A pandemia destruiu milhões de empregos nos Estados Unidos, mas teve o efeito inesperado de aumentar as poupanças dos americanos, especialmente das famílias ricas que foram obrigadas a desistir de gastar com viagens e entretenimento (AFP/AFP Photo)
AFP
Publicado em 7 de março de 2021 às 08h24.
Última atualização em 8 de março de 2021 às 18h09.
A pandemia destruiu milhões de empregos nos Estados Unidos, mas teve o efeito inesperado de aumentar as poupanças dos americanos, especialmente das famílias ricas que foram obrigadas a desistir de gastar com viagens e entretenimento.
As famílias em geral reduziram seus gastos recreativos e as que vivem de forma mais modesta receberam cheques para estímulo econômico por parte do governo, adicionais de seguro-desemprego e foram capazes de suspender o pagamento mensal de crédito.
Todo esse dinheiro inflou as economias dos americanos, que têm tendência a recorrer a empréstimos e consumir generosamente por meio de crédito.
Com isso, nos últimos onze meses foi gerado um estoque adicional de economia de US$ 1,8 bilhão, estimam as consultorias econômicas Barclays Research e Oxford Economics.
"Estima-se que esse estoque possa chegar a 2,5 bilhões de dólares até o verão", ressaltou Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics, à AFP.
A taxa de poupança dos americanos, que estava entre 7% e 8% antes da crise, atingiu um nível recorde de 33% em abril de 2020, graças a um gigantesco plano de apoio de US$ 2,2 trilhões de dólares voltado para residências e empresas, segundo o Bureau de Análise Econômica (BEA).
Em seguida retrocedeu, antes de ter um salto novamente em janeiro, atingindo 20,5%, graças aos cheques de estímulo de US$ 600 incluídos no plano de US$ 900 bilhões adotado no final de dezembro pelo Congresso.
E pode aumentar novamente na primavera, quando o governo do presidente Joe Biden está se preparando para adotar um novo plano de estímulo de US$ 1,9 trilhão.
Embora os americanos em conjunto tenham mais economias, as disparidades são grandes.
As famílias ricas conseguiram poupar muito mais do que as mais humildes, que foram afetadas pela perda de empregos. Por outro lado, os auxílios recebidos mal cobriam suas despesas cotidianas.
As famílias mais ricas conseguiram, em geral, manter seus empregos graças ao teletrabalho. Ou seja, seu nível de renda manteve-se constante, pois suas despesas diminuíram e isso gerou um aumento da poupança.
"Quase quatro em cada dez americanos (42%) comentaram ter gastado menos do que o normal desde o início da pandemia, e isso é particularmente o caso para pessoas de alta renda", afirma uma pesquisa divulgada na sexta-feira pelo instituto independente Pew Research Center.
Quase 53% dos americanos de alta renda gastaram menos frente os 43% dos de renda média e 34% dos de baixa renda.
Se aqueles com renda mais alta não gastam com lazer e viagens, aqueles com renda mais baixa dizem que gastaram menos para cuidar de suas finanças pessoais.
O estudo da Pew mostra que, mesmo antes da crise, a economia era desigual. "Muitos americanos acharam difícil economizar dinheiro", explica.
No geral, quase metade dos adultos de baixa renda (47%) não conseguiram economizar, em comparação com 25% dos de renda média e apenas 8% dos mais ricos.
A possibilidade de economizar é ainda mais desigual dependendo da comunidade. Quase 4 em cada 10 adultos negros (38%) disseram que não podiam poupar contra 31% entre os hispânicos, 27% dos brancos e 19% dos asiáticos, de acordo com o Pew Research Center.
A questão pendente é saber se esse dinheiro que não foi gasto aumentará o consumo, pulmão de crescimento da maior economia do mundo.
"Nossa perspectiva é de uma aceleração bastante rápida nos gastos das famílias no próximo ano e estamos assumindo que a poupança acumulada será aproveitada", observam os economistas do Barclays.
Eles acrescentam que "o aumento dos gastos pode ser particularmente forte se as famílias sentirem um efeito de 'euforia' (...) após um período de privação".