Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 31 de janeiro de 2022 às 20h35.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2022 às 15h57.
O investidor estrangeiro entrou com força na bolsa brasileira no início de 2022 e o resultado ficou claro no desempenho do Ibovespa. O principal índice da B3 subiu quase 7% em janeiro e registrou a melhor performance mensal desde dezembro de 2020.
O que explica o apetite renovado por ações brasileiras é a previsão de alta na taxa de juros nos Estados Unidos. Antecipando o aperto monetário, programado para começar em março, investidores migraram recursos do mercado americano – especialmente de ações de tecnologia – para papéis descontados nos mercados emergentes.
As ações escolhidas foram as chamadas “ações de valor”: papéis de empresas consolidadas e geradoras de caixa, que estão sendo negociados a um preço atrativo, como as ações de bancos. Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC3/BBDC4) ficaram entre os destaques do mês.
“As empresas mais resilientes historicamente são mais atrativas [para o investidor estrangeiro]. Além disso, existe uma expectativa de que a concessão de crédito das empresas financeiras tenha se destacado positivamente nos resultados do 4º trimestre, o que favorece os bancos”, afirma Guilherme Martins, especialista em renda variável da EWZ Capital. A temporada de balanços começa nesta terça-feira, 1.
O grande fluxo de investidores estrangeiros também beneficiou as ações da própria bolsa. A B3 (B3SA3) foi o grande destaque positivo de janeiro, subindo mais de 30%. “O Ibovespa fechou 2021 em queda de 12% e em janeiro subiu 7%. É um cenário de volatilidade que favorece a B3 porque existe mais negociação no mercado”, aponta Renan Vieira, sócio e CIO da Taruá Capital.
No caso de Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica (GNDI3), as altas refletiram a combinação de negócios entre as duas empresas, que está próxima de se concretizar. Os papéis GNDI3 devem ser incorporados pela Hapvida, e, a partir do dia 14 de fevereiro, a empresa formada pela combinação das duas operadoras de saúde passa a ser negociada com o ticker HAPV3.
Ações voltadas à economia doméstica, que sofreram duras perdas no último ano, também se recuperaram em janeiro. Entre elas, Azul (AZUL4), BR Malls (BRML3) e JHSF (JHSF3).
Apenas 27 das 89 ações que compõem o índice fecharam o mês em baixa – a maioria acompanhou a retomada.
Entre as maiores baixas, a liderança ficou com a Locaweb (LWSA3), mas a razão da queda é setorial – Méliuz (CASH3), Positivo (POSI3) e Via (VIIA3) também foram destaques negativos. Empresas de tecnologia, que precisam de mais caixa para financiar seu crescimento, voltaram a ficar entre as maiores baixas em um cenário de juros mais altos tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Por aqui, a expectativa é de que a taxa básica de juros, a Selic, seja elevada para 10,75% a partir de quarta-feira, 2, data da próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
“Empresas que têm necessidade maior de capital são mais prejudicadas. Isso reflete a rotação setorial de papéis mais arriscados, com maior volatilidade, para papéis de valor. É o que explica também a queda de IRB, empresa que já teve problemas de governança”, acrescenta Martins.
Já Embraer (EMBR3) e Braskem (BRKM5) passaram em janeiro por uma correção após as fortes altas de 2021. As duas ações foram as que mais subiram no ano passado, registrando altas respectivas de 180,45% e 176,27%, respectivamente.