Mansueto, do BTG Pactual: "Investimentos mais longos têm risco, porque não sabemos qual será a regra fiscal depois da eleição" (BTG Pactual/Divulgação)
Bianca Alvarenga
Publicado em 13 de julho de 2022 às 09h18.
Última atualização em 13 de julho de 2022 às 16h39.
Que a renda fixa voltou a ser a menina dos olhos dos investidores, não é novidade. Com a taxa Selic batendo os 13,25% ao ano, e com possibilidade de subir mais alguns degraus, as aplicações indexadas ao CDI ou à inflação tem sido vistas como um porto seguro nos investimentos. Mas o elevado grau de incerteza sobre os rumos da economia brasileira é um desafio para quem espera uma maré calma até mesmo na renda fixa.
Esse é o principal diagnóstico de Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador de EXAME) e de Stefanie Birman, sócia e estrategista do banco. Em um painel do evento BTG Talks, os especialistas citaram o risco de um repique na inflação no segundo semestre, que poderia levar o Banco Central a subir os juros além do esperado.
"Em 2023, esperamos uma inflação acima dos 6%, enquanto o Banco Central ainda aponta para uma taxa de 4%. Se estivermos certos, o BC pode ter que voltar a aumentar os juros no final do ano, mesmo com a trégua que a inflação deve ter no começo do segundo semestre", alertou Birman.
A trégua de curto prazo é resultado da redução do ICMS sobre os combustíveis, mas mesmo esse evento pode ter efeito limitado se o dólar continuar subindo, como é esperado. Além disso, as eleições podem adicionar risco ao cenário, dependendo dos planos apresentados pelos candidatos e, em última instância, das sinalizações que o próximo governo der sobre a política fiscal.
Com tantas variáveis em aberto, Mansueto Almeida recomenda que o investidor não faça grandes movimentos de portfólio, principalmente considerando que a mudança nas projeções de inflação e juros pode penalizar o valor dos títulos de renda fixa.
"Se estamos falando de um investidor que não está preocupado com a marcação a mercado e pode carregar título até o vencimento, então investir agora é oportunidade. Agora, para quem acompanha o preço todos os dias, um título como o IPCA+ pode não ser bom, porque se prêmio abrir, no curto prazo haverá perda", ponderou o economista-chefe do BTG.
Ele lembra que mesmo os títulos de inflação que pagam um juro real alto podem sofrer com uma disparada do IPCA, pois o Imposto de Renda vai abocanhar uma parte maior do rendimento, dado que o tributo é cobrado sobre o retorno nominal. Nesse caso, Almeida diz que uma aplicação isenta, como uma debênture incentivada, pode ser melhor.
"Eu apostaria em investimentos mais curtos, de 5 ou 10 anos. Hoje títulos mais longos têm risco, porque não sabemos qual será a regra fiscal depois da eleição. Eu espero que, qualquer que seja o governo eleito, haja uma boa sinalização para o mercado, assim reduzimos o chamado risco da curva, e os juros podem recuar", disse o economista.
Uma vez que a única certeza é que a volatilidade continuará alta, Mansueto afirmou que "ficar parado" não é necessariamente ruim. A receita da espera não é manter o dinheiro parado, e sim buscar títulos com liquidez diária e isenção de IR que podem ser resgatados e aplicados em alternativas melhores, quando o cenário econômico ficar mais claro.
"Com o juro alto, até mesmo os investimentos de curto prazo estão pagando bem. É possível se proteger no curto prazo para tomar uma decisão definitiva", aconselhou o economista-chefe do BTG.
Sobre os outros ativos, Birman diz que levará um tempo para que aplicações de risco, como bolsa e dólar, voltem a ser atrativos. A sócia e estrategista do banco diz que, para esses casos, a luz no fim do túnel só será vislumbrada quando o mercado tiver uma noção mais clara do prazo da recessão nos Estados Unidos.
"Os investidores mais ativos podem pensar em entrar pontualmente ao longo do caminho, entrando nos pontos de queda, mas não recomendamos que uma grande posição seja montada agora", ponderou Stefanie.