Inteligência Artificial

OpenAI planeja mudar sua estrutura para equilibrar lucro e benefício público

Mudança permitirá captação de recursos no mercado e promete equilibrar lucro com impacto social, mas enfrenta resistência de fundadores e concorrentes

Sam Altman: CEO da OpenAI (JASON REDMOND/Getty Images)

Sam Altman: CEO da OpenAI (JASON REDMOND/Getty Images)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 12h21.

Última atualização em 27 de dezembro de 2024 às 12h26.

A OpenAI anunciou nesta sexta-feira, 27, que pretende reformular sua estrutura em 2025 para cumprir sua missão de garantir que a inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) — sistemas de IA capazes de realizar a maioria das tarefas feitas por humanos — traga benefícios para toda a humanidade. A empresa, que hoje combina uma organização sem fins lucrativos com uma empresa lucrativa de lucro limitado, quer transformar sua parte lucrativa em uma "Corporação de Benefício Público" (Public Benefit Corporation, ou PBC). Essa mudança permitirá que ela tenha ações comuns no mercado e mantenha sua missão de impacto social como prioridade.

A proposta, explicada pela primeira vez em um comunicado público, busca equilibrar os interesses de acionistas, investidores e do público. A OpenAI argumenta que essa mudança facilitará a captação de recursos financeiros e permitirá que a organização sem fins lucrativos que controla a empresa lucrativa se torne uma das mais bem financiadas do mundo. A entidade sem fins lucrativos continuará liderando projetos sociais em áreas como saúde, educação e ciência, enquanto a PBC será responsável pelos negócios e operações.

O contexto financeiro e os desafios legais

Desde sua fundação em 2015 como um laboratório de pesquisa sem fins lucrativos, a OpenAI tem enfrentado pressões financeiras crescentes para financiar projetos que exigem cada vez mais dinheiro. Em 2023, a empresa levantou US$ 6,6 bilhões (aproximadamente R$ 34 bilhões) em uma rodada de investimentos que avaliou a OpenAI em US$ 157 bilhões (mais de R$ 800 bilhões). Contudo, os investidores exigem que a transição para o modelo lucrativo seja concluída até 2025.

Apesar de parecer vantajosa, a mudança tem gerado resistência. Elon Musk, um dos fundadores da OpenAI, entrou com um processo para bloquear a transição, alegando que a empresa está abandonando sua missão original de beneficiar a humanidade. Musk também afirmou que a OpenAI prejudicou sua nova empresa de IA, a xAI, ao convencer investidores a não financiarem concorrentes. A OpenAI respondeu chamando as acusações de Musk de "infundadas" e movidas por ressentimento.

A Meta, dona do Facebook e concorrente direta da OpenAI no campo da IA, também se opõe à transição. A empresa enviou uma carta ao procurador-geral da Califórnia argumentando que o modelo da OpenAI criaria vantagens fiscais injustas, já que combina elementos de uma organização sem fins lucrativos e de uma empresa lucrativa.

A estrutura atual da OpenAI, que separa as decisões entre a organização sem fins lucrativos e a empresa lucrativa, também causou tensões internas. Em novembro de 2023, essa divisão levou à demissão inesperada de Sam Altman, CEO da OpenAI, o que gerou insatisfação entre investidores como a Microsoft.

Ex-funcionários também expressaram preocupações com o direcionamento da OpenAI. Carroll Wainwright, que trabalhava em pesquisas sobre a segurança da IA, afirmou que a empresa prioriza produtos comerciais e alertou que suas promessas futuras de "fazer a coisa certa" podem não ser confiáveis.

O futuro da OpenAI como PBC

Embora a transição para uma PBC seja vista pela OpenAI como uma forma de fortalecer sua missão e atrair mais investimentos, ela enfrenta grandes desafios legais e de reputação. Além dos processos movidos por Musk e da oposição de empresas como a Meta, a OpenAI precisa reconquistar a confiança de funcionários, investidores e do público em sua capacidade de equilibrar lucros e impacto social.

À medida que 2025 se aproxima, a OpenAI terá que provar que pode manter o compromisso com sua missão de beneficiar a humanidade, enquanto se transforma para competir em um mercado cada vez mais exigente e lucrativo. A transição pode marcar o futuro da empresa — e também ditar como outras gigantes da tecnologia equilibrarão seus objetivos financeiros com responsabilidades sociais.

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