Centro de Distribuição do Magazine Luiza. (Leandro Fonseca/Exame)
São muitos os fatores que influenciam o desempenho diário dos papéis de uma empresa na bolsa de valores. Há, porém, os eventos atípicos que podem fazer com que uma ação suba muito ou desabe. Uma notícia muito negativa na grande mídia, seguida de um fato relevante da empresa, pode ser o suficiente para derrubar uma ação, e o contrário também é válido. Recentemente, a varejista Magazine Luiza (MGLU3) esteve envolvida em uma “polêmica”, após anunciar um programa de trainee apenas para pessoas negras. A companhia, mesmo contestada por algumas pessoas, seguiu com sua posição em relação ao programa e suas ações tiveram uma leve alta de 2,6% entre o dia do anúncio e os quatro dias posteriores a ele.
O que teria feito a ação da companhia continuar com uma valorização nos dias posteriores ao anúncio do programa teria sido o fato de o mercado ter avaliado como positiva a atitude da empresa, sendo vista como uma companhia com responsabilidade social. A liderança da varejista teria demonstrado ao mercado que a empresa possui boas práticas de gestão, colocando em prática a inclusão social.
O Magazine Luiza chegou a ser questionado por pessoas que se posicionaram contra o programa de trainee da empresa e o caso parou no Ministério Público do Trabalho (MPT). O MPT, por sua vez, afirmou que a atitude da empresa em criar um programa com inscrições válidas apenas para negros foi correta e louvável, já que ela teria como intuito garantir “em igualdade material e real de oportunidades o ingresso de negros e negras no mercado de trabalho”.
Uma das grandes concorrentes do Magazine Luiza no setor varejista, a Via Varejo (VVAR3), possui um histórico maior de envolvimento em "polêmicas" recentes. A holding, que detém o controle das Casas Bahia e do Ponto Frio, no dia 20 de julho do ano passado, foi alvo de uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), após ter divulgado, em uma rede social, dados operacionais que fizeram seus papéis avançarem mais de 7% no pregão do dia em questão. Em resposta à CVM, a Via Varejo afirmou à época que os dados não foram autorizados pela empresa e o erro partiu de seu departamento de comunicação.
Pouco antes dessa notícia, ao final de 2019, a Via Varejo comunicou que havia encontrado indícios de uma fraude contábil em seu balanço trimestral pela "manipulação da provisão trabalhista". Além disso, a empresa também informou no período em questão que havia tido um parcelamento impróprio de dívidas, chamado de "diferimento indevido na contabilização de ativos e passivos".
A empresa, então, abriu um processo de investigação e, em março de 2020, concluiu que houve um rombo de R$ 1,19 bilhão em seus resultados do ano anterior. A fraude foi notada no balanço do quarto trimestre de 2019.
Nas últimas semanas de 2020, reportagens do site "UOL" mostraram denúncias de mulheres contra o filho do fundador das Casas Bahia, Saul Klein, que estaria sendo investigado por estupro e aliciamento. A defesa de Klein diz que as 14 denúncias das supostas vítimas foram distorcidas para que o seu cliente fosse extorquido. De acordo com os advogados, Klein é "vítima de um elaborado esquema de extorsão". A reportagem, por outro lado, afirma também que as mulheres contratadas por Klein eram submetidas a ameaças e uma certa pressão por recusar atos sexuais.
Em outra reportagem publicada pelo mesmo site, o pai de Saul Klein e fundador das Casas Bahia, Samuel Klein (falecido em 2014), teve seis condenações judiciais por danos morais a funcionários divulgadas. O executivo utilizava o caixa das lojas da empresa para pagar "garotas de programa". O pagamento variava entre R$ 10 mil e R$ 150 mil.
A Casas Bahia é uma das bandeiras mais conhecidas do grupo Via Varejo e foi fundada em 1950. A Família Klein se tornou acionista de referência da Via Varejo em junho de 2019, pois o grupo Casino, da França, estava buscando compradores para o negócio. Sobre os casos expostos recentemente em relação a família Klein, a Via Varejo informou que não comentaria, pois desde 2010 a Casas Bahia deixou de ser uma "empresa familiar" e virou uma marca gerida pela Via Varejo, que não fala sobre a gestão anterior. Além disso, a Casas Bahia informou que Saul Klein, apesar de ser filho do fundador da marca, nunca teve vínculo com a empresa.
Apesar desses casos, as ações dessas varejistas (Magazine Luiza e Via Varejo) terminaram o ano de 2020 com uma boa recuperação em relação ao início da pandemia do coronavírus, que fez o mercado financeiro desabar por semanas. Dúvidas a respeito das melhores ações de varejistas para 2021 serão respondidas na live de Renato Mimica, CIO da EXAME. O analista, junto a Luiz Guanais, do BTG Pactual, comentará detalhes das ações e do futuro dessas empresas, que pertencem a um dos setores mais queridos pelos investidores brasileiros na bolsa de valores.