Invest

Petrobras: vale a pena aproveitar a queda para investir nas ações?

Analista Thiago Duarte, do BTG Pactual, explica o que o investidor deve considerar sobre a estatal antes de tomar decisão sobre os papeis, que caíram mais de 20% em um dia

Petrobras: empresa está envolta em incertezas sobre o rumo dos negócios com ingerência do governo (Sergio Moraes/Reuters)

Petrobras: empresa está envolta em incertezas sobre o rumo dos negócios com ingerência do governo (Sergio Moraes/Reuters)

As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) encerraram o pregão da segunda-feira, 22, cotadas a 21,45 reais, depois da forte queda de 21,51%. No caso das ordinárias (PETR3), o preço foi para 21,55 reais, com recuo de 20,48%.

A variação negativa nos papéis da petroleira aconteceu após a mudança anunciada por Jair Bolsonaro no comando da empresa na última sexta-feira (19). A dúvida que fica para muitos investidores em relação à companhia é: é uma boa oportunidade para comprar ações da companhia ou o momento ainda é de cautela?

Quer saber como o sobe-e-desce do dólar pode afetar a economia brasileira?  Assine a EXAME Invest Pro

De acordo com o sócio e analista de empresas do setor de óleo e gás do BTG Pactual, Thiago Duarte, a Petrobras é uma companhia que, se gerida de forma coerente, com a continuidade dos fundamentos que estavam sendo implementados na última gestão, pode ter um upside (potencial de alta) muito interessante.

"A Petrobras já era relevante antes de cair como está caindo, passaria a ser mais relevante ainda com o preço de agora. Só que o outro lado da moeda ainda pode ser muito danoso", afirmou Duarte.

O especialista, porém, alertou para o risco de incerteza atual em relação à nova gestão da empresa e a comparou, no momento, como "jogar uma moeda pra cima". Ou seja, o futuro da estatal é muito incerto até que os objetivos da nova gestão fiquem claros.

"Até termos algum tipo de clareza do que pode ser essa nova Petrobras, sabendo que ano que vem é ano de eleição, que o câmbio está estressando, o próprio petróleo está subindo e isso em tese demandaria novos reajustes de preço, estamos confortáveis em não recomendar a ação neste momento", destacou o analista do BTG.

As análises de Duarte foram feitas em live realizada pela EXAME Invest Pro, apresentada pelo head de Investimentos da EXAME Invest, Renato Mimica.

Mimica, que também é analista de investimentos e possui 15 anos de experiência no mercado, complementou a fala de Duarte destacando que há outros papéis na bolsa com relação de risco/retorno mais interessantes, neste momento, do que os da Petrobras.

Tenha mais rendimento para o seu patrimônio com a credibilidade do maior banco de investimentos da América Latina. Abra sua conta no BTG Pactual digital. 

Qual a referência do mercado para analisar a situação da Petrobras?

O setor de refino da Petrobras sofreu com longos períodos operando no prejuízo, como entre 2011 e 2014, por exemplo. O fato ocorreu porque o governo da época, da ex-presidente Dilma Rousseff, decidiu segurar reajustes nos combustíveis para era evitar a alta da inflação.

A estatal petroleira acumulou prejuízos que, somados, se aproximaram de 100 bilhões de reais por causa disso e se viu em um beco sem saída: sofria pressão por resultados financeiros positivos e, por outro lado, era usada pelo governo para suavizar o preço do combustível.

"O mercado vai usar sempre como referência o que aconteceu com a Petrobras entre 2011 e 2014, quando ela fez tudo ao contrário do que eu estava defendendo há pouco, sobre não subsidiar o preço do combustível e realizar desinvestimentos para focar na área em que atua melhor. Na época, a empresa fez um plano de investimento muito maior do que ela vinha fazendo nos últimos anos, o que se traduziu em muita perda de rentabilidade", relembrou Duarte.

O analista do BTG, entretanto, falou que quando se pensa exclusivamente na política de preço, bem ou mal, acaba sendo a forma mais natural, direta e tangível de interferência política na companhia.

"Se você pegar entre 2011 e 2014, a empresa teve [que bancar] um subsídio com o preço na refinaria, em média, em torno de 20% abaixo da paridade internacional", disse Duarte.

O analista ainda realizou algumas projeções resumidas para exemplificar o quanto a companhia poderá perder neste ano caso seja obrigada a segurar os preços da gasolina e do diesel mesmo com a cotação do petróleo subindo.

De acordo com o especialista do BTG Pactual, é possível que a companhia tenha uma queda de 20% no Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), além de perdas maiores no lucro líquido. "O Ebtida da companhia com tudo mais constante hoje seria neste ano alguma coisa na casa de 36 bilhões de dólares. Estimamos que ele cairia para perto de 30 bilhões de dólares; uma queda próxima de 20% no Ebtida da companhia", disse Duarte.

Já o lucro líquido, que antes era estimado pelo analista para algo próximo a 10 bilhões de dólares, cairia cerca de 30%, para 7 bilhões de dólares, com o olhar projetado pelo mercado hoje. Duarte reforçou que, mais do que somente acreditar que a companhia pode passar a subsidiar o preço dos combustíveis, o que o mercado está fazendo no momento é aumentar a taxa de desconto.

Ou seja, não só reduzir o lucro estimado como aumentar a taxa de risco sobre a estatal. "No limite, o mercado deveria precificar ou reduzir o preço da Petrobras em mais do que os 30% de queda do lucro que estou falando -- isso em uma análise simplista para ajudar a gente a navegar dada a intensidade dos movimentos", finalizou o analista do BTG.

Confira a íntegra da live com Thiago Duarte, sócios e analista do setor de petróleo do BTG Pactual, e Renato Mimica, CIO da EXAME Invest Pro:

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:BTG PactualExame ResearchInvestimentos-pessoaisPETR3PETR4PetrobrasSubsídios

Mais de Invest

Como negociar no After Market da B3

Casas Bahia reduz prejuízo e eleva margens, mas vendas seguem fracas; CEO está confiante na retomada

Tencent aumenta lucro em 47% no 3º trimestre com forte desempenho em jogos e publicidade

Ações da Americanas dobram de preço após lucro extraordinário com a reestruturação da dívida