Imagem criada pelo @inventormiguel pelo MidJourney (Reprodução/Exame)
Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 3 de abril de 2024 às 17h39.
Última atualização em 9 de abril de 2024 às 16h15.
Hoje quero compartilhar com vocês uma reflexão pessoal sobre como a inteligência artificial (IA) tem transformado drasticamente meu processo de escrita — e nem sempre para melhor.
Lembro da época em que escrever um texto era uma jornada épica. Mergulhava em livros indicados por mentores e amigos, sublinhava trechos, fazia anotações nas margens. Cada livro lido era uma conquista.
As pausas para reflexão faziam parte, trazendo insights pessoais. Depois vinha a fase de digitar as anotações no computador, organizar elas, conectar, lapidando cada frase e parágrafo. O resultado final era fruto de muito esforço, mas também de uma grande satisfação.
Hoje, com ferramentas de IA, consigo produzir textos em uma fração desse tempo. Mando transcrições e referências para o modelo de linguagem e em poucos minutos tenho um artigo pronto, que com uma rápida revisão já está no ponto de publicar.
A eficiência é impressionante, mas algo se perdeu nesse processo.
Aquela angústia criativa de buscar conexões, desenvolver cada ideia... aquilo construía o próprio pensamento e aprendizado. Sinto falta desse prazer proveniente da escrita, que surgia justamente do esforço envolvido.
Venho tentando dosar. Para alguns textos mais pessoais e reflexivos, como este, opto por escrever do zero, apenas com minha imaginação. É um exercício para não deixá-la atrofiar. Em outros, uso a IA mais como assistente de revisão e formatação.
É um equilíbrio difícil. Muitas vezes a facilidade da IA é tentadora demais. Mas não podemos nos tornar preguiçosos mentalmente. Delegar demais nosso processo de pensar e criar tem um custo alto. Os textos podem ficar todos muito parecidos e medianos, perdendo aquele toque humano único.
Desenvolvi mais a fundo essas reflexões no YouTube. Conto detalhes inéditos da minha jornada pessoal com a escrita, revelações de um romance que escrevi e nunca publiquei, e aprofundo o debate sobre os riscos da IA para nossa cognição e imaginação. Conteúdo exclusivo que complementa e enriquece muito essa discussão.
Em suma, a introdução da IA no processo de escrita trouxe ganhos significativos de eficiência, mas também ameaça uma parte essencial da criação: o esforço cognitivo de elaborar ideias, fazer conexões inesperadas e imprimir um estilo único.
Ao delegar demais à máquina, corremos o risco de atrofiar nossa imaginação e produzir conteúdos padronizados. A lição é buscar um equilíbrio consciente, usando a IA como ferramenta auxiliar, mas preservando espaço para o exercício criativo humano.
Fica a reflexão: em um mundo onde cada vez mais tarefas cognitivas são automatizadas, como cultivar diferenciais humanos valiosos como originalidade, pensamento crítico e a capacidade de surpreender e emocionar por meio das ideias que criamos e compartilhamos?