Lollapalooza Brasil | Foto: Mauricio Santana/Getty Images (Mauricio Santana/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de junho de 2021 às 06h20.
Nenhuma empresa da bolsa foi mais atingida pelos efeitos da pandemia do que a Time4Fun (SHOW3). Sem poder realizar eventos, a principal organizadora de shows da América do Sul e responsável pelo Lollapalooza Brasil teve seu caixa reduzido a praticamente zero. Ainda assim, suas ações acumulam alta de 80% neste ano, sendo negociadas a 7,14 reais. O preço já está 38% acima do registrado no fim de janeiro de 2020, antes dos primeiros impactos do coronavírus no mercado brasileiro.
Durante os primeiros meses de pandemia, as ações chegaram a ser negociadas a 1,18 real. Quem comprou na mínima está embolsando um lucro gigantesco, de mais de 500%. Mas será que há espaço para novas altas? A questão ainda divide analistas do mercado. Se por um lado se espera que o setor de entretenimento seja um dos mais demandados após o fim da pandemia, restam dúvidas de como a empresa sairá.
Os mais de 200 milhões de reais em caixa é a maior esperança daqueles que acreditam que as ações podem subir ainda mais. “Os investidores estão aceitando o risco de comprar as ações vendo a atratividade que é o caixa, que é o ponto-chave para a empresa não só sobreviver, mas prevalecer nesse mercado”, afirma Victor Bueno, analista da Top Gain.
Com uma receita 97% inferior à do primeiro trimestre de 2020, a Time4Fun conseguiu manter o caixa às custas de um duro corte de 65% dos funcionários e de entregas de casas de espetáculos, sendo a mais relevante a da Unimed Hall, antiga Creditcard Hall. Desde o início da pandemia, os ativos imobilizados, que incluem propriedades da empresa, caíram 73% para 14,22 milhões de reais.
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“Isso dá uma leveza operacional, ainda que reduza a margem de lucro dos eventos”, comenta Gustavo Akamine, analista da gestora Constância. Segundo ele, a companhia deve ser uma das mais beneficiadas pelo fim da pandemia e ainda há espaço para novas altas. “Temos ações da Time4Fun e acredito que a empresa consiga ir muito bem no curto prazo.”
Para Akamine, a empresa deve ser uma das mais beneficiadas pela demanda represada do entretenimento, podendo “ter uma margem de lucro como nunca teve”. Como base de comparação, o analista usa os eventos recentemente promovidos nos Estados Unidos pela maior organizadora de shows do país, a Live Nation (L1YV34). “Os ingressos estão esgotando em questão de horas, alguns, em minutos. É algo sem precedentes.”
No mercado americano, as ações já acumulam alta de quase 30% em relação ao início de fevereiro do ano passado, tendo subido 170% desde o começo da pandemia. Guilherme Zanin, analista da Avenue, explica que as fortes valorizações da Live Nation e da Time4Fun fazem parte de um movimento global de rotação. “As ações de tecnologia subiram muito no ano passado. O mercado está vendo mais potencial de crescimento em ações de empresas que sofreram muito na pandemia e conseguiram aguentar a crise”, diz.
Apesar do cenário favorável esperado para o setor de entretenimento, a valorização do dólar e o relativo atraso da vacinação no Brasil podem representar um risco para a atração de artistas internacionais, competidos mundialmente.
“O preço da madeira quadruplicou em questão de meses e é uma commodity. No caso dos artistas, o público está disposto a pagar mais pelo que está na moda. Se tiver uma grande demanda, depois de quase 2 anos sem espetáculos, haverá uma pressão extremamente relevante no preço do cachê”, afirma Carlos Herrera, estrategista-chefe da Condor Insider.
Akamine, da Constância, não acredita que a situação seja um grande problema. “Ela pode promover mais shows de artistas nacionais para ficar mais acessível. A empresa já passou por ciclos em que o dólar estava muito alto e sobreviveu.”
Para Herrera, as ações da Time4Fun chegaram a ter um valuation atrativo no meio da pandemia, mas o timing para investir já passou. “Grande parte dessa alta tem caráter especulativo. É uma ação de altíssimo risco”, afirma. “Vi muita gente comprando as ações da empresa pela matemática sem estar a par dos riscos de governança.”
Segundo Herrera, o fundador, presidente e vice-presidente do Conselho da Time4Fun, Fernando Alterio, controla a empresa “de fato”, mesmo tendo apenas 33,3% de participação societária.
O analista faz críticas ao acúmulo de funções do executivo. Em 2019, por exemplo, Alterio passou mais de seis meses também na função de diretor financeiro e diretor de relações com investidores. “Ele tem o controle efetivo, mesmo sem ter mais de 50% das ações. Isso é muito ruim para o acionista minoritário”.
Herrera ainda afirma que a empresa é fechada, de pouca relação com investidores. “Ele dificilmente responde os questionamentos do mercado. Já houve teleconferência em que sequer abriram para perguntas. Ficamos com mais dúvidas sobre a empresa do que respostas.”