Da esquerda para direita, Francisco Marcelino (Bloomberg), Robert Ellison (Shearman & Sterling), Flávio Dall’acqua (Constellation) e Alan Gandelman (ICAP Brazil) (Marcel Salim/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2011 às 18h26.
São Paulo - O mercado brasileiro superou a era emergente e está “adulto”, afirmaram nesta terça-feira (29) analistas do mercado durante o Fórum Bloomberg Brasil realizado hoje em São Paulo. Para eles, os bons fundamentos econômicos sugerem que as ações brasileiras estão baratas e que até 50 companhias devam abrir o capital ainda este ano.
“O Brasil ainda não se tornou desenvolvido, mas já está além dos emergentes”, afirmou Robert Ellison, sócio da Shearman & Sterling, escritório norte-americano de advocacia que atua no Brasil na área de mercado de capitais. Segundo ele, o mercado financeiro brasileiro “está mais adulto” em relação à tomada de decisões.
“A precificação das ações já é feita levando em consideração os ótimos fundamentos econômicos do país”, acrescentou o executivo. A opinião de Ellison é compartilhada também por Flávio Dall’acqua, sócio da Constellation Investimentos e Participações, e de Alan Gandelman, CEO da corretora ICAP Brazil.
Ações baratas
Dall’acqua e Gandelman acreditam que os ativos no Brasil estão baratos. “As ações não estão sobrevalorizadas, como muitos dizem”, destaca Dall’acqua. O executivo ressalta que 80% das apostas no portfólio da Constellation estão concentradas em empresas de commodities, que lhe rendem um retorno de 20%. O objetivo agora é atingir 25%.
Para ele, sem considerar as empresas produtoras de commodities, o P/L (preço sobre o lucro) da bolsa está muito baixo.
Na opinião de Gandelman, o consumo da população sinaliza que os papéis estão sendo negociados a um preço muito aquém do esperado. “Observo sempre o poder de compra da população. As ações hoje refletem que o Brasil enfrentou a crise graças à ajuda da demanda interna. Comparando isso com o mercado de ações, acredito também que os papéis estão baratos. Se não houver surpresas, acho possível que o Ibovespa chegue aos 75 mil pontos. Se o cenário for ainda mais otimista, acredito que possa bater os 77 mil”, estimou.
“Eu prefiro evitar a palavra 'barata'”, disse Robert Ellison, sócio da Shearman & Sterling. “Acredito que o Brasil não está barato do ponto de vista do investidor estrangeiro, já que eles levam em consideração a influência do câmbio na hora de comprar e vender ações”.
Apesar deste ponto negativo, Ellison destaca que, mesmo assim, o Brasil ainda apresenta vantagens. “É possível ganhar dinheiro por aqui fazendo o investimento certo na empresa certa”, acrescentou. Flávio Dall’acqua, sócio da Constellation Investimentos e Participações, comenta que os investidores não precisam ficar receosos sobre o câmbio. “Apesar da volatilidade, medidas contra o vaivém do real devem se refletir no longo prazo”.
50 IPOs
Os participantes do evento acreditam que 50 companhias deverão abrir capital no Brasil somente neste ano. “Isso mostra o quanto o mercado brasileiro está maduro e não afobado, assim como em 2007, quando 64 empresas realizaram a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na BM&FBovespa”, afirma Ellison.
“Parte desses IPOs são algumas sobras de 2010. Muitas empresas cancelaram sua estreia na bolsa por conta da oferta de ações da Petrobras”, acrescenta o executivo. Ele afirmou que os setores de consumo e varejo devem surpreender entre os IPOs. No longo prazo, o executivo acredita que o setor de tecnologia será destaque. “Isso mostrará que o Brasil também está de olho no futuro”, disse.
Flávio Dall’acqua, sócio da Constellation Investimentos e Participações, prevê que o tamanho dos IPOs previstos para 2011 fique em torno de 500 milhões de dólares. “O mercado antes não oferecia opções para o investidor. Hoje isso mudou. Temos empresas em diferentes setores e isso oferece mais oportunidade aos investidores e atrai mais capital estrangeiro".