André Bona: "Ao investir em ações, a pessoa está se tornando sócia em um negócio. Adquirir uma ação é comprar um pedaço de uma empresa", afirma o educador financeiro (André Bona/Arquivo Pessoal/Exame)
Da Redação
Publicado em 6 de novembro de 2020 às 14h00.
Última atualização em 5 de agosto de 2022 às 14h22.
Cada vez mais brasileiros têm se interessado por educação financeira e buscado investir. Em 2019, segundo dados da Anbima, 38% da população poupou algum dinheiro e desse total, 42% investiu o valor guardado. A pesquisa “Raio X do Investidor” mediu o conhecimento dos brasileiros com relação aos principais produtos de investimento. Na primeira fase, os pesquisadores não apresentaram alternativas com opções de resposta; já na segunda etapa, sim.
Na fase sem a apresentação de alternativas, 48% das pessoas citaram espontaneamente algum tipo de investimento. Entre os principais produtos citados, a caderneta de poupança foi a mais lembrada, 28%. Em seguida, aparecem as ações na bolsa de valores, mencionadas por 12% dos entrevistados. Já quando as alternativas foram apresentadas aos entrevistados, 90% das pessoas afirmaram conhecer a poupança. E 79% disseram conhecer as ações de empresas.
O maior conhecimento sobre os produtos financeiros não significa que os brasileiros invistam nesses ativos. As ações foram mencionadas por 79% das pessoas com a metodologia de perguntas estimuladas, mas apenas 2% da população aplicou efetivamente em ações em 2019. O motivo pode ser mais uma vez a falta de conhecimento. Afinal, o que é uma ação?
Ao investir em ações, a pessoa está se tornando sócia em um negócio. Adquirir uma ação, é comprar um pedaço de uma empresa. “É importante lembrar que nas ações você não é um credor, não empresta o dinheiro e pode cobrar ele de volta, como acontece na renda fixa. Você está entrando em um negócio e não tem total garantia de que vai receber o dinheiro de volta. É apostar no crescimento da atividade e querer participar da lucratividade daquele negócio”, explica André Bona, professor do curso Manual do Investidor da EXAME Academy.
Já a bolsa de valores é uma espécie de mercado com ações de diversas empresas. "É uma feira onde as pessoas se encontram para negociar pedaços de empresas. Um local de negociação de participação em empresas”, afirma Bona.
As ações são divididas em alguns tipos principais.
O primeiro são as ordinárias, chamadas pela sigla ON. Normalmente elas têm no final do código de negociação o número 3, e são ações que dão poder de voto aos acionistas. Os controladores de uma empresa, aqueles que participam das tomadas de decisões detêm uma grande quantidade de ações ordinárias.
Outro tipo são as ações preferenciais, que levam a sigla PN. No código, geralmente, essas ações carregam os número 4, 5 ou 6. Os donos destas ações não têm direito a voto, mas têm preferências em receber os dividendos. Por fim, existem as units, que não são propriamente ações, são mais um pacote que inclui ações ordinárias e preferenciais. Normalmente essas ações têm o número 11 no final do código.
Antes de começar a investir e comprar ativos na bolsa de valores, é essencial compreender os modelos de precificação das ações. Para isso, são usados diversos indicadores da empresa como lucro, preço das ações, e tantos outros que compõem a chamada análise quantitativa, baseada em números e resultados racionalizados. Por outro lado, o entendimento do modelo de negócios da empresa faz parte da análise qualitativa.
“O preço de uma ação reflete a percepção do mercado em relação ao valor de um negócio. Para se avaliar uma companhia, precisamos realizar uma análise qualitativa do modelo de negócios e também uma análise quantitativa através do balanço da empresa e dos demonstrativos financeiros”, explica Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research.
“Acho muito difícil precisar o preço de uma ação. A modelagem financeira vai te ajudar a compreender se a empresa está em trajetória positiva ou negativa em relação ao crescimento e rentabilidade. Acho que este é o principal objetivo. Você tentar inferir se a companhia seguirá rentabilizando o acionista a taxas saudáveis e nisso o modelo para tentar determinar o valor justo de uma ação pode ajudar. Mas é muita pretensão achar que é possível modelar um negócio olhando cinco, dez anos para frente. Certeza que ninguém tinha cinco anos atrás que a Amazon iria valer mais de 1 trilhão de dólares”, afirma o especialista.