
Em 2014, a desvalorização dos papéis da operadora é de 70%.
Só nesta segunda-feira, 20, as ações da tele portuguesa despencaram 10% em resposta à informação divulgada na última sexta-feira de que a Justiça de Luxemburgo rejeitou o pedido de recuperação judicial apresentado pela Rioforte Investimentos, braço de investimentos não financeiros do Grupo Espírito Santo (GES), que deu o calote na PT.
Sem aprovação do pedido de recuperação, a empresa deverá ser forçada a pedir falência, mesmo fim do Banco Espírito Santo (BES).
As autoridades portuguesas decidiram agir, no fim do dia, para conter a sangria: foi proibida, após o fechamento do mercado, a venda a descoberto das ações da operadora. Nesse tipo de operação, investidores se comprometem a entregar a ação no futuro por um preço combinado.
A operação é motivada pela crença de que o papel custará menos que o valor acertado na data futura. Assim, a operação dá lucro ao vendedor e, ao mesmo tempo, cria pressão para a queda dos preços.
Em meio à situação da sócia portuguesa, a Oi divulgou, ontem, um comunicado para reforçar que o anúncio da eventual liquidação dos ativos da Rioforte "não terá qualquer impacto no andamento da operação de combinação de negócios e das bases acionárias da Oi, da Portugal Telecom SGPS S.A. e da TelPart".
Segundo o comunicado, as empresas reiteram que "permanecem integralmente mantidos os compromissos de promover a listagem da CorpCo no Novo Mercado da BM&FBovespa" e que estão trabalhando para que "a aprovação da incorporação de ações ocorra dentro do primeiro trimestre de 2015".
As ações da Oi fecharam em queda de 6,40%, ontem, na lista de principais desvalorizações do Ibovespa. Na Bolsa de Lisboa, as ações da Portugal Telecom chegaram a ter uma desvalorização de mais de 27%, a 0,87, e fecharam em baixa de 10,05%, a 1,09.
Queda livre. Em 2010, a Portugal Telecom chegou a valer 7,513 bilhões. Em julho daquele ano, a operadora concordou em vender sua participação na Vivo para a espanhola Telefônica em uma operação calculada em 7,5 bilhões. Ao mesmo tempo, os portugueses passaram a ser grandes acionistas da Oi com mais de 20% da empresa brasileira.
A partir daí, o valor de mercado passou a cair sistematicamente. Segundo o balanço da companhia, o valor recuou para 3,98 bilhões em 2011 e terminou o ano passado em 3,02 bilhões. Ontem, segundo a Nyse Euronext, a PT Telecom terminou o pregão com valor de mercado de 978 milhões. Portanto, queda de 2,04 bilhões na comparação com o ano passado.
Segundo o gestor da corretora Dif Broker em Lisboa, Pedro Lino, o calote da Rioforte explica parcialmente a queda drástica do valor de mercado da companhia. "Na realidade, a queda é resultado de um problema de governança e da estrutura acionária da fusão entre a PT Telecom e a Oi", diz.
"Temos dois sócios cujos acionistas não têm muito dinheiro para investir e estamos em um setor que exige muito capital intensivo", diz o analista, ao citar como exemplo a ausência da Oi no leilão das novas faixas de transmissão para o 4G no Brasil. "Isso deixará o grupo atrás dos concorrentes em termos de tecnologia."
No curto prazo, outro fator que também explica a desvalorização é um relatório do banco Morgan Stanley que coloca a ação da PT Telecom com preço-alvo de 0,79 - o que pressupõe queda de mais de 25% em relação ao fechamento de ontem.
Pedro Lino diz ainda que está ficando mais claro para muitos investidores da Portugal Telecom que, com a fusão com a Oi, a empresa portuguesa passará a ser um mero veículo financeiro.
"Com a união, a PT Telecom será apenas um sócio minoritário de uma empresa que será dona de várias operadoras, notadamente a Oi no Brasil e a MEO em Portugal. Quem tem a ação da Portugal Telecom não é dono direto da MEO", diz, ao comentar que muitos investidores portugueses estão entendendo a arquitetura da fusão com a Oi apenas agora.
Antiga TMN, a MEO é a operadora celular da PT Telecom que, de acordo com o projeto da CorpCo, ficará sob comando da chamada "Nova Oi".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.