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45% dos IPOs têm retorno negativo no longo prazo, diz estudo

Pesquisa que replica a metodologia do economista americano Jay Ritter acompanhou 169 aberturas de capital ao longo de cinco anos

Mercado esperava uma grande retomada nas aberturas de capital este ano. (iStock/Getty Images)

Mercado esperava uma grande retomada nas aberturas de capital este ano. (iStock/Getty Images)

TL

Tais Laporta

Publicado em 29 de outubro de 2019 às 07h30.

Última atualização em 29 de outubro de 2019 às 07h30.

É vantajoso investir em IPOs? Segundo uma pesquisa que mapeou o desempenho de 169 ofertas iniciais de ações no Brasil, não. O estudo feito por Felipe Miranda e Matheus Spiess, da Empiricus, mostrou que, no longo prazo, 45% dos casos avaliados acumularam retorno negativo. Na prática, o investidor que comprou uma destas ações antes da estreia na bolsa perdeu dinheiro.

A pesquisa se debruçou sobre a rentabilidade dos papéis cinco anos após a oferta ou, nos casos mais recentes, no último dia útil do primeiro semestre de 2019. E concluiu que, se um investidor tivesse entrado em todas as ofertas, teria um retorno médio anualizado de 7,37%, contra 10,25% do Ibovespa, o índice de referência das ações brasileiras.

Os IPOs mapeados pela pesquisa aconteceram a partir de 2004, época em que o número de estreias na Bolsa apresentou um aumento crescente.

Das ofertas analisadas, 76 tiveram rentabilidade negativa, o que corresponde a 45% da amostra pesquisada. Na prática, os preços das ações passaram a valer menos que na data do IPO. Apenas 16 papéis tiveram retorno acima de 200%.

“Se você comprasse todos os IPOs e carregasse no longo prazo, chegaria com um baixo número de acertos no final e os que tivessem dado certo não serão suficientes para pagar a conta toda”, explica Felipe Miranda.

No exterior, IPO também não é vantagem

O estudo replica a metodologia do economista americano Jay Ritter sobre IPOs nos EUA, que analisou os IPOs dos Estados Unidos entre 1975 a 2011 e atualizou sua medição diversas vezes.

Os resultados do estudo no Brasil foram bastante semelhantes aos de Ritter, segundo Miranda. Por lá, o economista concluiu que um investidor que tivesse apostado em todos os IPOs do período não conseguiria bater o desempenho do S&P 500, um dos principais índices de Wall Street.

O levantamento também chegou à conclusão de que pode valer a pena vender os papéis no primeiro dia de negociação na bolsa. Isso se aplica ao investidor que garantir sua ação no período de reserva, o que requer bastante disciplina, observa Miranda. “Vimos que há uma alta sistêmica no primeiro dia de negociação”.

O autor do estudo pondera que o  resultado não é um indicativo de que o investidor deve, necessariamente, fugir de todas as oportunidades na bolsa. Ele pontua que é preciso ter mais critério na escolha dos papéis, especialmente quando o mercado está mais aquecido e em tendência de alta, período conhecido como “bull market” (o mercado do touro, em tradução livre).

Ele cita como exemplo casos recentes que foram bem sucedidos na bolsa brasileira, como as aberturas de capital dos grupos de saúde Notredame Intermedica e Hapvida,  em 2018.

"A maior parte deles [IPOs], em verdade, não presta. Fazem sentido apenas se o investidor for capaz de investir em todos na mesma proporção — o que, aliás, não é nada simples", afirma o estudo da Empiricus. 

2019, ano da retomada?

O mercado esperava uma grande retomada nos IPOs este ano, mas o número de ofertas iniciais, até agora, está bem abaixo das estimativas. Já no primeiro semestre, o impasse em torno da aprovação da reforma da Previdência acabou levando empresas brasileiras a adiarem seus planos de abertura de capital.

Desde janeiro, ocorreram cinco aberturas de capital na B3 até o momento – Centauro, Neoenergia, Vivara, C&A e BMG. Apesar de já ultrapassar a quantidade do ano passado (quando apenas três empresas ingressaram na bolsa), o número deste ano está bem aquém dos anos de "glória" do mercado acionário brasileiro. Em 2017, por exemplo, ocorreram nove IPOs na B3.

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