Cristiano Amon: CEO da Qualcomm (Ethan Miller)
Repórter
Publicado em 21 de outubro de 2024 às 19h38.
Última atualização em 26 de outubro de 2024 às 16h01.
MAUI, HAVAÍ — Gritos ao estilo torcida organizada, quase como em um jogo de futebol, marcaram as mais de quatro horas de apresentação da Qualcomm, líder global em chips para smartphones, durante o primeiro dia do Snapdragon Summit. A cada novo anúncio feito no evento que ocorre anualmente no Havaí, os "insiders", o título dado aos entusiastas da marca Snapdragon, vibravam e quase desconcertavam os executivos no palco, que tentavam manter a formalidade diante de uma plateia tão empolgada por nada mais, nada menos que processadores.
Mas todos ali tinham motivos para comemorar. A Qualcomm, como poucas empresas nesse momento, surfa do topo a onda da inteligência artificial (IA), ocupando uma posição privilegiada ao lado de gigantes como a Nvidia. Não é na mesma dimensão que a empresa de Jensen Huang, mas a Qualcomm também fornece a tecnologia essencial para que empresas como Microsoft e OpenAI levem IA aos consumidores. Especificamente, leva a IA para o bolso dos usuários via smartphones. E não só isso: a empresa tem avançando em territórios tradicionalmente dominados por empresas como an Intel, sugerindo até mesmo uma possível aquisição da rival.
No centro dessa boa fase está Cristiano Amon, o brasileiro que atualmente é o CEO da Qualcomm. Amon, em sua fala no painel principal do evento, serviu de combustível à animação do público ao anunciar a “Batalha de Benchmarks”, um tipo de duelo de desempenho entre os processadores mais potentes do mercado. Os produtos da Qualcomm, não por acaso, apareceram todos na frente.
Amon também lançou um comparativo inédito, e que talvez não faça sentido para usuários comuns: as informações sobre como o processador Snapdragon Series X de nova geração, feito para notebooks, se comporta funcionando direto da bateria, sem estar conectado na tomada. Esse indicador é importante pois a bateria sofre oscilações a depender da carga.
Com o resultado também favorável para a Qualcomm, Amon anunciou a que a empresa agora toma uma distância de qualquer outro produto concorrente.
O papo nerd, por assim dizer, do CEO, já se fez entender no mercado e junto dos investidores nos últimos balanços da empresa. No terceiro trimestre fiscal de 2024, a receita total da empresa atingiu US$ 9,39 bilhões, um crescimento de 11% em relação ao ano anterior. O lucro por ação ajustado foi de US$ 2,33, superando as previsões de analistas, enquanto o lucro líquido chegou a US$ 2,13 bilhões, acima dos US$ 1,8 bilhão registrados no ano anterior.
Mas o maior destaque veio do setor automotivo, que apresentou um salto impressionante de 87% nas receitas, impulsionado pelo sucesso da plataforma Snapdragon Digital Chassis, outro produto líder do setor. "Estamos expandindo para novas áreas e vamos além", afirmou Amon, ao mencionar o crescimento em novas áreas como automóveis conectados e Internet das Coisas (IoT). Mesmo com uma contração de 11% no segmento de IoT, que fechou em US$ 1,24 bilhão, o segmento de chips para smartphones (handsets), com receita de US$ 6,18 bilhões, manteve-se como um dos principais pilares da companhia, crescendo 1% em relação ao ano anterior.
Durante o evento, Amon enfatizou a transformação da Qualcomm nos últimos anos, que passou de uma empresa focada em tecnologia sem fio para uma companhia de computação conectada, agora líder em inteligência artificial e processamento de dados móveis.
A evolução do Snapdragon foi central no discurso do CEO. Originalmente criada como uma plataforma premium para smartphones, a tecnologia agora domina definitivamente setores como automotivo e PCs. O Snapdragon Digital Chassis, por exemplo, é a solução líder para carros conectados, enquanto o Snapdragon X Elite já se estabeleceu como o mais avançado no mercado de PCs, colocando a Qualcomm à frente de concorrentes tradicionais como a Intel.
Outro ponto forte foi o papel central da inteligência artificial na estratégia da Qualcomm. A empresa foi uma das primeiras a introduzir a NPU (Unidade de Processamento Neural) e agora expande suas capacidades com a IA generativa (Gen AI). "Os computadores agora entendem a linguagem humana de maneira natural, o que muda completamente a experiência de uso", destacou Amon, sinalizando um futuro onde a interação entre humanos e máquinas será muito mais fluida e intuitiva.
Essa visão inclui a transformação de tarefas cotidianas, como o uso de aplicativos bancários, que poderão ser simplificados com a IA. "Em vez de navegar por menus, os usuários poderão perguntar ao aplicativo sobre suas últimas transações, e ele responderá diretamente". Em outro exemplo, se o pedido for para uma função que não foi pensada ou desenvolvida pelo banco, a IA poderá criar o recurso para o usuário em poucos segundos. "A missão é mediar tudo o que acontece entre o dispositivo e o ser humano. É lá que o Snapdragon vai estar”.
O repórter viajou a convite da Qualcomm.