Ações da Vale (VALE3) operam com forte volatilidade — com mais perdas do que ganhos — em 2024 (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Repórter de Invest
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 17h45.
A Vale (VALE3) já viveu momentos melhores no Ibovespa. Do primeiro pregão do ano até esta sexta-feira, 16, as ações da mineradora acumulam uma queda de mais de 10%. A razão para essa volatilidade não é única e a EXAME Invest elencou os principais fatos que têm mexido com os papéis da companhia.
A China parece caminhar para uma crise imobiliária que tem potencial para respingar em empresas como a Vale. Com uma economia em desaceleração, a demanda dos chineses por moradias passa por um forte declínio. Junto a isso, incorporadoras gigantes, como a Evergrande e a Country Garden, passam por um momento de inadimplência recorde e que tem custado perdas acentuadas aos investidores.
“Os dados recentes demonstram que a recuperação do setor é algo para o longo prazo, e a liquidação da operação da China Evergrande, em Hong Kong, trouxe maiores preocupações sobre a possibilidade de uma turbulência ainda maior no curto prazo”, diz Luís Novaes, analista da Terra Investimentos.
Se uma crise imobiliária realmente estourar no país, isso deverá gerar um efeito cascata a nível mundial a todos os insumos que fazem o setor rodar por lá. E por falar em insumos, isso inclui commodities como o minério de ferro — que é o próximo fato a mexer com as ações da Vale.
As incertezas quanto ao rumo da economia chinesa, dado o peso do setor imobiliário e a sua demanda por matérias-primas, o minério de ferro tem sentido os reflexos dessa crise. A commodity tem acumulado mais baixas do que altas de janeiro para cá, cuja tonelada tem sido cotada a pouco mais de US$ 130. E isso desvaloriza os papéis VALE3.
“Principalmente quando pensamos em curto e médio prazo da companhia, não é possível olhar só para o seu fundamento. A Vale depende muito do crescimento chinês, que consequentemente afeta o preço do minério de ferro no mercado internacional”, diz Renato Nobile, analista da Buena Vista Capital.
O mandato de Eduardo Bartolomeu como CEO da Vale vai até 26 de maio próximo. A companhia já informou publicamente que tem até o fim do período para decidir se o atual dirigente terá o contrato renovado ou se será substituído.
A troca de comando tem inflamado as disputas entre os acionistas, marcadas pela necessidade de enfrentar as consequências das tragédias de Brumadinho e Mariana, ambas em Minas Gerais, junto a uma reestruturação que transformou a empresa numa corporação, sem controle definido, em novembro de 2020.
“A incerteza com relação ao comando de modo geral torna os investidores receosos por seus possíveis impactos nos planos de longo prazo da empresa”, diz o analista da Terra Investimentos.
Durante o mês de janeiro, o nome de um ex-ministro assombrou as ações da Vale — levando-as a sucessivas quedas. Isso porque rumores davam conta de que Guido Mantega, que comandou a pasta econômica durante o primeiro governo Dilma Rousseff, poderia ser indicado para assumir o cargo de CEO da mineradora.
As notícias apontam que o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estaria pressionando conselheiros a indicarem Mantega. Afinal, embora há mais de duas décadas privatizada, o governo tem uma participação indireta na companhia por meio da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BBSA3). Mas a possibilidade parece não ter ido adiante.
Nobile explica que os rumores dessa pressão por parte do governo geraram um mal-estar entre os investidores. “O mercado realmente detesta esse tipo de intervenção em uma empresa que não é estatal. Além disso, ele é uma pessoa que não tem um cunho técnico para a função e até tem certa limitação profissional visto histórico dele.”
No início desta semana, a BHP anunciou que vai provisionar mais US$ 3,2 bilhões na Samarco devido ao acidente em Mariana. Visto que a companhia é fruto de uma joint venture entre a mineradora australiana e a brasileira, o mercado acredita que pode haver impactos na Vale — e nos resultados futuros.
“Novos provisionamentos é algo esperado pelo mercado, considerando que ainda haverá novos julgamentos com relação aos casos. Mas, se forem concretizados, os lucros devem ser menores no curto prazo”, diz Novaes, da Terra Investimentos.