Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset e gestor do Fundo Verde, um dos mais rentáveis do país há mais de duas décadas (Patricia Monteiro/Bloomberg)
Marcelo Sakate
Publicado em 6 de março de 2021 às 11h23.
Última atualização em 6 de março de 2021 às 11h29.
Luis Stuhlberger, um dos gestores mais experientes e respeitados do país, demonstrou grande preocupação com a situação atual e as perspectivas da economia e do país com o agravamento da pandemia na mais nova carta do Fundo Verde, da Verde Asset.
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O diagnóstico feito Stuhlberger, cujas análises são atentamente ouvidas por investidores e analistas por causa da profundidade e da precisão dos comentários, serve como mais um alerta aos investidores e à sociedade para os tempos que estão por vir.
Um dos mais longevos fundos multimercados do país, o Verde acumula valorização de 18.682% desde 1997, superando com folga o avanço de 2.230% do CDI.
"Escolhas têm consequências. Essa máxima simples, mas tão ignorada em nosso país, explica bem os acontecimentos recentes no Brasil e seus impactos nos mercados", escreve o gestor logo no começo da análise para então descer aos pontos relacionados ao raciocínio.
"A opção política por não adquirir vacinas com a celeridade necessária está permitindo que a segunda onda da pandemia, potencializada pelas novas variantes do vírus, atinja níveis sem precedentes e novamente arrisque um colapso do sistema de saúde brasileiro", diz.
"Tal atraso em proteger a população aparece a olhos vistos e tem consequências óbvias tanto em termos de vidas quanto em termos econômicos. É inacreditavelmente mais barato comprar vacinas do que fazer mais gastos fiscais – que vem com endividamento, mais inflação, juros mais altos etc.", complementa em relação à demora do governo.
O gestor também aponta a responsabilidade de deputados e senadores e da população pela delicada situação do país no enfrentamento da pandemia, com a escalada de casos, internações e mortes por covid-19 e a consequente decisão de governos estaduais e prefeituras de endurecer as regras para a atividade econômica e a circulação de pessoas.
"O Congresso parece acreditar que pode expandir o gasto sem limites num país de dívida/PIB de 90%. As discussões recentes sobre novo auxílio emergencial e abertura de espaços no teto para Bolsa-Família representam um potencial tiro mortal no arcabouço fiscal brasileiro, que trouxe inúmeros benefícios, especialmente ao possibilitar que o país tenha uma taxa de juro mais civilizada", diz a carta da Verde sobre a atuação recente do Legislativo.
"Boa parte da população, cansada do ano difícil, tem irresponsavelmente frequentado os clássicos eventos superspreaders, como festas, bares e outros. Não é à toa que a aceleração da contaminação se dá após festas de fim de ano e Carnaval", aponta a carta em relação aos fatores que ajudam a explicar a disparada no número de pessoas contaminadas.
Diante desse quadro preocupante, que Stulhberger escreve como "situação mais complicada", o Fundo Verde decidiu "aumentar as proteções do portfólio, especialmente no câmbio".
A carta do Verde faz a leitura dos reflexos da situação para o mercado financeiro. "A desvalorização acentuada do real é a métrica mais óbvia das consequências, em termos de empobrecimento do país, das escolhas acima. Os outros ativos brasileiros também sentem os efeitos do aumento do prêmio de risco. Além disso, o ambiente global passou a combinar retomada cíclica com aumento das taxas longas de juros."
O Verde relata que teve perdas nas posições em ações brasileiras, e em menor medida, na posição aplicada em juro real. "Os ganhos vieram de posições tomadas em taxas de juros longas na Europa e nos EUA, além da posição em bolsa global e da posição comprada em dólar", explica a carta.
O rendimento foi negativo em 0,24% em fevereiro, enquanto o CDI rendeu 0,13%. No acumulado de 2021, o Verde ainda bate o CDI, com avanço de 0,43%, acima do 0,28% do benchmark.