Cropped shot of male fashion designer picking the fabric rolls from the rack. Man taking the textile roll for making the dress. (Luis Alvarez;/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 15 de janeiro de 2020 às 19h23.
Última atualização em 28 de abril de 2022 às 09h50.
São Paulo - Mal começou 2020 e as ações da fabricante de tecidos catarinense RenauxView já chegaram a acumular valorização de 1.200% no ano. Com baixíssima liquidez se comparado aos ativos do Ibovespa, os papéis ordinários da companhia passaram de 3,48 reais no começo de janeiro para 45,01 reais na máxima registrada nesta terça-feira (14). A alta, porém, não se sustentou e, no mesmo dia, o preço caiu 66,65%.
Os papéis preferenciais da companhia, mais líquidos que os ordinários, também passaram por efeito semelhante. Na segunda-feira (13), o ativo se valorizou 200,4%, acumulando alta de 652% no ano. Desde então, a ação já se desvalorizou 66,63%.
O movimento de alta teve início na última quinta-feira (9), quando tanto as ações ordinárias como as preferenciais da RenauxView tiveram forte apreciação, subindo 100% e 46,51%, respectivamente. Nesse dia, os papéis preferenciais movimentaram 1.199.260 reais. O volume financeiro é superior ao de todo o mês de dezembro, quando as ações ordinárias e preferenciais da RenauxView juntas movimentaram 556.544,80 reais, e 7.296,45% superior ao do dia anterior. O número de negócios realizados somente na quinta-feira foi de 652 e também superou o registrado em todo o mês de dezembro, quando houve 546 negócios fechados.
Em razão das oscilações atípicas, a RenauxView foi questionada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre a possível existência de algum fato que justificasse a valorização. A empresa negou.
Esta não foi a primeira vez que a empresa teve que se explicar sobre as oscilações de suas ações. No ano passado, isso ocorreu em três circunstâncias, mas em nenhuma delas, a valorização ultrapassou 100% em um único dia.
Segundo fontes do mercado ouvidas por EXAME, os sinais são de uma “bolha financeira”. “É possível que alguém esteja manipulando as ações. Geralmente, nesses casos nem a empresa sabe”, disse uma das fontes.
O caso possui semelhanças com o episódio que ficou conhecido como “bolha do alicate”. Em 2011, as ações da fabricante gaúcha de tesouras e alicates Mundial se valorizaram 1.400% e, da mesma forma que subiram, passaram a cair de forma abrupta a partir de julho daquele ano.
Além dos dois casos se diferenciarem no tempo em que levou para os papéis atingirem o pico e descerem ladeira abaixo, a RenauxView vem atuando de forma oposta à da Mundial. Enquanto a fabricante de alicates inundava o mercado com comunicados aos acionistas para, supostamente, mantê-la em evidência, a última vez que a empresa de tecidos enviou um fato relevante à CVM foi em fevereiro de 2019.
Fundada em 1925 pela família do político e empresário Carlos Renaux, a RenauxView fabrica e fornece para a indústria da moda diferentes tipos de tecidos, feitos de algodão, linho, viscose e outros. Hering, Reserva, Dudalina e Aramis são algumas das marcas parceiras da companhia.
Em 28 de fevereiro de 2019, a empresa entrou com pedido de homologação de seu plano de recuperação extrajudicial. Na ocasião, a empresa culpou o aumento das taxas nominais de juros e a progressão do ritmo inflacionário dos anos anteriores como causas da situação financeira desfavorável.
Em 2018, a empresa teve prejuízo líquido de 11,442 milhões de reais, apesar da receita líquida de 88,326 milhões de reais no período. No último balanço da companhia, referente ao terceiro trimestre de 2019, o resultado financeiro no período ficou negativo em 4,638 milhões de reais. Até o fim de setembro, o déficit era de 18,139 milhões de reais no ano.