Mina da CSN: a dívida bruta da companhia ao fim de junho era de R$ 31,8 bilhões, ao passo que sua dívida líquida, que desconta o caixa, era de R$ 20,7 bilhões na mesma data (Germano Lüders / EXAME)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2015 às 11h28.
São Paulo - A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) caiu 20,51% no pregão da quarta-feira, 23, refletindo a preocupação do mercado em torno da situação financeira da companhia, em especial com seu endividamento, que ganhou novo foco com o dólar ultrapassando a barreira de R$ 4 .
Usiminas também refletiu as preocupações em torno da alta da moeda americana ante o real e encerrou o dia com queda de 15,35%.
Além de um ambiente de desafios para o setor siderúrgico no Brasil, com o enfraquecimento da demanda no mercado doméstico, fruto da crise econômica que reduziu a atividade de importantes setores consumidores de aço, como setor automotivo e da construção civil, um relatório do Itaú BBA enviado na terça-feira, 22, a clientes, teria ajudado a azedar o humor em relação à empresa.
O texto dizia que a CSN não tinha hedge para sua dívida em dólar.
No documento, a instituição financeira lista as principais empresas brasileiras detentoras de dívida em dólar e diz que "CSN e Usiminas não fizeram hedge da dívida, mas o prazo médio de vencimento é superior a 40 meses. Apesar das nossas estimativas de fluxo de caixa negativo em 2015 e 2016, esperamos que a posição de caixa dessas empresas seja suficiente para cobrir suas necessidades de curto prazo sem necessidade de acessar os mercados de capital".
A Usiminas, também envolta com os desafios do setor, e no meio de uma briga societária de seus dois principais sócios, Ternium e Nippon Steel, esteve entre as maiores quedas do pregão de quarta-feira.
Em nota enviada a clientes, o Itaú BBA esclareceu que a CSN protege sua dívida mantendo uma fatia de seu caixa em dólar, sendo que ao final do segundo trimestre deste ano o caixa era de R$ 8 bilhões, sendo 90% desse total denominado em dólar, além de fazer uso do instrumento da contabilidade hedge e do uso de derivativos cambiais.
O documento cita ainda que, do lado operacional, a CSN acaba se beneficiando do real mais fraco, visto que esse fator pode ajudar na exportação de minério de ferro e aço, auxiliando a companhia a se manter mais competitiva frente aos seus concorrentes externos.
Resposta
A CSN também se manifestou. Em documento assinado pelo diretor de Relações com Investidores, Gustavo Henrique Santos de Souza, a empresa afirma que "possui dívida em dólar, o que gera exposição passiva nessa moeda, que é totalmente protegida" pela utilização do seu caixa em dólar, caixa em dólar da Namisa, derivativos contratados na CSN e hedge accounting contabilizado pela empresa".
A dívida bruta da CSN ao fim de junho era de R$ 31,8 bilhões, ao passo que sua dívida líquida, que desconta o caixa, era de R$ 20,7 bilhões na mesma data.
A alavancagem da empresa, medida pela razão dívida líquida pelo Ebitda no segundo trimestre, era de 5,6 vezes, ante 4,8 vezes no trimestre imediatamente anterior. Esse indicador vem, inclusive, gerando preocupação de analistas de mercado, já que a percepção é de que a trajetória é de ascendência.
Por isso, a CSN já anunciou uma força-tarefa para trabalhar na redução de seu endividamento, já que seu Ebitda está em queda, com as atuais circunstâncias do mercado. Além do corte de custos está em curso um processo de desinvestimento.
Outro movimento feito pela companhia foi a renegociação de sua dívida de curto prazo. Para analistas, a venda de ativos é importante, mas há dúvidas do prazo dos desinvestimentos, já que a crise tem jogado os preços para baixo.
Um analista cita que, além da queda provocada pelos desafios do setor, tanto CSN quanto Usiminas vieram de pregões de alta na semana passada, quando foram noticiadas tentativas de aumento do preço do aço no mercado interno.