O testamento permite ao testador definir a destinação de até 50% do seu patrimônio livremente (RichLegg/Getty Images)
Publicado em 10 de outubro de 2024 às 15h52.
O planejamento sucessório é uma questão cada vez mais discutida entre famílias que buscam organizar a distribuição de bens e evitar conflitos futuros. Uma dúvida comum que surge é: é possível dispor da herança ainda em vida? A resposta é sim, mas há algumas regras e restrições que precisam ser seguidas. A seguir, explicamos como isso funciona e opções para quem deseja distribuir seus bens antes de falecer.
Uma das maneiras mais comuns de dispor de parte da herança em vida é por meio da doação. A doação é um instrumento legal que permite transferir bens para herdeiros ou terceiros ainda em vida. No entanto, é importante lembrar que a legislação brasileira protege os herdeiros necessários — filhos, cônjuges e pais —, garantindo que parte do patrimônio, chamada de “legítima”, seja preservada para eles.
Como funciona: Você pode doar até 50% dos seus bens livremente, sem prejudicar a parte reservada aos herdeiros necessários. Os outros 50% formam a legítima, que deve ser destinada obrigatoriamente aos herdeiros. Essa regra busca garantir a proteção dos direitos dos herdeiros diretos, evitando que o doador se desfaça de todo o patrimônio em vida.
Ao realizar a doação de bens em vida, é possível incluir uma cláusula de usufruto, que permite ao doador continuar utilizando o bem doado enquanto estiver vivo. Isso significa que, embora a propriedade tenha sido transferida, o doador mantém o direito de uso e desfrute dos bens, como um imóvel ou rendimentos de um investimento.
Como funciona: A cláusula de usufruto é amplamente utilizada em doações de imóveis, garantindo que o doador possa continuar morando na propriedade ou recebendo os frutos gerados, como aluguéis, até o fim da vida. Após o falecimento do doador, o usufruto é extinto, e o bem passa definitivamente para o donatário (quem recebeu a doação).
Embora o testamento só produza efeitos após o falecimento, ele é considerado uma forma de planejamento sucessório realizada ainda em vida. Por meio de um testamento, é possível determinar como será feita a distribuição dos bens, respeitando as mesmas regras da legítima. Além disso, o testamento permite expressar a vontade do testador sobre a destinação de bens específicos, legados a terceiros, ou sobre o cuidado de herdeiros incapazes.
Como funciona: O testamento permite ao testador definir a destinação de até 50% do seu patrimônio livremente, desde que respeite a parte destinada aos herdeiros necessários. É uma maneira segura de garantir que sua vontade seja cumprida, evitando disputas entre os herdeiros e oferecendo mais clareza sobre a divisão dos bens.
Outro ponto importante a ser considerado é que, em alguns casos, os herdeiros podem renunciar à herança, abrindo mão de seus direitos em favor de outros herdeiros ou de terceiros. Isso pode ser feito por meio de um documento formal, e é uma opção válida em situações onde os herdeiros concordam com a distribuição antecipada dos bens.
Como funciona: A renúncia à herança deve ser feita de forma expressa, por meio de um documento registrado em cartório. É uma alternativa usada, por exemplo, quando os herdeiros preferem que o patrimônio fique concentrado em apenas uma pessoa, ou quando não desejam herdar determinados bens.
É importante destacar que tanto a doação de bens quanto a transmissão de herança estão sujeitas à cobrança de impostos. O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) incide sobre a transferência de bens por meio de doações ou sucessão. As alíquotas variam de acordo com o estado, e é fundamental calcular os custos envolvidos no processo para garantir que a transferência seja financeiramente viável.
Como funciona: Antes de realizar a doação de bens ou formalizar um testamento, é recomendável consultar um advogado ou contador para entender as implicações fiscais e garantir que o processo seja feito da maneira mais vantajosa, minimizando o impacto dos impostos sobre o patrimônio transferido.
Dispor da herança em vida é possível, seja por meio de doações, testamento ou planejamento sucessório, mas é importante respeitar os direitos dos herdeiros necessários e garantir que a parte da legítima seja preservada. Além disso, é fundamental estar atento às implicações fiscais e às possibilidades de usufruto, que permitem ao doador continuar utilizando os bens doados. Ao planejar com antecedência, é possível garantir uma transição tranquila e evitar disputas entre herdeiros.