A Usiminas está com o menor P/L do Ibovespa, revela levantamento da Economatica | Foto: Getty Images (Woraput/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 22 de setembro de 2021 às 14h48.
Última atualização em 23 de setembro de 2021 às 10h45.
A sequência de quedas que levou o Ibovespa ao pior patamar do ano nesta semana abriu grandes oportunidades de compra na bolsa. Para ajudar o investidor a encontrar as melhores barganhas, a plataforma de informações financeiras Economatica levantou, a pedido da EXAME Invest, as ações com os menores múltiplos preço/lucro (P/L).
Um dos mais tradicionais indicadores fundamentalistas do mercado, o P/L mede o valor de mercado da empresa por ação dividido pelo lucro por ação dos últimos quatro trimestres. Em teoria, o P/L aponta quantos anos um investimento demoraria para se pagar, caso a empresa distribuísse todo o seu lucro aos acionistas.
Por essa ótica, das 91 ações do Ibovespa, as da Usiminas (USIM5) são as mais baratas, com P/L de 2,5x. Pressionada pela desvalorização do minério de ferro na Ásia, os papéis da siderúrgica acumulam perdas de 18% no período de um mês. Mas o que tem feito seu múltiplo ser tão pequeno foi o forte resultado do segundo trimestre, quando a Usiminas registrou lucro líquido de 4,54 bilhões de reais, elevando para 7,86 bilhões de reais o lucro de 12 meses.
Efeito semelhante ocorreu com a CSN (CSNA3), que tem o segundo menor múltiplo do Ibovespa, com P/L de 2,7x. Beneficiada pelos preços elevados praticados no mercado de aço, a companhia teve um segundo trimestre excepcional, com lucro líquido de 5,51 bilhões de reais contra 445,9 milhões de reais no mesmo período do ano passado.
Embora os múltiplos possam indicar que as siderúrgicas estão baratas, Bruno Lima, analista-chefe de ações do BTG Pactual digital, aconselha o uso do indicador P/L com perspectiva para o lucro futuro.
“O mercado está precificando nas ações uma potencial desaceleração de demanda no mercado de commodities. Se as ações estão baratas vai depender da premissa de preços para as commodities no ano que vem”, diz Lima.
Segundo o analista, os múltiplos podem ser ferramentas poderosas quando usados em comparação com empresas de um mesmo setor ou em relação ao próprio histórico. “É um indicador relativo. Tem que observá-los em relação aos pares.”
Com P/L de 3,2x, o terceiro menor do Ibovespa, a Petrobras (PETR3/PETR4) apresenta um desconto significativo se comparada à PetroRio (PRIO3), com P/L de 14,6x. Uma das principais razões para tamanha diferença se encontra no controle estatal, exposto a ingerências políticas, que acaba gerando um desconto no preço da Petrobras.
Efeito semelhante ocorre com o Banco do Brasil (BBAS3), que tem o menor P/L entre os grandes bancos, de 5x. Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) têm respectivamente múltiplos de 10,6x, 8,6x e 8,1x.
No extremo oposto, os maiores múltiplos P/L do Ibovespa chegam a superar 1.000x, como são os casos de Inter (BIDI11), Méliuz (CASH3) e Locaweb (LWSA3), com P/L de 1.592x, 1.027x e 1.025x, respectivamente.
Em comum, as três empresas têm uso intensivo de tecnologia em seus modelos de negócio, mas múltiplos altos não estão necessariamente ligados a um setor, e, sim às perspectivas (e expectativas) de crescimento das companhias.
“Tecnologia costuma ter um múltiplo maior do que a média porque se espera um crescimento muito forte durante os primeiros anos. Empresa de crescimento acelerado é negociada a múltiplo alto, já que o aumento de lucro gera uma compressão de lucros no futuro”, explica Bruno Lima.
Nesses casos, Lima sugere olhar para os lucros previstos para os próximos dois ou três anos. Ainda assim, o analista vê o indicador como mais efetivo para comparação de companhias mais estabilizadas.
“Para empresas que crescem muito é perigoso analisar só os múltiplos. Mas em qualquer caso, acoplada às discussões de P/L, o investidor tem que olhar para o fluxo de caixa e fazer um estudo mais qualitativo dos negócios."