Inteligência Artificial

O que mostra o salto nos gastos com inteligência artificial no Brasil

Com crescimento de 120% das despesas com IA dos brasileiros, os negócios no país ganham a chance de impulsionar transformação

Apps de IA: a geração Y é a principal consumidora dos serviços de inteligência artificial (Jaap Arriens/Getty Images)

Apps de IA: a geração Y é a principal consumidora dos serviços de inteligência artificial (Jaap Arriens/Getty Images)

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 29 de junho de 2023 às 10h47.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 14h04.

Gastos dos brasileiros com inteligência artificial (IA) cresceram 120% nos cinco primeiros meses de 2023. É o que mostra uma reportagem exclusiva de André Lopes, meu colega aqui da Exame.

O levantamento que aferiu esse surpreendente crescimento, feito pelo Itaú Unibanco, levou em conta os gastos com cartões de crédito com serviços de inteligência artificial este ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

O valor mais que dobrou. Essa informação não me surpreendeu, afinal, ninguém conhecia o ChatGPT ano passado. Estávamos preocupados com o metaverso.

Se a gente for olhar o Google Trends, é possível verificar esse crescimento exponencial do interesse nas buscas pelo termo "inteligência artificial".

Em suma: IA nunca foi tão popular quanto é hoje.

Os dados do Itaú só comprovam que esse interesse já está se traduzindo em dinheiro.

A geração Y, de 28 a 42 anos, é a principal consumidora dos serviços de inteligência artificial, representando 52%. Os homens lideram o uso, sendo responsáveis por 80%. Mas as mulheres, apesar de em menor quantidade, gastam mais do que os homens. São mais inteligentes.

As carreiras que mais usam plataformas de inteligência artificial são analistas de sistemas, engenheiros e advogados. A tendência é acontecer o mesmo movimento que a gente viu, por exemplo, com os métodos ágeis. Surgiram na área de tecnologia e foram se alastrando pelas organizações.

A história se repete

Esse é um movimento cíclico da tecnologia. Outro exemplo são computadores, eram dispositivos ligados a entusiastas, mas não demorou para se alastrarem também pelas empresas.

A mesma coisa vai acontecer com as inteligências artificiais. A área de tecnologia vai começar a usar intensamente e as empresas que forem ágeis vão conduzir essa passagem de conhecimento de TI para as áreas de negócios.

Lopes também publicou um artigo sobre um outro estudo interessante, dessa vez da IBM, que revelou que 51% dos executivos de dados do Brasil estão investindo fortemente em inteligência artificial. Eis uma outra evidência de que o movimento começou na TI e vai se mover para as áreas de negócios.

E, sabe quais são as empresas de IA preferidas dos brasileiros? Segundo o levantamento do Itaú, as queridinhas são: OpenAI, GitHub e Notion.

O OpenAI é do ChatGPT; Github e Notion são tipo o pacote Office dos programadores. Github, ou Git, para os íntimos, é para código e o Notion é para escrever texto de documentação.

Vindo da área de tecnologia com o Github, Notion e expandindo para negócios com o ChatGPT. E o próprio Notion começou a ser muito usado por pessoas da área de marketing, projetos, financeiro, administrativo. Eu falo bastante sobre o Notion AI no curso que gravei na Exame.

Segundo o levantamento, os estados que mais investem na tecnologia são São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.

Outro dado que me chamou a atenção do levantamento do Itaú é que, em São Paulo, as pessoas físicas gastam mais com inteligência artificial do que as jurídicas.

O que está acontecendo agora é que as pessoas estão conhecendo a inteligência artificial e pagando do próprio bolso para começar a usar. No curto prazo, isso pode funcionar, mas já já as empresas vão precisar absorver esse investimento. Essas ferramentas vão ser como o Excel, o Windows, vão fazer parte do cotidiano de boa parte dos funcionários.

Hoje, as empresas não têm qualquer controle sobre o que seus funcionários mandam para o ChatGPT. Isso é obviamente insustentável.

Além de ter que treinar os colaboradores para saber usar essas ferramentas de forma segura e sustentável, as empresas vão precisar criar mecanismos de controle e acesso à propriedade intelectual e dados sigilosos. Como essas informações vão se integrar com as ferramentas de inteligência artificial? Ninguém sabe essa resposta ainda.

As empresas brasileiras que mais investem em inteligência artificial fazem isso por um motivo principal, adivinha qual é? Aumentar eficiência e competitividade.

Definitivamente, eles estão no caminho certo.

De acordo com o Índice Global de Inteligência Artificial, atualmente, o Brasil se encontra na 39ª posição.

O Índice Global de IA acompanha as 3 forças que aceleram o desenvolvimento da inteligência artificial em 62 países: investimento, inovação e implementação.

São 143 indicadores divididos em sete grupos: Talento, Infraestrutura, Ambiente Operacional, Pesquisa, Desenvolvimento, Estratégia Governamental e Comercial. Aí eles fazem uma conta lá para calcular o índice de cada país.

Em primeiro lugar, se encontra os Estados Unidos. Seguido da China e Reino Unido.

Portugal em 38º no ranking de inteligência artificial – TICtank

Mas, apesar dessa grande diferença em escala e maturidade em relação aos líderes globais, o Brasil vem progredindo e se posicionando como um participante promissor no campo da IA.

Os dois piores indicadores do Brasil estão na área de pesquisa e na área comercial.

A inteligência artificial abre uma janela de oportunidade imensa para as empresas brasileiras, toda uma nova gama de produtos nas diferentes áreas podem ser imaginados.

Isso significa investimento justamente em pesquisa e desenvolvimento para construirmos no Brasil as soluções que a inteligência artificial pode trazer para os problemas brasileiros.

Vale a pena acompanhar esse ranking, acho que o Brasil tem potencial para estar entre os primeiros, um dos nossos melhores indicadores é o acesso a talentos, pessoas não faltam.

Como sempre estamos atrasados, mas pelo menos estamos no caminho certo.

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