Repórter
Publicado em 16 de agosto de 2024 às 14h30.
Última atualização em 16 de agosto de 2024 às 14h39.
Você sabe o que faz um CAIO? A pergunta não é sobre o nome próprio, mas sobre o cargo de Chief Artificial Intelligence Officer, o diretor de inteligência artificial de uma empresa, em bom português. A posição ainda é nova, mas começa a compor as mesas de diretorias de empresas dos mais variados setores. No caso da varejista Magalu, o título dá conta de ambas as situações, pois Caio Gomes é o nome do executivo nomeado no início de agosto para a função inédita na empresa.
À frente da nova diretoria, criada para acelerar o desenvolvimento do "cérebro da Lu", uma IA generativa voltada para melhorar a experiência dos clientes da varejista e tornar o avatar icônico em algo que mescle o real com o virtual, Gomes traz uma bagagem sólida no setor de tecnologia e dados. Graduado em Física pela Universidade de São Paulo (USP), ele possui mestrados em Teoria das Cordas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Física e Matemática pela École Polytechnique, na França. Também tem passagens pela Amazon, Nubank, Único e Booking.
Em entrevista à EXAME, o novo diretor ressaltou que tem sido um período intenso de aprendizado e implementação de ideias dentro do Magalu, com grande demanda e interesse por parte da liderança da empresa. Segundo ele, o principal desafio é escolher as primeiras apostas, que vão desde pequenos projetos de otimização até grandes iniciativas em logística, marketing e atendimento ao consumidor.
Para Gomes, o sucesso das iniciativas de inteligência artificial deve ser medido por métricas de negócios, como aumento de receita e redução de custos. Ele acredita que a personalização impulsionada por IA tem uma demanda significativa dos clientes, o que reforça a necessidade de criar um canal conversacional multimodal, oferecendo uma experiência de compra mais interativa e personalizada, unindo, por vezes, as experiências digital e física por meio da IA.
Você assumiu o cargo de diretor de inteligência artificial do Magalu há cerca de 15 dias. Como tem sido essa experiência inicial?
É um momento de muitos alinhamentos. Desde o CEO Frederico Trajano até a Luiza Helena, passando por todos os diretores e gerentes, há muita demanda e interesse em discutir e implementar novas ideias e tecnologias. Existe uma grande oportunidade de reestruturar a empresa com esse foco, e estou aprendendo muito sobre a Magalu e seus negócios. Há milhões de oportunidades, mas o desafio é escolher as primeiras apostas e executá-las bem. Não dá para fazer tudo de uma vez.
E quais desafios você vê pela frente? Como está estruturada a área de IA na Magalu?
Um dos principais desafios é escolher as primeiras apostas e executá-las com precisão. Adotei um modelo de duas camadas: a primeira foca em pequenos projetos de otimização, que são importantes, mas não transformadores. A segunda envolve grandes iniciativas, como em logística, marketing e atendimento ao consumidor, que têm potencial para gerar economia ou ganhos substanciais. Passei as últimas semanas mapeando essas grandes apostas junto com os líderes da empresa.
Uma vez essas iniciativas rodando, como medir o sucesso da inteligência artificial na operação, especialmente em um campo tão novo e com benchmarks ainda em desenvolvimento?
A inteligência artificial é uma ferramenta para resolver problemas, e o sucesso deve ser medido por métricas de negócios, como aumento de receita, redução de custos e engajamento de usuários. Projetos que não trazem resultados concretos tendem a ser abandonados. O foco precisa estar em resolver as grandes dores da empresa e não apenas em implementar IA por implementar.
Pensando na experiência do Magalu, como você vê a personalização impulsionada por IA? Há realmente uma demanda significativa dos clientes por isso?
Sim, há muitos indicadores de que os clientes desejam uma experiência mais personalizada. A ideia é criar um canal conversacional multimodal, onde o cliente possa interagir de forma mais pessoal, quase como antigamente, quando o atendimento nas lojas era mais próximo e personalizado. Queremos trazer essa sensação para o e-commerce, onde a Lu pode atuar como influenciadora, vendedora, assistente de compras e outras funções cada vez mais inteligente e personalizada.
Na apresentação do seu cargo, uma das missões descrita foi a otimização do cérebro da Lu. Mas o que exatamente significa deixar a Lu mais inteligênte?
Significa centralizar a inteligência artificial no centro das operações da empresa. Queremos reestruturar processos a partir da perspectiva da IA, em vez de apenas usar a IA para acelerar processos já existentes. Isso implica repensar como a IA pode ser a base de novas operações, desde o início
Olhando para o futuro da inteligência artificial generativa, qual é a sua visão? Vamos ver isso em produtos menores ou em soluções integradas ao dia a dia das pessoas?
Eu acredito que o futuro da IA generativa está em resolver as dores do consumidor. Veremos cada vez mais produtos focados em necessidades específicas, e as empresas que conseguirem fazer isso vão se destacar. O desafio é criar soluções que realmente agreguem valor. Por exemplo, a Magalu pode usar IA para repensar a jornada de compra de uma maneira que seja mais interativa e conversacional, mas sempre focada em resolver problemas reais dos consumidores.
Como você vê a posição do Brasil nesse cenário de inovação em IA? A Magalu tem potencial para liderar iniciativas que mudem a percepção do Brasil como apenas um consumidor de tecnologia?
Estamos em um momento único, onde o jogo está começando novamente. O Brasil é grande o suficiente para criar soluções locais que atendam ao nosso mercado, e o momento é propício para investir nisso. Temos a chance de recomeçar e, com os investimentos certos, o país pode deixar de ser apenas um consumidor e se tornar um criador de tecnologia. No caso do Magalu, estamos focados em desenvolver tecnologias que resolvam problemas reais e que possam até mesmo se tornar produtos exportáveis, adaptados à realidade brasileira, mas com potencial de impacto global.