Mario Draghi pode anunciar na reunião do BCE dessa semana a compra de títulos (Ralph Orlowski/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2012 às 06h00.
São Paulo – As primeiras duas semanas de setembro agitam as expectativas do mercado. Quatro importantes reuniões acontecem entre os dias 6 e 14 de setembro, mexendo com as esperanças de uma solução para a crise financeira mundial.
A expectativa é de que nessa quinta-feira as promessas do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, se concretizem em ações, com o anúncio da compra de títulos da dívida soberana de países endividados.
6 de setembro
Para os analistas do banco sul-africano Standard Bank, Steve Barrow e Jeremy Stevens, Draghi poderia mostrar ao mercado que suas atitudes valem mais que as palavras, comprando títulos em larga escala no mercado primário.
“Tal ação poderia mostrar determinação do BCE para tirar o risco de conversibilidade do mercado, o que ele já destacou como principal preocupação do BCE”, escrevem em um relatório. Portugal seria o país escolhido por já ter sido socorrido e por ser um candidato que, ao contrário da Grécia, nunca teve seu comprometimento questionado em relação às condições impostas.
A promessa de fazer tudo o que for necessário para salvar o euro, está cada vez mais difícil de ser cumprida por Draghi, que esbarra na oposição alemã. O presidente do Bundesbank, banco central alemão, já declarou sua contrariedade ao plano de Draghi, afirmando que os países ficariam viciados na ajuda financeira.
12 de setembro
Além disso, uma ação concreta do BCE, como a compra de títulos, empaca na decisão da corte alemã sobre a legalidade do Mecanismo Europeu de Estabilização (ESM). Na próxima quarta-feira (12), a corte irá decidir se o mecanismo não fere a constituição alemã e sem o seu maior financiador, o ESM não pode existir. Além disso, de acordo com a analisa Lika Takahashi, da Fator Corretora, mesmo que a Alemanha ratifique o mecanismo, qualquer condição imposta pode trazer tensões sobre a integração europeia.
É possível que Draghi queira esperar a decisão alemã para anunciar a compra de títulos, o que pode decepcionar os investidores que esperam que ele anuncie o programa definitivo de resgate já no próximo dia 6. No entanto, para os analistas do Standard Bank, apesar de ser arriscado apostar em uma ação do BCE já para esta semana, “nós definitivamente sentimos que as expectativas são positivas para os títulos e para o euro, nesta quinta-feira”, dizem.
Federal Reserve – 13 de setembro
Uma semana depois do BCE, é a vez do Federal Reserve, o Banco Central americano, se reunir. A principal expectativa está no anúncio de um novo estímulo monetário, conhecido como quantitative easing (Q3). Em seu discurso na conferência de Jackson Hole, Ben Bernanke, presidente do Fed, deu a entender que a esperada ajuda está a caminho ao dizer que o banco irá proporcionar “acomodação política adicional, se necessário”.
Em seu discurso, intitulado “Política monetária desde o início da crise”, Bernanke fez 3 perguntas: O QE funciona? Se sim, os benefícios superam os custos? Se sim, é a hora de fazer mais? A resposta para as 3 perguntas foi a mesma: sim. “A estagnação do mercado de trabalho é uma grave preocupação porque isso vai causar danos estruturais em nossa economia que podem durar por muitos anos”, disse o presidente justificando a eficiência e a necessidade dos programas de estímulo.
A única dúvida que resta após essas declarações de Bernanke é quando o Fed vai lançar o QE3. Para o analista David Carbon, do banco cingapuriano DBS, o anúncio, que já fora predeterminado em Jackson Hole, virá no próximo dia 13. “A única resposta correta de qualquer membro do FOMC, de qualquer republicano ou democrata é ‘Ben, você está certo, é hora de fazer mais’”, diz em um relatório.
Para a analista Lika Takahashi, os investidores estão otimistas e as bolsas já estão precificando o novo estímulo. “O fato de ter se tornado desnecessário dizer que haverá QE3, significa que esse evento já está virtualmente precificado”, diz.
Outras datas
Na mesma semana ainda ocorre a reunião do Eurogrupo (14/9), que reúne os ministros de finanças dos países da Zona do Euro. Ao mesmo tempo, ministros de finanças e representantes de bancos centrais se reúnem no G20. Ainda para o começo do mês é esperada a divulgação do relatório da Troika de credores (formada pela União Europeia, Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu), que supervisiona a economia grega, que decidirá se o país continuará a receber ajuda financeira.